No ano passado foram vendidas 2,4 milhões de caixas e frascos de remédios controlados nas farmácias de Alagoas. O medicamento mais comprado foi o sedativo Clonazepam, que tem o nome comercial de Rivotril. Ao todo, os alagoanos compraram 209 mil caixas e 14 mil frascos do remédio em 2020, o que representa quase 10% de todas as vendas do período.
Os dados, analisados pela Agência Tatu, foram obtidos a partir de informações do Sistema Nacional de Gerenciamento de Produtos Controlados, que pertence à Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa).
Além do Rivotril, outros medicamentos psiquiátricos encabeçam a lista, com exceção da Azitromicina, que tem sido utilizada no tratamento da Covid-19 e se tornou o segundo remédio controlado mais vendido de 2020.
A AZITROMICINA
De acordo com o psiquiatra Carlos Eduardo Santana, a posição da Azitromicina em segundo lugar na lista de mais vendidos é reflexo da pandemia do novo coronavírus. O médico é crítico do uso precoce de medicamentos que não possuem comprovação científica para o tratamento da Covid-19.
“Tem sido proposto um tratamento precoce contra essa doença, e um dos itens da ‘receitinha de bolo’ de muitos médicos é prescrever Azitromicina. Nos primeiros meses de 2020 ela não foi tão vendida, tendo um aumento muito grande, um boom de vendas, com o início da pandemia. À parte disso, todas as cinco primeiras drogas são medicações psiquiátricas”, diz.
O RIVOTRIL
Para Carlos Eduardo há um aumento da demanda em saúde mental e as pessoas estão usando mais medicações. Ao mesmo tempo, o especialista enxerga um problema no uso crônico de remédios com grande potencial de dependência química.
“A classe dos benzodiazepínicos, que o clonazepam faz parte, são medicamentos conhecidos como hipnóticos sedativos. Eles são utilizados principalmente para induzir sono e diminuir sintomas de ansiedade. A questão é que essas medicações deveriam ter um uso mais pontual, por curtos períodos de tempo. O que acontece muito é que há muitas pessoas utilizando essa medicação ao longo de décadas, e essa é uma medicação com grande potencial de dependência química”, alerta.
Para o psiquiatra isso evidencia um problema do nosso sistema de saúde, que não dá conta de atender da melhor maneira a saúde mental da população.
“No setor público muitas vezes a consulta é curta, pois são muitos pacientes que precisam ser atendidos, o que leva médicos a prescrever esse tipo de medicação ao menor sintoma de ansiedade ou falta de sono, sem investigar realmente quais seriam as causas desses transtornos. Eles aliviam sintomas, mas não tratam os transtornos a longo prazo. É preciso fazer um uso curto, de apenas alguns meses”, afirma.
O médico destaca que esses medicamentos são importantes, mas precisam ser utilizados de modo mais racional.
“Remédios da classe do Rivotril têm uma ação mais rápida do que outras medicações. Não é que não deveria ser usado, mas deveria ser utilizado mais racionalmente. Quando as pessoas fazem uso por muito tempo dessa medicação acabam precisando de doses maiores e a retirada é muito mais difícil”, conclui.
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