A estudante do curso de Engenharia Ambiental e Sanitária, Nicolli Albuquerque, recebeu menção honrosa por seu trabalho no Prêmio Mapbiomas. Representando a Ufal, Nicolli foi a única estudante finalista de Alagoas e do Nordeste, num universo de 160 trabalhos avaliados. O projeto de Nicolli teve como tema Análise espaço-temporal da influência do uso e cobertura do solo de bacias hidrográficas que deságuam na Área de Proteção Ambiental Costa dos Corais (APACC) e está dentro do contexto do Projeto Ecológico de Longa Duração Costa dos Corais Alagoas, sítio de monitoramento a longo prazo pioneiro no Estado.
Segundo a estudante, o prêmio Mapbiomas é uma forma de reconhecimento pelos trabalhos inovadores que utilizam ou citam dados de quaisquer iniciativas do projeto. “Conheço o prêmio desde o início. Tentei submeter o trabalho para a 2ª edição, porém somente na terceira, quando tinha dados do ciclo de pesquisa anterior e uma pesquisa mais avançada, decidi que iria participar. Sempre recebi incentivo dos orientadores e demais colegas para participar de iniciativas parecidas”, explicou.
A ideia é que, unindo os dados espaciais gerados a outras variáveis ambientais, como tipo de solo, o trabalho dê suporte a outros estudos que estimem a produção de sedimentos, nutrientes, entre outros compostos gerados nas bacias. “Além disso, que se realize a modelagem da dispersão de pluma de sedimentos, nas épocas chuvosa e seca, para entender o impacto sobre os recifes de corais. Por outro lado, que defina-se às regiões mais vulneráveis das bacias, com vista a estabelecer estratégias para sua conservação”, avaliou Nicolli.
A pesquisa
O Mapbiomas classificou o uso e a cobertura do solo para todo o Brasil usando toda a série de imagens Landsat, iniciada em 1985. O trabalho de Nicolli é uma evolução de estudos de três anos na iniciação científica. “Comecei com estudos de sensoriamento remoto em 2017, classificando o uso e a cobertura do solo de uma faixa costeira da APA Costa dos Corais e os recifes visíveis. Nos últimos dois anos considerei quatro bacias hidrográficas como zona de amortecimento da APACC e os dados de uso e a cobertura do solo do Mapbiomas para avaliação”, explicou.
A água de um rio contém sedimentos, nutrientes, entre outros compostos, resultantes de processos naturais e de intervenções humanas, como a agricultura. Sendo assim, o uso e a cobertura de solo podem ser usados como um indicador de qualidade da água. A bacia hidrográfica é uma área de captação natural de águas que se direcionam para um ponto, o exutório ou foz do rio principal. Por isso, estudos sobre bacias são importantes para definir estratégias de conservação quanto à biodiversidade, à água e ao solo.
Com os dados do projeto Mapbiomas é possível verificar no espaço e no tempo “onde” e “quais” são as fontes de impacto -como agricultura, solo exposto, área urbana- na qualidade dessa água que tem sido direcionada para a APA Costa dos Corais. “Assim, podemos dar suporte a ‘como’ vamos agir em relação a essas questões. Nessa unidade de conservação existem ecossistemas relevantes, como manguezais e recifes de corais, que protegem a linha costeira de processos erosivos e servem de abrigo para diversas espécies, provendo alimento para comunidades tradicionais. Nesse sentido, entender a situação da qualidade da água é um fator importante para definir se os ecossistemas estão saudáveis ou não”, disse Nicolli.
Uma preocupação é que a região estudada é marcada secularmente pelo plantio de cana-de-açúcar, ou seja, há um longo período de intervenção no solo, com cobertura alterada. Nicolli explica que para o período estudado, 1988 a 2018, verificou-se que uma média de 77% das quatro bacias é ocupada por agropecuária, ou seja, atesta o histórico de região essencialmente rural. “O solo precisa ser bem manejado, para não perder nutrientes e se desprender, pois, se isso ocorre, há um impacto negativo para o cultivo e para a qualidade dos corpos hídricos. Somado ao manejo, é fundamental que as matas ciliares e as áreas em declividade elevada estejam preservadas”, afirmou.
E completa: “Consideramos que a área de manguezal se manteve relativamente constante, pois ocorreu um leve acréscimo. Ainda assim, investigações sobre a saúde ambiental desse ecossistema são necessárias. As ocorrências de desmatamento ou intervenções humanas ao redor devem ser registrados em campo, pois o pixel da imagem cobre uma área de 30 por 30 metros, o que pode subestimar a área real deste alvo”.
A maior parcela de área não vegetada foi de infraestrutura urbana. Esse alvo duplicou durante o período, com um destaque para Bacia Tatuamunha, que cresceu cinco vezes. DE acordo com Nicolli, o que pode explicar isso é o aumento da visibilidade turística dos municípios costeiros nessa bacia, a exemplo de São Miguel dos Milagres, o que influencia na especulação imobiliária da região.
Cerca de 89% da área estudada não foi modificada e em 6% houve desmatamento de “floresta”, a maior parte na Bacia Manguaba. Apesar da baixa porcentagem é importante que em um estudo futuro, verifique-se onde essa conversão ocorreu, pois pode caracterizar áreas vulneráveis da bacia, como as com declividade mais alta ou próximas aos leitos dos rios.
Segundo Nicolli, na área de estudo existem sete unidades de conservação: “Nesse sentido, garantir que as medidas de proteção definidas para essas áreas sejam cumpridas é fundamental para a “saúde” da bacia e, consequentemente, da água que perpassa por ela”.
O Prêmio
O Projeto de Mapeamento Anual do Uso e Cobertura da Terra no Brasil é uma iniciativa que envolve uma rede colaborativa com especialistas nos biomas, usos da terra, sensoriamento remoto, SIG e ciência da computação que utiliza processamento em nuvem e classificadores automatizados desenvolvidos e operados a partir da plataforma Google Earth Engine para gerar uma série histórica de mapas anuais de uso e cobertura da terra do Brasil.
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