Exatos 7 dias após informar ao mercado a existência de um rombo contábil de R$ 20 bilhões em seu balanço financeiro, a Americanas caminha a passos largos para uma recuperação judicial, processo em que uma empresa tenta renegociar dívidas para evitar uma falência.
Em fato relevante divulgado na manhã desta quinta-feira (19/1), a varejista afirmou que “está trabalhando com
a possibilidade de, nos próximos dias ou potencialmente nas próximas horas, aprovar o ajuizamento, em caráter de urgência, de pedido de recuperação judicial”.
A situação da empresa piorou significativamente nas últimas 24 horas. Ontem (18/1), a Justiça do Rio de Janeiro, em apreciação de um mandado de segurança do BTG Pactual, concedeu ao banco o direito de bloquear R$ 1,2 bilhão em contas da Americanas para garantir parte do pagamento de uma dívida.
Outros bancos fizeram o mesmo. O Bradesco, por exemplo, decidiu reter R$ 450 milhões da Americanas. Itaú e Safra pediram à Justiça para que a varejista só possa sacar o dinheiro que tem depositado em suas contas mediante autorização prévia. No total, a Americanas deve cerca de R$ 40 bilhões a bancos e instituições financeiras.
Os bloqueios teriam reduzido a posição de caixa da Americanas de R$ 8,8 bilhões para meros R$ 800 milhões em apenas uma semana. Parte dos recursos também foi consumida rapidamente pelas atividades operacionais.
Por exemplo: depois que o rombo de R$ 20 bilhões veio à tona, muitos fornecedores condicionaram a venda de mercadoria ao pagamento à vista. Isso aumentou consideravelmente a necessidade de caixa da varejista.
“A Americanas informa que, diante da atitude unilateral dos credores, sua posição de caixa atingiu R$ 800 milhões e parcela significativa deste valor está injustificadamente indisponível para a movimentação da companhia desde ontem”, escreveu a empresa, em comunicado.
Uma eventual recuperação judicial da Americanas para renegociar dívidas de R$ 40 bilhões seria uma das maiores já feitas em solo brasileiro. Para se ter ideia, a recuperação judicial da Oi, que levou 6 anos para ser concluída, envolvia dívidas de R$ 60 bilhões.
A diferença é que a estrutura da Americanas parece ser mais complexa. Com cerca de 40 mil funcionários, 3,6 mil lojas e centenas de fornecedores, uma eventual falência da Americanas faria um bom estrago no mercado.
Litígio
A briga na Justiça também dá sinais de que os bancos não estão dispostos a uma negociação amigável. A petição protocolada pelo BTG na Justiça para garantir a execução da dívida tem um tom muito duro – capaz até de causar estranheza em parte do mundo jurídico.
Na ação, o banco acusa os sócios de referência da Americanas, os bilionários Jorge Paulo Lemann, Beto Sicupira e Marcel Telles, de terem um papel ativo no problema contábil identificado no balanço da varejista.
“O caso em questão é a triste epítome de um país. Os três homens mais ricos do Brasil, ungidos como uma espécie de semideuses do capitalismo mundial ‘do bem’, são pegos com a mão no caixa daquela que, desde 1982, é uma das principais companhias do trio”, diz um trecho do pedido de liminar do BTG.
Além da participação na Americanas, os bilionários são sócios da Ambev e Kraft Heinz.
A narrativa acima do tom foi interpretada como uma tentativa de desgastar a imagem de Lemann, Sicupira e Telles. Pressionado, o trio poderia topar colocar dinheiro na Americanas, para remediar o endividamento e, assim, estancar rapidamente a crise.
Os bancos desejam que eles façam uma capitalização (injeção de recursos na empresa, por meio da compra de novas ações) de mais de R$ 10 bilhões. Até agora, a contraproposta do 3G que estaria à mesa seria de R$ 6 bilhões, valor considerado insuficiente pelos bancos, dado o tamanho do estrago.
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