A perspectiva passa a ser outra, quando atividades e exemplos mostram que há novos horizontes na vida, muito além do fundo da garrafa com bebida alcoólica. As rodas de conversa promovidas por integrantes do grupo Alcoólicos Anônimos (AA), a convite do projeto Preparando a Volta para Casa, realizado no Hospital de Emergência do Agreste (HEA), em Arapiraca, tem proporcionado alívio e esperança nas Alas de Trauma da unidade hospitalar, onde há pacientes que se acidentaram devido à ingestão de álcool.
Os encontros começaram a acontecer neste mês de junho e já conseguiram trazer à tona descobertas interessantes para os pacientes e acompanhantes. De acordo com a coordenadora do Projeto Preparando a Volta para Casa, psicóloga Mônica Leal, a maior parte dos acidentes de trânsito, são registrados com envolvimento de bebida alcoólica. E este ingrediente ainda está presente em outros casos de atendimento a pacientes no HEA, como violência doméstica.
Por isso, de maneira inédita em Alagoas, uma unidade hospitalar abriu as portas para grupos como o AA e também o Amor Exigente, visando atender uma demanda que se espremia entre dados de acidentes graves, sequelas permanentes e mortes. “Com a participação do AA e do Amor Exigente, estamos conseguindo aliviar tantas dores emocionais e mostrar as possibilidades de uma nova vida para pacientes, dependentes de bebida alcoólica, e para os familiares que também sofriam muito”, salientou Mônica.
Cair na real – A mistura de direção e álcool é prevista como crime na legislação de trânsito. Mas, as conversas fazem cada um refletir que o problema vai além de parágrafos do Código de Trânsito Brasileiro: É se colocar em risco e colocar outras pessoas na mira de uma moto ou de outro veículo, dirigido por alguém embriagado. É provocar uma série de transtornos e angústia nos familiares e amigos, que também se tornam vítimas da dependência ou da falta de freio de uma pessoa alcoolizada no trânsito ou descontrolada em casa.
Quando integrantes do AA comentam sobre como era a vida ingerindo bebida alcoólica em comparação a nova vida, conseguindo superar os vícios, provocam nos pacientes e nos acompanhantes uma nova visão a respeito de futuro. Os depoimentos dos pacientes são carregados de vergonha. Admitir a dependência também é doloroso. Porém, são passos importantes para a resolução do problema.
“Eu estava alcoolizado quando sofri o acidente. A vinda do AA pro Hospital foi um aprendizado. Se Deus quiser eu vou atrás do AA para ouvir mais e atender mais os ensinamentos”, disse um paciente de 37 anos, internado por queda de moto.
“Gostei muito destas conversas com o pessoal do AA. Quando sair daqui quero conhecer melhor. Preciso parar de beber”, disse outro paciente que sofreu acidente de trânsito.
Amor Exigente – A esposa dele ressaltou que sofre demais pelas atitudes do marido. Ela relatou que fica angustiada quando ele ingere bebida alcoólica e sai de moto, correndo risco e colocando a vida de outras pessoas em risco também. “Ele decidiu que, quando sair daqui do hospital vai para o AA. E eu vou para o Amor Exigente, para aprender a lidar com a dependência dele e como será a rotina após ele largar a bebida. Precisamos estar preparados”, disse.
O Amor Exigente é formado por profissionais liberais que realizam reuniões com palestras voltadas principalmente para familiares de quem tem dependência química. Conversas, desabafos, alinhados para o bem-estar da família diante do caos provocado pela dependência.
“Preciso ajudar meu amigo a largar a bebida. Não dá mais. Ficamos todos preocupados. Família e amigos estão todos unidos para mostrar pra ele o quanto a vida pode ser maravilhosa longe da cachaça. A diversão pode virar uma tragédia num piscar de olhos e não queremos isso pra ninguém. Quando ele largar a bebida, significa que todos vamos largar também. Será uma nova vida para todos”, desabafou o amigo de um paciente vítima de acidente de moto.
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