02/07/2021 13:00:38
Entretenimento
Raquel Pacheco: “Quero que minhas filhas cresçam sabendo do meu passado”
Conhecida pela vivência como garota de programa com o nome Bruna Surfistinha, ela fala sobre a gestação de gêmeas idênticas, diz que ser mãe era um sonho e conta as mudanças da rotina, inclusive sexual, com o marido, o ator Xico Santos
Divulgação / Bianca VilaNova FotografiaXico Santos e Raquel Pacheco, a Bruna Surfistinha

 Raquel Pacheco nem todo mundo sabe quem é, mas Bruna Surfistinha ficou conhecia no país inteiro como garota de programa e atriz de filmes eróticos, em uma trajetória contada por ela mesma em um blog e levada às telas de cinema e da televisão com Deborah Secco e Maria Bopp interpretando sua vida. Hoje, aos 36 anos, Raquel é escritora, roteirista e empresária bem-sucedida e se prepara para mais um papel: o de mãe de Elis e Maria, as gêmeas idênticas que espera com o ator Xico Santos. “Quero que minhas filhas cresçam sabendo do meu passado”, diz ela, que está entrando na 28ª semana de gravidez e deve dar à luz por volta do dia 20 de setembro.

A gestação foi planejada, mas Raquel não espera que fosse engravidar tão rapidamente. E, a notícia de que teria gêmeas, foi um choque. “Na primeira ultra o médico colocou o aparelhinho na barriga, olhou a tela e a primeira frase dele foi ‘então, tem duas cabeças’”, conta. “Entrei em desespero achando que ele estava dizendo que era um bebê com duas cabeças”, lembra ela, que hoje ri da situação.

Morando no Rio, ela gostaria de ter um parto normal, mas vai deixar a decisão na mão de sua obstetra. “Não vou forçar se não tive condição”, diz Raquel, que gostaria de ter um parto humanizado em casa. Ela está fazendo um curso para aprender cuidados básicos – a empresária nunca pegou um recém-nascido no colo (“muito molinho”) e tem pavor de fazer algo errado no banho.

Com 16 quilos a mais, ela diz que agora está gostando do que vê no espelho. “Antes evitava me olhar”, assume a empresária, que ainda está decidindo o tema do quartinho das meninas e que fez poucas compras para elas, esperando como vai ser o dia a dia com Maria e Elis. “Comprei o básico para o enxoval, tenho medo de me empolgar”, diz Raquel, que tem saído pouco de casa devido à pandemia – a escritora será vacinada contra a Covid-19 esta semana.

Raquel, que faz workshops para ajudar mulheres com suas vidas sexuais, diz que a sua própria mudou após a gravidez. A libido mudou com os hormônios e o ato em sim ficou mais difícil conforme a gestação avançou e a barriga cresceu.

SONHO

“Sempre tive vontade ser mãe, cuidava das minha bonecas como se fossem filhos. Engraçado que eu cuidava de duas delas como se fossem minhas filhas gêmeas. Mas me casei com 20 anos, com meu primeiro marido, e me separei aos 30, em 2015. Só que nesse momento minha vida estava uma loucura, tinha filme, participação em A Fazenda, eu viajava muito pelo Brasil e sempre fui adiando. No final, o casamento acabou, eu não engravidei e pensei ‘não rolou até agora, vou desencanar’.”

ACEITAÇÃO

“Apesar de ser um sonho, ser mãe não se tornou uma cobrança. Fiquei naquela de ‘se acontecer, ótimo, se não acontecer, tudo bem’. Aí ano passado conheci meu noivo e desde o começo sempre foi um relacionamento intenso. Depois de dois meses juntos, começou essa conversa sobre ter filhos. Estar com o Xico me trouxe de volta esse sonho aos 36 anos.”

GRAVIDEZ

“Engravidei das meninas naturalmente. Quando conversamos sobre essa ideia de engravidar, eu já parei com a camisinha. Achei que fosse demorar mais, porque acompanhei o processo de amigas e com elas demorou uns meses. Eu acreditava que ficaria grávida, mas para o final deste ano.”

GÊMEAS

“Nunca pensei em ter um filho único, de dois a três seria o ideal para mim. E antes dos 40, porque eu poderia engravidar de novo depois de um ano e meio, para que as crianças crescessem juntas, sem muita diferença de idade. Aí vieram gêmeas, essa surpresa de serem dois bebês. Sou adotada, então não sei se há caso de gêmeos na minha família biológica. Na do Xico tem bisavós, tios.”

SUSTO

“Descobrimos logo na primeira ultra que eram dois bebês. Hoje a gente ri, mas no dia o médico colocou o aparelhinho na barriga, olhou a tela e a primeira frase dele foi ‘então, tem duas cabeças’. Entrei em desespero achando que ele estava dizendo que era um bebê com duas cabeças. Ele percebeu meu olhar de pânico mesmo com a máscara, e tratou de explicar que eram duas crianças. Comecei a rir de nervoso, a gente não estava esperando mesmo.”

SAÚDE

“Estou ótima. Gravidez de gêmeos é considerada de alto risco, naturalmente, então meu pré-natal tem sido muito intenso, vou ao médico de 15 em 15 dias. Tenho me cuidado muito e a saúde, tanto minha como das bebês, está perfeita, uma evolução linda. Tive uma anemia que não é grave e é considerada normal na gravidez. Tinha uma preocupação gigante de ter diabetes gestacional, mas minha glicemia é até pouco abaixo do normal. Enjooei um pouco no comecinho, e tenho tido algumas cólicas, porque elas se mexem muito. Uma das bebês é muito agitada e toda hora me dá um chute (risos).”

MUDANÇA

“Descobri que estava grávida no dia 17 de janeiro e estávamos em São Paulo, com planos de vir morar no Rio. Tivemos que refazer nosso planos, e refazer ainda mais o planejamento de gastos, as preocupações com trabalho... Tudo agora a gente pensa em dobro.”

NOMES

“Combinamos que ele iria escolher o nome se fosse menina e eu menino. Quando soubemos que eram gêmeas, cada um decidiu um. Não queria nomes de modinha, da geração delas. Queria um nome fácil, pequeno e forte. Ele escolheu Elis, em homenagem a Elis Regina, que a gente sempre ouviu muito e faz parte da nossa trilha sonora. Eu optei por Maria porque é simples e tem um força muito grande. Já conheci várias Marias, uma das minhas melhores amigas se chama Maria Fernanda e a atriz que me fez na série Me Chama de Bruna é a Maria Bopp. Quis homenagear todas as Marias da minha vida.”

PARTO

“As meninas vão nascer no Rio. Sempre curti a ideia de parto normal, mas quando soube que eram gêmeas fiquei com o pé atrás. Mas conversei com minha obstetra e vamos ver. Eu gostaria de parto normal, mas depende delas. Não vou forçar se não tiver condição. De duas semanas para cá comecei a pensar novamente em parto humanizado em casa.”

PALPITES

“Não tenho família, não tenho mãe, mas minha sogra e minhas amigas já estão me dando dicas. Eu ouço e vou selecionando.”

SORORIDADE

“Eu me sinto acolhida. Tenho recebido muitas mensagens de mães de gêmeos, esse lado solidário entre as mulheres tem sido forte. Me dizem ‘é difícil, mas você vai dar conta’. É uma corrente muito bonita e forte entre mulheres grávidas e mães que não conheço, mas dizem que posso contar com elas.”

CURSO

“Precisei de um curso para aprender o básico, porque nunca peguei um recém-nascido: sempre tive muito medo e preocupação porque o bebê é muito molinho ainda e eu sou desajeitada. Só colocava os filhos das amigas no colo quando eles estavam já com dois, três meses. Eu nunca troquei fralda. Acredito na intuição materna, mas quero me preparar porque há dois meses vi um relato que mexeu muito comigo, o de uma mãe que depois de dar de mamar e colocar o bebê para arrotar, morreu no berço porque engasgou com o leite (que voltou). Isso me deu medo e eu tenho medos, como o de dar banho, porque tenho medo de fazer algo errado. O que eu menos quero é errar, sobretudo nos pequenos detalhes.

CORPO

“Engordei 16 quilos. É uma transformação muito grande, e que já reflete nos joelhos, nas costas. Fica muito difícil. Para dormir é horrível, não consigo encontrar posição porque a barriga incomoda. No comecinho da gestação acordei um dia cheia de acne no rosto, durou uma semana e do mesmo jeito que veio, foi embora. Os seios também mudaram e meu cabelo está incrível. A maternidade deixa a mulher mais bonita. Eu passei a fase de achar estranho e não gostar do que via no espelho, até evitava me olhar. Mas aí passou e comecei a me ver de outra maneira. Hoje, por mais que esteja com 16 quilos a mais, pés inchados, consigo me olhar e me gostar. Vou sentir falta da gravidez.”

RELACIONAMENTO

“A gravidez traz uma conexão muito mais forte para o casal, mas no meu caso sempre fomos muito unidos e tivemos diálogo. Mas agora, sendo responsáveis por duas crianças, nossa união está ainda mais fortalecida.”

VIDA SEXUAL

“Os hormônios são uma montanha-russa, já diminuiu bastante a frequência do sexo. Tem gente para quem a libido praticamente não existe e manda lembranças, e tem dias que a vontade de fazer sexo bate muito forte mas incomoda muito. Papai e mamãe não dá mais, só o fato dele tentar colocar um pouco de peso em cima já incomoda. Eu indo por cima não tenho tanto fôlego, me canso rápido e começou a ficar difícil. Até vejo isso de uma maneira positiva, porque a gente não tem que associar a troca de prazer entre o casal apenas com penetração. Tem sexo oral, masturbação mútua, carícias... Isso se intensificou muito na nossa rotina como casal. Tenho gostado bastante disso até porque nessa reta final vai ficar ainda mais difícil fazer sexo.”

PAI PARCEIRO

“O Xico vai ser um pai responsável e ao mesmo tempo mente aberta. Ele é divertido, amoroso, canceriano. Conversamos muito sobre educação e o que queremos passar para nossas filhas. Acredito que ele terá paciência, é muito família e vai passar isso para as meninas.”

EDUCAÇÃO

“Quero que minhas filhas enxerguem a gente não como pai e mãe, mas como os melhores amigos que podem ter na vida. Quero que cresçam com a mente aberta e zero preconceito, que desde pequenas aprendam a respeitar as diferenças e entendam que ainda bem que ninguém é igual a ninguém. Em relação às regras acho que vamos dar uma educação muito liberal, sem regras. Fui criada com muitas exigências, que do meu ponto de vista, não são necessárias. Não vai ser cada uma faz o que quer, tem que ter ordem, mas não quero ser aquela mãe chata que fica berrando quando algo não é como esperava. Mas não adianta planejar muito à frente, pensar na adolescência. Quero que elas sejam crianças e tenham infância.”

PADRINHOS

“Já escolhemos e quero batizar Elis e Maria tanto no catolicismo quanto na umbanda. Temos muitos amigos do movimento LGBTQIA+, e queria que o padrinhos fossem dois casais, um de mulheres, outro de homens, mas não vai rolar.”

QUARTO

“O quartinho delas ainda não está pronto. Fico louca porque são tantas opções lindas e não quero aquele clichê do tudo rosa. Ainda não consegui definir um tema, mas antes delas nascerem vai estar tudo pronto. Comprei o básico para o enxoval, tenho medo de me empolgar. Como tenho roupas para o primeiro mês delas, depois eu corro atrás do resto. Também não fiz estoque de fraldas porque quero ver qual funciona melhor para elas. E, como só tenho saído de casa para o necessário, comprei tudo pela internet.”

PASSADO

“Quero que minhas filhas cresçam sabendo do meu passado, de quem eu fui e quem eu sou. Fui garota de programa dos 17 aos 20 anos, fiquei conhecida por isso, tem gente que me chama de Bruna Surfistinha até hoje. Mas não adianta falar disso até elas poderem me questionar e entender isso. Quero tirar as dúvidas delas, explicar quando surgirem. Não sei com que idade isso vai acontecer, talvez, 5, 6, eu vou sentir na hora.”

HATERS

“Quando anunciei a gravidez, a maioria das mensagens que recebi foi de carinho e apoio. Mas logo no primeiro dia vieram as maldosas. Uma homem me mandou uma dizendo ‘chega de colocar vadias no país’, chamando minhas filhas de vadias. Elas não tem culpa do que eu fui na minha vida, não podem de jeito algum pagar esse preço. Mesmo que eu ainda fosse garota de programa, ninguém tem o direito de dizer que não posso ser mãe. Vi muitos comentários sobre minha gravidez e me senti mal de tanto ódio que as pessoas têm. Nunca escondi quem eu era e que tinha esse sonho. Mas vou ter que lidar com isso e não consigo imaginar minhas filhas chegando em casa chorando porque ouviram besteira na escola. Não aceito maldade com minhas filhas.”

TRABALHO

“Até o final do ano vou ficar em casa sendo mãe delas. Meus planos profissionais são os que consigo fazer pelo computador. Montei workshops para mulheres transformarem sua vida sexual. Sempre gostei de conversar sobre tabus como a masturbação feminina e o pompoarismo, que é incrível para a vida sexual e vai me ajudar no parto. E recebia muitas mensagens de mulheres, pedindo ajuda para, por exemplo, começar a fazer sexo anal. Então em 2017 comecei a realizar esses encontros e foi uma experiência que deu certo. Esclareço, entre outras coisas, que sexo não salva casamento, ajudo as mulheres a encontrar o prazer e buscar o próprio orgasmo, o que ajuda na relação. Aí por causa da pandemia decidi fazer uma versão online, com dez vídeos, em um total de quatro horas, separados por assunto. Tem dado certo. Também tinha planos de um canal no YouTube, mas vai tudo ficar mais para a frente.”

Rachel Pacheco (Foto: Divulgação / Bianca VilaNova Fotografia)

Fonte: Quem 

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