O ator Tarcísio Meira, de 85 anos, foi diagnosticado com covid-19 e está intubado na UTI (Unidade de Terapia Intensiva). Sua esposa, a atriz Glória Menezes, de 86 anos, também foi internada com a doença, mas seu quadro evoluiu com menos gravidade e ela não precisou ser intubada. Ambos receberam as duas doses da vacina que protege contra o coronavírus.
O que explica a evolução grave do ator, além da idade avançada, é que nenhuma vacina é 100% eficaz e algumas pessoas ainda estão suscetíveis aos sintomas mais agressivos mesmo após a imunização completa, segundo o geriatra Natan Chehter, do Hospital Beneficência Portuguesa de São Paulo.
“O Tarcísio Meira é uma estatística nesse momento. Além disso, há a questão das variantes, que não sei se ele foi diagnosticado com alguma. Mas, eventualmente, algumas vacinas têm a eficácia menor contra as mutações, então se a cobertura já não era 100%, as variantes podem conferir maior gravidade e ou maior infectividade”, explica o médico.
O envelhecimento do sistema imunológico é outro fator associado ao agravamento da covid-19 em idosos. Segundo o especialista, pessoas em idade avançada costumam produzir menos anticorpos e estes, por sua vez, atuam de maneira menos eficiente no organismo.
Isso reflete diretamente na produção de anticorpos impulsionada pela vacina, que também é menor em pessoas mais velhas. “Uma pessoa tem um arsenal de anticorpos que é formado toda vez que ela é vacinada. Então a vacina, pela própria cadência do sistema imune, faz uma imunidade menor no idoso”, diz o médico.
“O sistema imune dos idosos é mais lento em dar sua resposta, então o pico acontece, em geral, de forma retardada em relação aos jovens. Até o idoso conseguir fazer uma resposta mais eficaz demora um pouco mais de tempo e eventualmente prejudica [a recuperação], além do próprio envelhecimento do pulmão”, explica.
A diferença com que o organismo da atriz Glória Menezes reagiu ao coronavírus pode estar ligada com a resposta das células T, responsáveis por estimular a produção de anticorpos e ou atacar diretamente as células infectadas.
Um estudo realizado por pesquisadores da Universidade de Yale, nos Estados Unidos, mostrou que mulheres apresentam uma resposta imunológica mais eficiente contra o SARS-CoV-2 do que os homens, e isso impede a propagação da infecção.
Envelhecimento do sistema respiratório
O especialista destaca que existem algumas características do envelhecimento do sistema respiratório que conferem um pouco mais de risco às infecções respiratórias em pessoas idosas, não à toa o grupo está entre os de maior risco para casos graves de covid-19 e H1N1.
Chehter explica que há uma estrutura dentro das células do pulmão que funciona como pequenas pás que retiram o muco produzido pelos brônquios. No caso dos idosos, esse movimento de limpeza é prejudicado e um pouco menor, o que faz com que eles lidem com mais dificuldade com as secreções.
“No momento em que os brônquios estão inflamados, com o pulmão sob ação de um vírus, a resposta normal deste órgão encontra dificuldade para lidar com os produtos da inflamação, com o muco e as secreções. Isso faz com que o idoso possa persistir mais em sintomas e se recuperar de forma mais lenta”, afirma o geriatra.
Além disso, o especialista ressalta a importância de manter as medidas de proteção contra o coronavírus mesmo após a vacinação completa. O uso de máscara, álcool gel para higienização das mãos e o cumprimento do distanciamento social são necessários até que a pandemia esteja controlada.
“Isso vale tanto para os idosos como para os jovens, uma vez que a circulação do vírus ainda não acabou, o fato de a pessoa estar protegida não quer dizer que em nível coletivo nós estejamos protegidos”, afirma Chehter.
Fonte: R7
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