O avanço da vacinação contra a covid-19 no Brasil e os anúncios de que São Paulo pretende imunizar adolescentes dos 12 aos 17 anos a partir de 23 de agosto e o Rio de Janeiro, a partir de 1º de setembro, fizeram com que a preocupação com a proteção das crianças contra a infecção do SARS-CoV-2 aumentasse.
A epidemiologista Fatima Marinho, da UFMG (Universidade Federal de Minas Gerais) e da organização de saúde Vital Strategies, alerta que esse público passa a ficar mais exposto à doença.
“O cenário que vivemos atualmente é outro, não é o mesmo do começo da pandemia, quando as pessoas mais idosas estavam as mais vulneráveis. Com o avanço da vacinação, a epidemia está rejuvenescendo e as crianças vão ser cada vez mais atingidas, conforme temos mais adultos vacinados", explica.
A farmacêutica Sinovac conseguiu no começo de junho autorização na China para uso emergencial da CoronaVac em crianças e adolescentes entre 3 anos e 17 anos. No dia 28 de junho, a revista científica The Lancet publicou um estudo feito com 552 voluntários nessa faixa etária, entre outubro e dezembro de 2020, na província de Hebei, China.
Os pesquisadores concluiram que a taxa de produção de anticorpos contra o antígeno do coronavírus foi superior a 96% após 28 dias da vacinação com duas doses da CoronaVac.
O pediatra e infectologista Daniel Jarovsky, do Sabará Hospital Infantil, em São Paulo, ressalta a importância da vacina produzida no Brasil pelo Instituto Butantan. "Esse foi um passo muito grande, porque a CoronaVac tem se demonstrado extremamente segura. Não estou falando aqui qual a porcentagem de proteção desse imunizante, se protege mais ou menos que as outras. Mas é super importante levar em consideração a segurança das vacinas e a CoronaVac tem demonstrado uma segurança muito boa", afirma.
Dimas Covas, diretor do Instituto Butantan, afirmou no último domingo (11) que já foram apresentados documentos do estudo para a Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária) e espera que a agência aceite os testes chineses para que o imunizante seja aplicado também no Brasil nessa faixa etária.
A Anvisa esclareceu: "Não há solicitação do Instituto Butantan para alteração de bula da CoronaVac e inclusão de crianças e adolescentes. A competência para solicitar a inclusão de novas indicações na bula é do laboratório e deve ser fundamentada em estudos que sustentem a indicação."
Outros dois imunizantes estão em fase de testes para as faixas etárias mais baixas. A Pfizer realiza exames clínicos com 4.500 crianças, entre 6 meses e 11 anos, nos Estados Unidos, na Finlândia, Polônia e Espanha. A expectativa da empresa é ampliar vacinação até início de 2022.
A Moderna, que não é aplicada no Brasil, começou em março os testes clínicos de fase 2 para uso em crianças de 6 meses até 11 anos. O fármaco já é autorizado para pessoas acima dos 12 anos.
"Esperamos com muita ansiedade esses estudos, porque vacinar crianças é um passo importante para o controle de qualquer pandemia. Apesar de elas não desenvolveram a covid grave, elas são, sim, uma fonte de transmissão para outras pessoas. Se você não vacinar crianças, nunca vai conseguir controlar a doença", ressalta o infectologista.
Como proteger crianças sem vacina?
Enquanto a imunização não é liberada para crianças, restam aos pais e responsáveis ficarem ainda mais atentos aos cuidados de prevenção e a necessidade de eles receberem proteção contra a covid.
"O núcleo familiar dessas crianças tem de se vacinar o mais rápido possível, com a vacina que estiver disponível. Os pais são as fontes potenciais de infecção para os filhos. A preocupação, nesse caso, nem é tanto uma proteção de saúde coletiva e sim do núcleo familiar. Se você consegue vacinar os pais, consegue proteger mais as crianças", observa Jarovsky.
"Além do que não tem muita novidade, qualquer criança acima de 2 anos deve usar máscara a todo momento que sai de casa, independentemente da vacinação dos pais", acrescenta o médico.
Com a diminuição de taxas de mortalidade e de transmissão no Brasil, as regras de distanciamento social estão sendo relaxadas gradativamente e, com isso, a volta das atividades escolares é uma realidade em muitas cidades do país.
O especialista avalia que a volta é necessária e mais um motivo para que pais e responsáveis sigam as orientações de segurança. "O principal prejuízo que essa pandemia trouxe para as crianças foi a questão social de interação social e transtornos depressivos. É necessário o retorno seguro às atividades escolares. A volta é essencial para as crianças terem a vida voltada ao normal, porque o impacto pode ser muito mais profundo e prolongado do que se imagina", conclui o pediatra e infectologista.
Fonte: R7
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