A vida do alemão Michael Schumacher, um dos maiores pilotos de Fórmula 1 de todos os tempos, daria uma bela ópera. Nessa história, sucesso e tragédia se entrelaçam como em uma trama de Goethe: o protagonista, esse Fausto da velocidade, venceu todos os desafios e quebrou todos os recordes que um ser humano poderia almejar. O destino, no entanto, não lhe reservou um final à altura de seu enredo: desde 2013, o homem que rasgava as pistas a mais de 300km/h está imobilizado, em casa, preso a uma cama onde se recupera do acidente que interrompeu sua carreira.
Essa vida extraordinária inspirou o documentário “Schumacher”, que estreia na Netflix em 15 de setembro. Dirigido por Vanessa Nöcker e produzido por Benjamin Seikel, o filme conta a improvável história de um garoto tímido, nascido em uma família simples, dona do restaurante que ficava em uma pista de kart, que se tornou um dos maiores ídolos da história de um esporte conhecido por privilegiar nomes de origens abastadas. Sua sede por vitórias não lhe permitiu seguir outro caminho.
“Schumacher” vai agradar a todos, mas principalmente aos fãs das corridas, pelas cenas históricas de duelos nas pistas e entrevistas com lendas do esporte, entre eles Jean Todt, Bernie Ecclestone, Mika Häkkinen, Damon Hill e Piero Ferrari. Trará saudade também para os admiradores de Ayrton Senna: o brasileiro foi o maior ídolo do colega alemão, mas também seu grande adversário. Basta lembrar que Schumacher venceu o GP de San Marino, em 1994, prova em que Senna sofreu o acidente fatal. O brasileiro, tricampeão da categoria, sofria a pressão do então jovem alemão, cada vez mais competitivo. Sem Senna em seu caminho, Schumacher imprimiu sua superioridade e sagrou-se sete vezes campeão — de 2000 a 2004, com sua lendária Ferrari, venceu cinco campeonatos seguidos.
Autorizado pela família, o documentário traz entrevistas com a esposa, Corinna, e os filhos, Gina e Mick — que segue a carreira do pai e estreou esse ano na F-1. Schumacher é apresentado como um homem reservado e divertido, mas também capaz de arroubos impulsivos. Em 2018, no GP da Bélgica, teve de ser contido por sua equipe após partir para cima de David Coulthard após um acidente: “Você quer me matar?”, esbravejava, furioso.
Segundo a diretora Vanessa Nöcker, selecionar cenas surpreendentes de um personagem tão conhecido do público foi o maior desafio: “Abusamos do esforço e da paciência para editar imagens de milhões de câmeras e trazer uma perspectiva nova para o público”. Já o produtor Benjamin Seikel ressaltou o nível de detalhe da pesquisa técnica. “Tivemos uma preocupação especial com o som. Há fãs que conseguem distinguir os sons dos motores da Ferrari, de um ano para outro”, afirma. Isso explica a longa produção: o filme demorou três anos e meio para ficar pronto.
O documentário revela a obsessão de Shumacher pela perfeição e controle desde a infância, quando o piloto já disputava provas de kart. Como não tinha dinheiro, pegava os pneus gastos do lixo e usava em seu carro — e vencia, mesmo com equipamento inferior. Após ganhar a Fórmula 3 na Alemanha, foi convidado pela Jordan para substituir um piloto belga que havia se metido em confusão. Apesar de disputar a corrida por uma equipe pequena, Schumacher ficou com o sétimo melhor tempo. Foi contratado por Flavio Briatore, da Benetton, em 1991. Três anos depois, venceria a McLaren, Ferrari e Williams para se tornar bicampeão do mundo.
Apesar de estar acostumado a praticar esportes radicais, como o paraquedismo, foi o esqui, atividade na qual também era um expert, que lhe trouxe a tragédia. De férias em um resort na França, bateu a cabeça em uma pedra e entrou em coma. Um final inesperado para um homem obstinado por controlar tudo a sua volta.
Fonte: Istoé
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