A alagoana Laiane Dias, de 26 anos, denunciou à polícia o motorista da van escolar da creche onde deixava sua filha, após o homem manipular a criança, que tem 7 anos, para que a menina fizesse fotos e vídeos da mãe despida e enviasse para ele. O caso aconteceu em Maceió, no bairro Ouro Preto, onde também está localizada a unidade escolar infantil, que é administrada pela esposa do suspeito.
“Como mãe, a gente tem que confiar nas creches. A gente confia para poder trabalhar e viver. Aí vai e acontece um negócio desses. Eu estou em choque e com muito medo”, revelou à reportagem.
O pesadelo da mãe começou na última quinta-feira (23), quando Laiane resolveu revisar o celular da menina. Para ela, crianças não deveriam ter celular, mas ela permite que sua filha utilize o aparelho para que possa se comunicar com a mãe, que trabalha durante o dia e estuda à noite.
“Eu sempre reviso o celular dela. Às vezes, o cansaço não nos permite fazer isso, o que é triste. Mas, nessa quinta-feira, quando abri o WhatsApp, tinha uma mensagem dele dizendo ‘ela é muito linda’. Eu tive até medo de abrir a mensagem. Quando abri a conversa, ela tinha apagado um vídeo, porque ele mandou ela apagar”, narra.
“Eu a interroguei. Perguntei, você mandou foto de quê? E ela, prontamente, mentiu pra mim, disse que tinha mandado foto de uma amiguinha. Eu perguntei a razão de ele ter mandado apagar. Ela disse que apagou por causa da memória do celular. Comecei a pressionar até ela admitir e dizer que mandou fotos minhas”, continua Laiane.
O motorista manipulou a criança prometendo um “presente incrível”. Mas ela só ganharia o presente se conseguisse fazer fotos e vídeos da mãe. A maneira que a menina deveria fotografar e gravar foi orientada pelo suspeito, que, além de dirigir a van escolar, é fotógrafo.
“Minha filha admitiu, disse que estava com muito medo. Contou que o ‘tio Val’ gostava muito dela e disse que daria um presente se ela mandasse as imagens. Ela enviou dois vídeos meus, um saindo do banho, totalmente despida, e outro em que eu estava de calcinha, procurando alguma coisa no guarda-roupa”, conta.
Outros casos
Após Laiane expor a situação nas redes sociais, outras mães e até vizinhas da creche do Ouro Preto apareceram com mais histórias envolvendo o suspeito e outras crianças. Além de situações constrangedoras, usuários do Instagram descobriram comentários do suspeito em fotos de meninas adolescentes.
“Meu filhinho estudou lá. Ele tinha 2 anos e 6 meses. Tirei quando ele disse que o ‘tio’ baixou as calças do coleguinha até o joelho na frente de outras crianças. Ele me falou e nunca mais deixei meu filho voltar naquele lugar”, relatou uma outra mãe, que prefere não ser identificada.
“Infelizmente, não é a primeira vez que sabemos dessa história de abusos com crianças com esse nojento. Desde o momento que ele chegou aqui que, pouco tempo depois, começaram os comentários. Ali era cheio de crianças e hoje praticamente não tem nem metade do que era. Muitos pais já tiraram. E a esposa dele sabe e nunca fez nada”, revela outra mãe.
A mãe denunciou o motorista da van escolar na Divisão Especial da Criança e do Adolescente, da Polícia Civil de Alagoas (PC-AL). Por não haver flagrante, o suspeito não foi detido e será investigado, inicialmente, por corrupção de menores. Enquanto isso, Laiane diz não conseguir sequer sair de casa.
“Eu não consigo dormir desde quinta-feira. Eu sou mulher, sou vulnerável, não sei do que ele é capaz. Estou expondo porque eu quero que aquela creche feche. Essa é a minha vontade. Isso não pode acontecer com mais ninguém. Mas eu tô com muito medo. É praticamente do lado da minha casa, ele sabe toda a minha rotina, sabe a hora que eu saio, a hora que eu chego, ele acompanhava a minha rotina. Eu só quero a justiça. Quero que a creche seja fechada. Recebei muitos relatos de pessoas que não querem se expor, mas tô aqui com prints, com vários outros relatos”, conta.
“Durante esse tempo que ele vai ser investigado, como eu fico? Como as outras crianças ficam com aquela creche funcionando? O que ele vai fazer com elas? O que ele vai fazer comigo? E as imagens que ele baixou, o que ele está fazendo com elas? Ele se considera fotógrafo. Será que ele não vende esse tipo de imagem? Tudo passa pela minha cabeça”, continua Laiane.
“Eu tô em choque, tô abismada, com medo e sem dormir desde o ocorrido. Eu só quero justiça, só isso. Quero que me ajudem para que isso acabe. Fui até a creche, conversei com a esposa dele. Não sei se ela é totalmente alienada ou conivente com a situação, mas ela olhou pra mim e disse que tudo era um mal entendido. Me pediu pra entrar dentro da casa deles, com ele lá dentro. Eu estou com raiva, repúdio, em choque. Eu nem acredito que isso aconteceu comigo. A gente só sabe quando passa, quando acontece”, finaliza Laiane.
Procurada pela reportagem, a Polícia Civil de Alagoas informou que o caso está sob investigação. O relato da vítima e de outras testemunhas foram colhidos pela polícia.
Confira nota da Polícia Civil de Alagoas na íntegra
A Polícia Civil de Alagoas informa que tomou conhecimento das publicações feitas em rede social por uma mulher vítima do crime de PRODUZIR, FOTOGRAFAR, FILMAR POR QUALQUER MEIO, CENA DE NUDEZ OU ATO SEXUAL DE CARÁTER ÍNTIMO E PRIVADO SEM AUTORIZAÇÃO DOS PARTICIPANTES (ART. 216-B DO CPB), caso que se encontra sob investigação na Delegacia Especial dos Crimes Contra Crianças e Adolescentes da Capital, e informa que o inquérito policial para apurar o caso foi instaurado no mesmo dia em que a denúncia foi feita.
O fato chegou ao conhecimento da autoridade policial plantonista no último dia 23/11/2023, por volta das 23h, na Central de Flagrantes, que tão logo colheu a notícia do fato e fez o registro do Boletim de Ocorrência.
No dia seguinte, 24/11/2023, a Delegacia Especial dos Crimes Contra Crianças e Adolescentes da Capital recebeu o registro, abriu inquérito policial, coletou o depoimento da vítima e de outras testemunhas; recolheu o material audiovisual apresentado e deu o imediato andamento ao procedimento policial.
A Lei estabelece o prazo de 30 (trinta) dias para a conclusão do inquérito policial, nos casos em que não houver prisão em flagrante do autor do fato, entretanto a Delegada de Polícia titular da unidade, ante a gravidade dos fatos, adotará as providências necessárias perante o Judiciário, respeitados o direito ao contraditório e ampla defesa do(s) investigado(s), requerendo, na mesma ocasião, as medidas judiciais cabíveis para os casos desta natureza.
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