03/03/2021 12:40:10
Brasil
Idosa é acusada de racismo por evitar enfermeiro negro em vacinação em SP
Embora todos tenham afirmado se tratar de um típico caso de racismo, não houve registro de Boletim de Ocorrência porque não houve identificação de quem seria a idosa e a filha
PexelsCaso aconteceu em Taquaritinga

A família de uma idosa da cidade de Taquaritinga, no interior de São Paulo, se recusou a permitir a vacinação por um enfermeiro negro durante campanha de imunização contra o coronavírus. O caso aconteceu ontem, num posto de vacinação drive thru do Ginásio de Esportes Antônio Dambrósio, que fica no Jardim Taquarão. O município tem pouco mais de 55 mil habitantes.

A assessoria de imprensa da Prefeitura de Taquaritinga confirmou o ato e explicou como teria ocorrido o racismo. "Ele se aproximou do carro pra vacinação e a filha que falou: 'não se aproxime da minha mãe'. Ele pegou os documentos para fazer as anotações, entregou para outro profissional e voltou ao posto de atendimento para o próximo. Ele não percebeu que era um caso de racismo", explica Andrei Fernandes Amorim, um dos funcionários da assessoria.

Segundo testemunhas do incidente, acredita-se que a filha agiu a pedido da mãe para evitar o trabalho do profissional.

 

A reportagem apurou ainda que pouco depois do caso, o enfermeiro - que não teve sua identidade divulgada para preservá-lo - levou tempo para perceber o que havia acontecido e somente depois de algum tempo é que concluiu tratar-se de um caso de racismo.

"Ele comentou com os colegas e todo mundo concordou tratar-se de racismo. O enfermeiro recebeu todo o apoio dos funcionários e da Secretaria de Saúde", informou a assessoria da prefeitura.

Embora todos tenham afirmado se tratar de um típico caso de racismo, não houve registro de Boletim de Ocorrência porque não houve identificação de quem seria a idosa e a filha. "Por tratar-se de um drive thru, são dezenas de carros que passam por ali, fica difícil identificar", segue a explicação da assessoria.

Porém, a Prefeitura confirmou que está trabalhando na identificação. "Estamos olhando as câmeras de segurança para tentar identificar o veículo e, por tratar-se de uma cidade pequena, creio ser possível descobrir. A partir daí iremos tomar as medidas cabíveis", conclui o funcionário da comunicação da prefeitura.

Ao UOL, um funcionário da Secretaria de Saúde que não quis se identificar confirmou que o caso abalou o enfermeiro e revoltou outros funcionários, mas que a postura dos chefes teria acalmado a situação porque a vítima teria se sentido protegida. "Ele está se sentindo seguro e bastante querido por todos. É um doce de pessoa e é uma pena que tenha acontecido".

A Prefeitura de Taquaritinga confirmou ao UOL que seguirá investigando o caso e deverá soltar nota oficial apenas depois que tiver maiores detalhes sobre o ocorrido.

A reportagem entrou em contato com a Delegacia Civil da cidade e confirmou que não há registro de crime de racismo, mas explicou que não é necessário a vítima identificar o suspeito. "Quanto mais elementos houver sobre a autoria vai ajudar na investigação, mas não é obrigatória a identificação", explica um investigador da cidade, que já tinha conhecimento do caso e que preferiu não se identificar. Segundo ele, não há informações se a prefeitura pretende registrar o caso.

Taquaritinga já iniciou a vacinação de idosos a partir de 77 anos e aplicou 4.502 doses até a manhã de hoje, o que equivale a 7,84% da população, índice superior à média brasileira, que está abaixo de 4%.

Fonte: UOL

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