A Mobilização Nacional dos Médicos e Psicólogos Especialistas em Trânsito avalia que os recentes acidentes rodoviários com ônibus de turismo, que provocaram dezenas de mortes e mais de uma centena de feridos — ocorridos em Taguaí (SP), João Monlevade (MG) e Guaratuba (PR) —, expõem o risco causado pela flexibilização das regras do Código de Trânsito Brasileiro e de se conferir aos motoristas profissionais o mesmo tratamento conferido aos condutores comuns.
Para o coordenador da entidade e diretor da Ammetra (Associação Mineira de Medicina do Tráfego), Alysson Coimbra, a maior preocupação recai sobre a categoria em virtude da gravidade dos acidentes — sempre com alto nível de letalidade — provocados por veículos de peso e de dimensões cada vez maiores.
"Não garantir a avaliação médica e psicológica de motoristas e candidatos a motoristas somente por peritos examinadores especialistas em tráfego é ignorar alterações graves de saúde que afetam a dirigibilidade e que certamente seriam detectadas precocemente., afirmou o médico.
Alysson Coimbra citou números de uma pesquisa recente, realizada pela Abramet (Associação Brasileira de Medicina de Trânsito), segundo os quais cerca de 283,5 mil acidentes de trânsito registrados em rodovias brasileiras nos últimos anos foram provocados por questões relacionadas à saúde dos motoristas.
Ainda conforme o levantamento da Abramet, 76% dos acidentes foram motivados por falta de atenção ao dirigir, fadiga, estresse, cansaço, deficit de atenção ou comprometimento do raciocínio. Tais condições causaram 62% das mortes e 74% dos ferimentos.
"A ciência, mais uma vez, é ferramenta indispensável na construção de políticas públicas. Ou deveria ser", ponderou o especialista em medicina de trânsito.
O médico lembra que cerca de 80% dos condutores de veículos pesados são autônomos e que a maioria só passa por uma avaliação no momento da renovação da CNH (Carteira Nacional de Habilitação).
"Isso, aliado à rotina estressante, alimentação irregular e privação do sono, pode potencializar a manifestação de diversas doenças que aumentam o risco de graves acidentes", acrescentou. "Se quisermos salvar vidas, o trânsito deve ser encarado como uma questão de saúde pública. Infelizmente, isso está longe de acontecer no Brasil", finalizou Alysson Coimbra.
Fonte: R7
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