Após a prisão de suspeitos por troca de bagagens no aeroporto de Guarulhos (SP) para o envio de drogas ao exterior, a Polícia Federal investiga a ligação do grupo com Primeiro Comando da Capital (PCC). A investigação aponta que a relação dos suspeitos com o crime organizado é mais ampla do que ‘apenas’ uma quadrilha de tráfico de entorpecentes.
Segundo relatório da PF, o crime organizado vem recrutando funcionários terceirizados que trabalham em áreas restritas dos aeroportos desde 2019. A atuação ocorre em várias frentes: do despacho da mala até a chegada da bagagem na Europa, onde a droga é retirada e vendida nos países europeus com selo brasileiro.
De acordo com a polícia, os funcionários poderiam receber, em média, R$ 30 mil por cada bagagem com cocaína despachada para o exterior. O valor equivale a mais de um ano de salário de cada profissional, que gira em torno de R$ 1,6 mil por mês. Segundo os investigadores, o PCC prefere recrutar funcionários que não tenham ficha criminal, para não levantar suspeitas ou, em caso de prisão, não tenham pena maior.
Em julho do ano passado já houve uma ofensiva contra esse esquema. A PF fez uma operação para prender 18 funcionários que trabalhavam no aeroporto. Foram cumpridos mandados também em Portugal. No celular de um dos detidos os policiais encontraram uma troca de mensagens e áudios com integrantes do PCC sobre o despacho de malas.
Segundo a investigação, à época, os investigados atuavam na área de pista do aeroporto e com os carrinhos que dão acesso à aeronave. Eles colocavam as malas com as drogas direto no porão do avião, escapando da fiscalização e do raio-X da polícia.
Entre 2021 e 2022, a PF apreendeu 880 kg de cocaína em nove operações. Três no aeroporto de Guarulhos, duas em Lisboa (Portugal), uma em Frankfurt (Alemanha) e três em Amsterdam (Holanda), com prisões efetuadas em Frankfurt e Lisboa.
Brasileiras presas na Alemanha - No início de março, Jeanne Paolini e Kátyna Baía tiveram as etiquetas das bagagens trocadas por malas com drogas, sendo detidas quando chegaram ao aeroporto de Frankfurt, na Alemanha. As vítimas descreveram o ambiente como “desesperador”, segundo informou a advogada que as representa, Luna Provázio Lara de Almeida.
Segundo apuração da Polícia Federal, ambas saíram do aeroporto Santa Genoveva, em Goiânia (GO), fazendo escala no Aeroporto Internacional de Guarulhos (SP). Porém, neste segundo local, tiveram as etiquetas trocadas por um grupo criminoso com malas carregadas de drogas.
A polícia brasileira apontou uma série de evidências que comprovam que não há envolvimento das brasileiras com o transporte ilegal, pois não correspondem ao padrão usual das chamadas “mulas do tráfico”.
A liberação das brasileiras, no entanto, dependeu de pedido formal do Itamaraty e do Ministério da Justiça brasileiros, que foi feito no dia 6 de abril. As brasileiras foram soltas no dia 11 deste mês, após mais de um mês presas.
Operação da PF - O caso das duas brasileiras presas na Alemanha foi descoberto graças à investigação da PF em Goiás. Em São Paulo, foram cumpridos seis mandados judiciais de prisão temporária contra funcionários de empresas terceirizadas que atuam dentro do aeroporto para as companhias aéreas.
“Estamos analisando os celulares e tudo que foi apreendido durante as buscas. A organização é maior. Outras pessoas aparecem nos vídeos”, destacou o delegado Bruno Gama.
À CNN, a GRU Airport, concessionária que administra o Aeroporto Internacional de São Paulo, em Guarulhos, esclareceu que o manuseio das bagagens, desde o momento do check-in até a aeronave, é de responsabilidade das empresas aéreas. E explicou, em nota, que quando ocorre um incidente, se reúne com as autoridades policiais para discutir melhorias nos protocolos de segurança.
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