26/11/2023 06:52:19
Brasil
De engraxate a milionário: o delegado que quer ser vice-prefeito de SP
Delegado Osvaldo Nico, secretário-executivo da Segurança Pública, foi indicado por Tarcísio para ser vice de prefeito Ricardo Nunes em 2024
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Metrópoles

Nome mais cotado para a vaga de vice na chapa do prefeito Ricardo Nunes (MDB) nas eleições do ano que vem, o delegado Osvaldo Nico Gonçalves, de 66 anos, já não esconde mais que a indicação feita pelo governador Tarcísio de Freitas (Republicanos) ao aliado na capital paulista é um desejo pessoal.

Número 2 da Secretaria da Segurança Pública (SSP) de São Paulo, o secretário-executivo não é filiado a nenhum partido e nunca disputou uma eleição, mas acumulou pontos por ter bom trânsito político e ser um rosto conhecido em uma área considerada sensível para o embate eleitoral em 2024.

“Se o governador Tarcísio quiser, se me derem a missão, eu vou abraçar. Eu quero tentar ajudar São Paulo”, afirma Nico ao Metrópoles. Além da preferência de Tarcísio, o nome do delegado também agrada Nunes.

Conhecido como Doutor Nico, o secretário-executivo da SSP tem uma trajetória de vida que os marqueteiros adoram explorar nas campanhas. Começou a trabalhar aos 12 anos como engraxate na porta do 17º Distrito Policial (Ipiranga), bairro da zona sul da capital onde nasceu e abriu a primeira unidade da sua rede gastronômica, que rendeu a ele um patrimônio declarado de R$ 12 milhões.

Na Polícia Civil há quase 45 anos, Nico já ocupou diversos postos-chave na corporação. Foi negociador do Grupo Especial de Resgate (GER), unidade de elite, chefe da Delegacia Antissequestros e atuou na primeira equipe do Grupo de Operações Especiais (GOE), outro grupamento de elite da Civil.

Nesse percurso, ele virou um nome associado a vários casos de repercussão nacional, como as prisões do guerrilheiro chileno Maurício Hernandez Norambuena, sequestrador do publicitário Washington Olivetto, do médico Roger Abdelmassih, e até de Fabrício Queiroz, o ex-assessor do senador Flávio Bolsonaro (PL-RJ) e amigo do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL).

Além disso, desde o fim dos anos 1990, o delegado fez amizades com apresentadores de TV e virou presença constante nos programas policiais que passam à tarde.

Delegado na política

Nico alcançou o posto de delegado-geral da Polícia Civil na gestão passada, pelas mãos do ex-governador Rodrigo Garcia (PSDB). Com a posse de Tarcísio, ele ascendeu ao cargo de secretário-executivo, o número 2 da pasta, abaixo apenas do secretário Guilherme Derrite.

No Palácio dos Bandeirantes, ele é visto como um nome que tem bom trânsito entre grupos políticos que vão do bolsonarismo à centro-direita tradicional, oriunda do PSDB, que governou São Paulo por 28 anos, mas passando também por setores do centro e até da esquerda. “Sempre trato todo mundo igual e busco ajudar”, diz o delegado, questionado sobre o tema.

A partir de agosto, segundo aliados do governador, Tarcísio se convenceu de que Nunes precisaria de um nome ligado à segurança pública para as eleições – a área seria seu calcanhar de Aquiles, segundo pesquisas internas – e sugeriu Nico ao prefeito, que não fez nenhum embargo à ideia. A sugestão teria ocorrido após uma conversa prévia com o secretário da Segurança Pública, Guilherme Derrite.

Nico confirma a autoria da indicação. Ele ressalta, porém, que ainda não se filiou a nenhum partido nem conversou com presidentes de legendas para tratar do tema.

Da caixa de graxa às algemas

Nico cresceu no Ipiranga, bairro da zona sul da capital. Quando tinha 12 anos, começou a frenquentar a delegacia do bairro, o 17º Distrito Policial (DP), para engraxar sapatos e tentar levar um pouco de dinheiro para casa. Conta que se encantava com a profissão e que, desde aquela época, queria ser policial. Como passar do tempo, conquistou a confiança dos policiais e os trocados passaram a ser para lavar e encerar as viaturas. “Passava pretinho nos pneus”, lembra.

Quando terminou o equivalente na época ao Ensino Médio, prestou concurso para a polícia. Ele passou na seleção para investigador em 1979. A atenção dos jornalistas, segundo Nico conta, ocorreu logo no primeiro caso. Um homem havia atraído dos irmãos para uma fábrica abandonada na Avenida Presidente Wilson e, lá, estuprou e tentou matar os dois. Mas um deles sobreviveu.

“A gente conversou com o menino e ele disse que o cara tinha um boné verde”, conta Nico. Pouco depois, com a viatura andando na rua, o delegado diz que viu um homem de boné verde que, quando avistou a viatura, entrou em uma farmácia.

“Eu falei para parar, mas o pessoal tirou sarro de mim”, conta Nico. Mesmo assim, eles pararam. Quando o farmacêutico lhes disse que o homem só havia entrado na farmácia, sem comprar nada, a piada com o delegado acabou e os colegas embarcaram na desconfiança. O homem foi achado na rua pouco depois e, levado à delegacia, foi reconhecido pelo menino.

Com o caso “rachado”, como se diz no linguajar policial, durante a madrugada, Nico deu sua primeira entrevista, segundo conta. Foi ao jornalista Gil Gomes, um folclórico repórter policial morto em 2018.

Sucesso nos negócios

Em 1992, enquanto galgava cargos na Polícia Civil, Nico e sua mulher, Sandra, montaram uma pizzaria no Ipiranga. “Isso eu não gosto de falar, senão alguém aparece lá na porta perguntando de mim para minha mulher, meus filhos”, desconversa o pré-candidato a vice.

Mas, aos amigos, Nico conta que, naquela época, nos horários de folga da polícia, entregava ele mesmo pizzas pelo bairro – em um fusca rosa, cor das paredes da pizzaria.

O negócio prosperou e a pizza da Sala Vip começou a sair nos rankings de jornal de melhores restaurantes do tipo. Hoje, são seis unidades, na capital, no ABC Paulista e no Guarujá. Além disso, a família tem outros restaurantes, o Nico Pasta e Basta, o Bar do Nico e o Nico Hamburgueria.

Na Junta Comercial de São Paulo, a empresa tem um capital declarado de cerca de R$ 11 milhões, com o delegado constando como um dos sócios. Como ocupa o cargo de secretário-executivo, por força de lei, Nico teve de informar, em abril, qual é seu patrimônio pessoal total à Controladoria-Geral do Estado (CGE). A declaração é pública e pode ser consultada no Diário Oficial: R$ 12,3 milhões.

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