Um único doador de órgãos pode salvar mais de oito vidas, mas, essa realidade ainda não atingiu seu maior potencial, porque a recusa familiar para a doação de órgãos ainda é alta. No Brasil, em 2020, 43% das famílias se recusaram a doar órgãos de seus parentes falecidos após morte encefálica comprovada. Em Alagoas, esse número é de 40%. Além disso, de acordo com dados da Associação Brasileira de Transplante de Órgãos (ABTO), em decorrência da pandemia, o número de doadores caiu 26% no país, em 2021.
Assim, com o intuito de reverter essa situação e de conscientizar a população sobre a importância da doação de órgãos, a Secretaria de Estado da Saúde (Sesau) promove a Campanha do Setembro Verde. A ação, que irá contar com lives, cursos, debates e ações educativas, vai ocorrer de 9 até 27 deste mês.
As atividades da programação são voltadas para médicos, profissionais das Comissões Intra Hospitalares de Doação de Órgãos e Tecidos para Transplantes (CIHDOTTS) e população em geral, que terão a oportunidade de aprender e debater temas sobre diagnóstico de morte encefálica, enucleação de córneas, importância da doação de órgãos e entrevista familiar para a doação de córneas.
A ABTO possui ainda uma meta anual de números de doadores Por Milhão de População (PMP). Em 2019 a meta era de 5 doadores PMP e o número alcançado foi de 4,8. Já em 2020, a meta era de 6,5 doadores PMP, mas o número alcançado foi de apenas 0,3 PMP.
A coordenadora da Central de Transplantes de Alagoas, Daniela Ramos, explica a recusa familiar. “Um dos maiores motivos de recusa no estado é o desconhecimento do desejo do doador ainda em vida, da integridade do corpo após a retirada dos órgãos e motivos religiosos”. Segundo Daniela, a comunicação à família sobre o desejo de ser doador é um ato que pode salvar vidas. “A cirurgia de retirada dos órgãos é uma cirurgia como outra qualquer e não mexe com a integridade do corpo e nenhuma religião proíbe a doação e nem o transplante de órgãos”, afirma a coordenadora.
Com relação à pandemia causada pelo novo coronavirus, Daniela Ramos esclarece que se o potencial doador estiver positivo para a Covid-19, a doação de órgãos é contraindicada. “Além disso, essa redução se deu por várias situações, tais como orientação do próprio Ministério da Saúde em suspender busca ativa e transplante de córneas, suspensão das cirurgias eletivas no estado, falta de leitos nos hospitais e adoecimento dos profissionais de saúde”.
Importante ressaltar que, no Brasil, anualmente, em média, 12 mil pessoas apresentam morte cerebral, um dos critérios para a doação de órgãos. Desse número, aproximadamente 6 mil pessoas poderiam ser doadoras de órgãos. Por outro lado, em média 23.800 pessoas têm a necessidade de receber um transplante a cada ano. Portanto, a chance de que alguém seja doador de órgãos é quatro vezes menor do que a chance de que venha a precisar de um transplante.
O doador vivo pode doar um rim, medula óssea (que pode ser feita até por crianças e mulheres grávidas, por não acarretar nenhum risco ao doador), parte do fígado (em torno de 70%), parte do pulmão (em situações excepcionais) e parte do pâncreas. Já um único doador falecido pode doar coração, pulmão, fígado, rins, pâncreas, córneas, intestino, pele, ossos e válvulas cardíacas.
O estado de Alagoas realiza os transplantes de córnea, rim, coração e fígado. E o primeiro transplante de fígado do Estado foi realizado em maio deste ano. Quem recebeu a doação foi Jorge Ricardo Queiroz de Andrade, de 57 anos, vítima de cirrose, em decorrência de uma hepatite. Jorge Ricardo se encontra em casa se recuperando da cirurgia junto com a esposa e as quatro filhas desde julho.
Balanço – Conforme dados da Central de Transplantes de Alagoas, o Estado realizou 41 transplantes este ano, sendo 39 de córnea e dois de fígado. Com relação à fila de espera, atualmente há 324 alagoanos aguardando por um transplante de córnea, 121 por um de rim, três por um novo coração e um por um fígado.
Os órgãos são transplantados nos primeiros pacientes compatíveis, que estão aguardando em uma lista única da Central de Transplantes de cada estado. A lista é controlada pelo Sistema Nacional de Transplantes (SNT) e supervisionado pelo Ministério Público (MP).
Orientações sobre transplante de órgãos
– No Brasil, para ser um potencial doador de órgãos, basta comunicar a família sobre o desejo, não sendo mais obrigatório deixar isso registrado na Carteira de Identidade.
– Para ser realizado o transplante de órgãos, além da autorização familiar, precisa ser constatada a morte encefálica do doador, que é a parada irreversível da função do encéfalo, ou seja, é quando o cérebro para de funcionar. A morte cerebral permite a doação de órgãos e tecidos, mas a morte cardíaca, só a doação de tecidos.
– Qualquer pessoa pode ser doadora, exceto os portadores de doenças infecciosas ativas ou de câncer. E a doação não desfigura o corpo do doador.
– Para doadores vivos, o doador deve ter mais de 18 anos de idade e o receptor deve ser cônjuge ou parente consanguíneo até quarto grau (pais, filhos, irmãos, avós, tios ou primos). Se não houver parentesco, será preciso autorização judicial.
– A doação de órgãos e tecidos não acarreta nenhum custo ou ganho material à família do doador nem do receptor.
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