A pandemia do coronavírus fez escolas adotarem a tecnologia para dar continuidade à missão de levar educação a estudantes em todo o país. No entanto, para muitos, o acesso a uma internet de qualidade ainda não é uma realidade. E, para que essas crianças e jovens não fiquem de fora do processo de ensino-aprendizagem, muitos gestores tem buscado alternativas para alcançá-los, fortalecendo ainda mais seus laços com a comunidade.
Zona rural - Um exemplo é a Escola Estadual Padre Téofanes, de São José da Laje. Seu gestor, Erivaldo Valério da Silva, mobilizou professores, pais e alunos para não interromper os estudos de cerca de 70 alunos que vivem em povoados rurais. De carro, ele percorre quatro sítios: Boa Vista, há 7,9Km do município, Campo Novo, com 13,8Km, Transval, 7,2Km e Valparaízo 9,6Km.
De acordo com o gestor, o primeiro contato foi para levar os kits de alimentos disponibilizados pelo Governo de Alagoas, por meio da Secretaria de Estado da Educação (Seduc), onde toda a comunidade escolar foi mobilizada. Agora, a missão continua: quinzenalmente ele visita os sítios, desta vez para levar e recolher as atividades impressas aos alunos.
“Estamos vivendo um momento em que é preciso praticar a empatia. Quando percebi que eles não teriam acesso, porque vivem em regiões onde a internet não pega, resolvemos ir até eles. Além de buscar a rádio da cidade, enviamos um moto-táxi aos sítios. Assim que conseguimos contato, marcamos e eu levei os kits. Fizemos um cronograma onde, quinzenalmente, levo as apostilas e pego o material que eles responderam. Em cada sítio, selecionamos um aluno para entregar o material a todos os demais”, revela Erinho, como também é conhecido na região.
Bruna da Silva Oliveira, da 2ª série do ensino médio, é uma das alunas que está sendo atendida pelas apostilas impressas e elogia a iniciativa. Filha de pequenos produtores rurais, ela é a estudante responsável por receber a apostilas e repassar aos demais colegas que moram no Sítio Boa Vista.
“Para os que não tinham internet foram dados os materiais impressos e tem sido um momento mágico, cada vez mais os alunos estão sendo protagonistas de suas histórias e ideias”, destaca Bruna. Sua mãe Joseane também aprova a ação da escola. “É muito importante, porque assim os alunos têm acesso à educação, principalmente os da zona rural, como os da minha família”, reconhece.
Fortalecendo laços - Na Escola Estadual Edleuza Oliveira, de São Miguel dos Campos, a busca ativa – expressão tradicionalmente usada para o resgate de alunos evadidos - mobiliza toda a unidade de ensino, envolvendo grêmio estudantil, servidores e conselho escolar. Neste período de isolamento social, foi realizado mapeamento dos estudantes e diagnóstico com o auxílio de representantes de turma e a escola entrou em contato com os alunos por meio de telefonemas, mensagens de texto, cards das nas redes sociais, chamadas nas redes sociais, cartazes em pontos comerciais e visitas às residências.
“A busca ativa já é uma prática cultural da instituição, pois entendemos que cada realidade pode ser também uma oportunidade de resgatar os jovens ou adultos que estejam passando por dificuldades psicológicas, emocionais ou de aprendizagem”, ressalta a diretora Alexsandra Rodrigues.
A escola, que tem fortes laços com a sua comunidade – o Conjunto Hélio Jatobá – tem fortalecido ainda mais esse vínculo nesta época de pandemia. Um exemplo disso é o Projeto AcolhEJA. A ação, que surgiu inicialmente para atender aos filhos dos estudantes da Educação de Jovens e Adultos (EJA) que precisavam acompanhar seus pais à escola com atividades lúdicas e esportivas, ganhou uma nova roupagem neste momento de isolamento social.
Com a suspensão das aulas presenciais, a escola percebeu que o projeto teria a oportunidade de atuar em outras áreas no território, com ações sociais ou comunitárias no enfrentamento à COVID-19. “Daí surgiu a iniciativa de mobilizar parceiros e voluntários para a doação de materiais e organizar kits de prevenção, que foram distribuídos no entorno da escola. Cada kit possuía: duas máscaras de tecido 100% algodão confeccionadas por costureiras, servidoras e familiares dos alunos, álcool em gel doado por comerciantes locais, um panfleto informativo e preventivo e livros infantis doados pela sociedade civil. Outro momento importante foi o evento Pipoca com Poesia, que consistiu em distribuir pipocas com poesias afixadas, aos estudantes que foram à escola pegar suas atividades impressas”, recorda Alexsandra.
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