O II Festival Nacional de Poetas e Repentistas em Arapiraca, que acontece na quinta-feira (16), terá uma dupla feminina em sua programação, um diferencial para o gênero que é tão representatividade para a cultura nordestina raiz. O evento é realizado pela Prefeitura de Arapiraca, por meio da Secretaria Municipal de Cultura, Lazer e Juventude, e reunirá poetas e repentistas de todo o nordeste na Praça Higino Vital, na Canafístula, a partir das 20h30.
A dupla que se apresentará é composta por Santinha Maurício e Maria da Soledade. Além delas, também se apresentarão no evento: Ivanildo Vila Nova e Gilberto Alves, Felipe Pereira e Hipólito Moura, Raimundo Caetano e Helânio Moreira, Rogério Meneses e João Lídio, Zé Viola e André Santos, Sebastião Dias e Luciano Leonel, Max Rocha e Pedro Lavandeira e Cícero Souza e Luiz do Nascimento.
A secretária municipal de Cultura, Lazer e Juventude, Marília Albuquerque, diz que o evento é fruto de um olhar especial dado pelo prefeito Luciano Barbosa, um grande apoiador desse movimento artístico que é tão simbólico para a cultura nordestina. “Nossa cidade se destaca em trazer esses artistas que mantém viva essa manifestação”, declarou.
Lugar de Santinha é no Repente
Santinha Maurício é o nome artístico de Josefa Maria da Silva, pernambucana natural de Cumaru, pequeno município do interior do estado. Santinha Maurício tem no repente uma mistura de dom, inspiração e trabalho que a acompanha desde criança, e que chegou até ela por meio das ondas do rádio, quando ouvia os cantadores através das estações da época, nos tempos de Lourival Batista e Otacílio Batista. “Descobri que amava a poesia assistindo aos cantadores. Fui aprendendo o que era a poesia e a gostar de repente e da cantoria”, conta.
Começou a cantar na cidade de Abreu e Lima poucos após os 18 anos, e teve na irmã e outras artistas da época – em que havia mais representação feminina que hoje, segundo ela -, uma grande inspiração. Aos 74 anos, Santinha viu durante suas décadas de vivência no repente, diversas mulheres entrarem e saírem da profissão, e diz que até hoje ainda é difícil estar em um meio majoritariamente ocupado por homens.
“Foi difícil esse início, e até hoje ainda é. Existem mais de mil homens cantadores, e mulheres não têm nem 50. Uns aceitam, outros não querem aceitar, e aí fica difícil, mas a mulher que tem coragem de seguir esse desafio, enfrentar. A gente enfrentou e ainda enfrenta. Outras deixaram de cantar porque o marido não deixava, e elas preferiram atender o marido do que a profissão. Quem quer, continua. Eu nunca tive barreiras com meu marido sobre isso, convivi com o marido e com a profissão […] Temos que mostrar aos homens que em nossa arte, tivemos a coragem de enfrentar eles”, afirma ela.
Ainda segundo ela, muitas mulheres tem o dom, mas não querem ser repentistas por medo. “É uma profissão muito espinhosa. Temos poucas repentistas, pouca evolução”, ressalta, e por isso diz admirar todas as mulheres da profissão e cita nomes como Mocinha de Passira, Lucinha Saraiva, Fabiana Ribeiro, Maria da Soledade, como grandes artistas do repente nordestino.
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