De cada 10 mortes por Covid-19 registradas em Alagoas, nos dois primeiros meses deste ano, oito foram de pacientes com 60 anos ou mais. Foram registrados 291 óbitos no estado, sendo 239 de pessoas nessa faixa etária, ou seja, 82% do total. Os dados constam no Painel interativo da Covid-19, elaborado pela Secretaria de Estado do Planejamento, Gestão e Patrimônio. Os números são referentes até o último dia 27 de fevereiro.
Os dados mostram ainda que a maioria dos óbitos são de pessoas com 80 anos ou mais. Foram 128 óbitos nessa faixa etária, o que representa 44% do total. A partir dos 20 anos, o número de mortes cresce à medida que a idade também aumenta. Nesses dois meses, apenas uma pessoa com idade entre 20 e 29 anos morreu em decorrência do vírus.
Entre as cidades que lideram os falecimentos nesses primeiros dois meses de 2022, Maceió lidera com 158 mortes, seguida por União dos Palmares, com 13, e, em terceiro lugar, com sete mortes, estão empatadas as cidades de Arapiraca, Campo Alegre, Delmiro Gouveia e São Miguel dos Campos.
No caso de União dos Palmares, todos os 13 óbitos registrados nesse período foram de idosos, sendo um com idade entre 60 e 69 anos, seis de pessoas entre 70 e 79 anos e seis com 80 anos ou mais.
Necessidade de reforço
Levantamentos feitos em dois dos maiores hospitais de referência para o tratamento da covid-19 no País (Emílio Ribas, em São Paulo, e Ronaldo Gazolla, no Rio) revelaram que no início de fevereiro, de 70% a 90% dos mortos pela doença eram pessoas não vacinadas ou com o esquema de vacinação incompleto. No fim de fevereiro, porém, esse porcentual caiu para aproximadamente 50%, revelando nova mudança no perfil das vítimas. Na outra metade, a maioria são idosos que tomaram a terceira dose em novembro.
"Nas primeiras três semanas da disseminação da Ômicron, (praticamente) 100% dos mortos eram não vacinados, com o esquema vacinal incompleto ou imunossuprimidos (transplantados, pacientes de câncer, entre outros)", afirma o infectologista Alexandre Naime Barbosa, da Faculdade de Medicina da Unesp, em Botucatu. "Agora, esse grupo representa 50% dos mortos, os outros 50% são idosos já com as três doses; a diferença é que eles tomaram essa 3ª dose há mais de três meses e a imunidade deles começou a cair." Botucatu, no interior paulista, também já iniciou a aplicação da 4ª injeção entre os mais velhos.
No fim de 2021, o surgimento da variante Ômicron do coronavírus, mais transmissível, favoreceu a rápida disseminação da nova cepa no Brasil a partir de janeiro deste ano, o que marcou uma terceira onda da pandemia no Brasil, segundo especialistas.
"As vacinas foram desenvolvidas para o Sars-CoV2 de antes das mutações, e apresentavam proteção alta, acima de 80% para infecções leves e acima de 90% para infecções graves e óbitos", diz a infectologista Ethel Maciel, da Universidade Federal do Espírito Santo (UFES). "Com o surgimento das novas variantes, sobretudo da Ômicron, houve redução significativa da proteção para os casos mais leves, ainda que ela tenha se mantido acima dos 80% para casos graves e mortes."
Agora, um dos grandes desafios da imunização contra a covid-19, segundo especialistas, é a menor eficácia da vacina justamente na parcela mais velha da população. Por causa do fenômeno conhecido como imunosenescência, os maiores de 70 anos são menos protegidos pelos imunizantes do que a população em geral. E essa proteção tende a cair ainda mais depois de quatro a cinco meses da vacinação completa.
O mesmo fenômeno ocorre em indivíduos submetidos à quimioterapia para câncer, medicações imunossupressoras, portadores de imunodeficiências, pessoas vivendo com HIV, uso crônico de altas doses de corticoide.
Para o pesquisador Raphael Guimarães, do Observatório Covid-19/Fiocruz, o pico da Ômicron já ficou para trás, com a redução dos números de novos casos e mortes nos últimos dias. Nos próximos 30 dias, o Brasil atravessa o que os pesquisadores chamam de "janela de oportunidade" para otimizar o combate ao vírus, porque a grande maioria da população estará imunizada, seja por conta da vacinação ou por infecção recente pela nova cepa
"Se conseguirmos alavancar a vacinação, vamos reunir um conjunto tão grande de pessoas imunes que é possível pensar em bloquear a circulação do vírus, diminuindo os casos e óbitos", explica Guimarães. O cenário favorável, entretanto, não permite ainda que as medidas de restrição possam ser flexibilizadas, nem autoriza eventos de aglomeração. "É hora de intensificar as medidas de restrição para que o vírus não consiga se espalhar."
Fonte: Gazeta Web
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