Com a tecnologia cada vez mais integrada ao dia-a-dia das pessoas, o celular se tornou objeto de desejo das crianças da geração alfa, isto é, aquelas nascidas de 2010 em diante. O uso do aparelho em uma idade precoce, no entanto, pode trazer graves consequências.
Segundo a psicóloga infantil Sabrina Pani, crianças menores de 12 anos não têm ainda a maturidade necessária para administrar o uso do dispositivo de forma saudável.
"Até mesmo para nós, adultos, tem sido difícil esse controle, essa autonomia em relação ao uso das redes sociais e das telas. Sabemos que essas redes têm mecanismos que causam vício", afirma.
"Sobretudo agora na pandemia, estamos vendo graves consequências para o desenvolvimento psicológico de crianças que passam a maior parte do tempo na frente do celular", completa.
De acordo com a psicóloga, ao mesmo tempo em que a tecnologia foi útil para que as pessoas pudessem continuar mantendo contato nesse período, ela mostrou o quanto a "vida real" faz falta para os seres humanos – e para a criança, isso é ainda mais importante.
"As crianças precisam pegar nos objetos, senti-los, pensar sobre o que ela pode fazer com eles, para que ela possa entrar no mundo da fantasia. Isso é algo que é ativo. Quando ela está diante das telas, ela recebe tudo pronto. Ela só tem que apertar botões", diz.
Crianças que sabem usar o celular são mais inteligentes?
É comum as pessoas dizerem que crianças que sabem usar o celular são mais inteligentes. Em parte, isso é verdade, mas é importante definir que tipo de inteligência está sendo desenvolvida.
As crianças são muito inteligentes no que diz respeito ao uso desses aparelhos, o que compreende a parte lógica e cognitiva. Por outro lado, Sabrina acredita que as inteligências criativa e organizativa ficam a desejar.
"Uma coisa que eu ouço muito é: 'nossa, meu filho tem apenas um ano e meio e olha só como ele fica concentrado diante da tela.' Isso é esperado. Nós também ficamos concentrados diante de vídeos, filmes, séries, porque eles fazem com que a gente se conecte com aquilo. É sempre bom lembrar que há uma indústria por trás dessas redes, dessas produções culturais, e não é novidade que a criança consiga se concentrar", afirma.
"Entre um professor falando em sala de aula e um desenho animado que muda de imagem a cada três segundos, é muito mais fácil prestar atenção no desenho animado", completa.
Aspecto cultural
Segundo Sabrina, as telas não fazem parte só do cotidiano dos brasileiros, mas também da nossa cultura. É muito comum, por exemplo, ir a um estabelecimento comercial e se deparar com uma TV ligada, mesmo que no mudo, e sem que ninguém esteja assistindo.
Por esse motivo, é natural que os pais tenham o hábito de deixar o celular com os filhos em todos os momentos, mesmo naqueles em que não há a menor necessidade.
"Claro que há dias em que os pais estão cansados e acabam cedendo e dando o celular para os filhos brincarem — mas, no geral, não é isso que tem acontecido aqui no Brasil. Muitos pais não estão cientes das consequências de uma criança fazer um uso exagerado do aparelho", afirma.
"Eu mesma, depois de muitas experiências, descobri que meu filho não precisa pegar o celular no carro. Eu, quando criança, passava o tempo olhando pela janela, imaginando histórias, e é disso que a criança precisa", completa.
Apesar de todas as consequências, Sabrina garante que a melhor solução não é proibir, mas sim, exercer um controle ativo, e mais do que isso, realizar, junto com a criança, um exercício de conscientização.
"Outro tipo de inteligência que está em jogo quando se discute o uso exagerado do celular é a inteligência emocional. Proibir totalmente não é interessante porque a criança precisa justamente saber lidar com o fato de que ela só pode usar o celular durante um horário pré-estabelecido", diz.
Monitoramento
Para a psicóloga, crianças de 2 anos ou menos não devem ficar diante das telas. Entre 5 e 6, o tempo ideal é de no máximo 40 minutos. E, a partir dos 6, até 2 horas.
Ao longo do tempo, é esperado que a criança adquira certa maturidade para administrar o uso das telas, para que, aos 12, ela possa ter um celular. Até essa idade, todas as atividades online devem ser monitoradas pelos pais.
"Se a criança decide criar um perfil em uma rede social, vale fazer a definição de senha junto com ela, e após o uso, sempre verificar o histórico de busca", afirma.
"A partir dos 13 anos, quando se inicia a adolescência, entra a questão da privacidade, que deve ser respeitada. É esperado que, com essa idade, a pessoa tenha aprendido sobre os malefícios do uso exagerado e impróprio do celular, e saiba utilizá-lo da melhor forma possível", completa.
Fonte: R7
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