O trabalho investigativo da Delegacia de Homicídios e Proteção à Pessoa (DHPP), atendendo a solicitação da Delegacia Geral, e as perícias criminais realizadas pelo Instituto de Criminalística de Maceió conseguiram desvendar uma série de assassinatos ligados a um único criminoso. O homem, que residia a cerca de 800 metros dos locais dos crimes, é agora considerado o maior serial killer da história do estado, com um total de 10 vítimas confirmadas até o momento: sete mulheres e três homens.
A investigação da conexão entre todos os crimes teve início após o assassinato da última vítima, a adolescente Ana Beatriz, de 13 anos, perseguida e atingida por disparos de arma de fogo ao sair de uma arena de esportes. Ela chegou a ser socorrida, mas morreu no Hospital Geral do Estado.
Imagens do assassino, capturadas por câmeras de segurança e divulgadas na imprensa local, ajudaram a identificar Albino Santos de Lima, de 42 anos, que acabou preso após mandado de prisão expedido pela Justiça. Durante a operação, no dia 17 de setembro deste ano, foram apreendidas uma pistola calibre 380 e um celular, peças que se revelaram cruciais para desvendar os casos.
O delegado Gilson Rego explicou que, com a prisão desse homem, as equipes da DHPP conseguiram fazer as conexões com outros assassinatos ocorridos na mesma região e com características semelhantes, como o calibre das munições da arma usada nos homicídios. O modus operandi do assassino revelava um padrão de comportamento nos crimes, sempre cometidos em um raio tão restrito ao redor da casa dele.
“Como nessas imagens, ele sempre agia do mesmo jeito, a maiorias das vezes à noite, usando roupas pretas e boné para esconder o rosto. Ele é um predador, um assassino em série, muito frio e calculista”, afirmou o delegado.
Para montar esse grande quebra-cabeça, a DHPP enviou a arma e o celular apreendidos para o Instituto de Criminalística de Maceió, para uma série de perícias. Foi através dos exames de balística, realizados pela perita criminal Suely Mauricio, e um minucioso trabalho de cruzamento de informações, que as equipes conseguiram confirmar a ligação entre a arma apreendida e os 10 casos de homicídio.
“Foi um trabalho de equipe, desde a coleta dos projéteis e estojos nos locais de crime periciados, a remoção de projéteis nos corpos das vítimas, no IML, e a apreensão da arma para produção dos padrões, que permitiram a realização dos exames de microcomparação balística, possibilitando identificar, caso a caso, que aquela arma apreendida foi a mesma utilizada nos crimes”, explicou Suely Mauricio.
Outra pericia importante para definir o caso como o de um matador em série foi um exame realizado no aparelho celular do acusado. A partir das informações obtidas, partiu-se para um exame em dados armazenados em nuvem, onde foram encontrados vestígios relacionados a vários homicídios, incluindo o da menor Ana Beatriz, objetivo inicial dos exames e que originou o laudo pericial contendo 105 páginas.
“Nele conseguimos extrair várias informações de extrema importância para as investigações. Os registros foram encontrados em duas pastas: Odiada Instagram e Mortes especiais. Fotos e nomes de vítimas de homicídio eram colocados junto de um calendário com a data do fato marcada. Ele também tirava prints de matérias de sites relacionadas aos crimes e chegou a tirar fotos dentro do cemitério e da lápide, provavelmente de uma das vítimas. Havia também registros de homicídios ocorridos entre 2019 e 2020, que devem ser alvos de análise pela Polícia Civil”, explicou o perito criminal José de Farias, responsável pelo exame.
Em um novo depoimento, na última semana, na presença do seu advogado, Albino Santos assumiu a autoria de oito dos crimes, e afirmou que matou as vítimas porque elas supostamente estariam envolvidas com organizações criminosas. Mas as investigações nada apontam nessa linha de motivação.
“Nenhuma delas tem envolvimento com facção criminosa. Identificamos 10 vítimas, três delas eram do sexo masculino e sete mulheres, todas com o perfil muito semelhante, morenas, jovens, geralmente de cabelo cacheado, e dentre elas tinha uma mulher trans também com esse mesmo perfil físico”, explicou Gilson Rego.
A coordenadora da DHPP, delegada Tacyane Ribeiro, disse que as investigações apontam que o criminoso teria alguma obsessão por essas jovens com características físicas semelhantes. A delegada também alertou que, no último depoimento, ele confessou que fez todos os levantamentos nas redes sociais das vitimas, na internet.
“Serve de alerta para as pessoas terem mais cuidado ao mostrar sua vida em rede social, pois ninguém sabe quem está ali observando. Ele não demonstra nenhum tipo de arrependimento pelo cometimento desses homicídios” afirmou a delegada, confirmando que outros inquéritos de crimes ocorridos entre 2019 e 2020, também apontam uma forte probabilidade de envolvimento do mesmo assassino, e estão sendo analisados.
O chefe do Instituto de Criminalística de Maceió destacou que o exame no celular também identificou pastas com imagens de sobreviventes e de possíveis futuras vítimas do serial kille. Ou seja, o trabalho das polícias Civil e Cientifica não só garantiu a identificação do criminoso, como também evitou novos crimes.
“Esse caso também evidencia a importância da integração entre as forças de segurança, com destaque para a Delegacia de Homicídios e o Instituto de Criminalística, que demonstraram uma atuação exemplar na resolução deste que é, até agora, o mais grave caso de homicídios em série na história recente de Maceió.” Afirmou Charles Mariano.
O perfil balístico da arma usada por Albino e que pertencia ao pai dele, um militar da reserva, será armazenado no Banco Nacional de Perfis Balísticos do Ministério da Justiça (BNPB), que permite fazer conexões interestaduais de crimes. Albino Santos permanece preso e já foi indiciado em três inquéritos policiais por crimes de homicídio qualificado.
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