A pandemia da covid-19 chegou transformando a vida de milhões de pessoas. A rotina mudou de um dia para o outro, assim como a forma de se relacionar. A privação do contato físico virou a principal recomendação para evitar o contágio pelo coronavírus. Mas e os solteiros? Como conhecer pessoas e vivenciar experiências amorosas durante este período?
Na ausência de festas, casas noturnas e funcionamento parcial de bares e restaurantes, o flerte virtual virou o único meio de interação. Além das redes sociais, o papo à distância ganhou ainda mais força nos aplicativos de relacionamento, que registraram um aumento na procura pelos serviços.
Em 2020, o número de pessoas cadastradas no happn cresceu 19% na comparação com 2019. Isso significa que o aplicativo ganhou 3,6 milhões de usuários nesse período. Dentre eles, 2,8 milhões se registraram a partir de março, quando a OMS (Organização Mundial de Saúde) declarou que a covid-19 havia se tornado uma pandemia.
No ambiente virtual, um like aqui e outro comentário lá podem ser o primeiro passo para que duas vidas se cruzem e se transformem completamente. Ricardo Spall, de 39 anos, conta que sempre acessou o grupo “Acervo de Cantadas Chiques”, no Facebook, mas interagia pouco por saber que ali não encontraria muitas pessoas que moram na região sul do país, como ele. Uma dessas interações aconteceu em outubro de 2020.
“Quando eu vi aquele post com meme da Gretchen resolvi comentar, e ela respondeu com três smiles [emoji com sorriso] para mim”, conta, ao lembrar do primeiro contato com Ana Flávia de Cezaro, 25 anos. A moça era de Balneário Camboriú, município que fica a 70 km de Blumenau, onde ele reside, também em Santa Catarina.
Depois disso, a troca de mensagens começou - primeiro no Messenger, depois no Whatsapp. O flerte durou cerca de uma semana, até coincidir as folgas no trabalho e acontecer o primeiro encontro.
“Nós conversamos bastante, ela estava com receio por causa da pandemia. Eu estava um pouco mais tranquilo porque já tinha pegado covid, e achava que a chance de ter de novo era mínima. Como nos sentimos muito próximos, decidimos nos encontrar”, lembra.
Não muito diferente foi a aproximação de Nathasha Chrysthie da Silva, de 27 anos, e Renato de Oliveira, 28. Os dois se conheceram, em junho de 2020, por meio de um aplicativo. “Ele me mandou um 'oi' e começamos a conversar, era início da noite e ficamos até bem tarde conversando. Ficamos dois dias pelo aplicativo, e depois começamos por WhatsApp. Eu fui o primeiro match dele”, recorda.
O papo virtual seguiu durante uma semana por chamada em vídeo, depois veio a decisão de percorrer os 50 km que os separavam. Ela estava na capital fluminense e ele na cidade de Guapimirim (RJ). “Foi uma situação bem complicada porque minha avó estava internada há quase 2 anos, eu só saía para vê-la no hospital. Eu estava de home office e ele não, porque trabalha no comércio. Mas me falou que estava cumprindo todos os protocolos e já tinha tido [covid], então eu fiquei mais tranquila”, admite a escritora.
Máscara e um destino em comum: a praia
Na tentativa de reduzir riscos, os dois casais optaram por um encontro ao ar livre, na praia, e adotaram regras. “Eu fiz ele passar álcool gel no braço inteiro e na mão antes da gente se tocar. Ficamos conversando, de máscara o tempo todo, só tiramos para tomar água de côco e dar um beijinho bem tímido porque a gente estava com medo da contaminação”, lembra Nathasha.
Ricardo e Ana Flávia, por sua vez, não se tocaram no primeiro encontro, mas em compensação passaram oito horas conversando. Ele conta que os dois tentaram manter a distância de um metro, recomendada pelas autoridades de saúde para evitar o contágio. “Estávamos preocupados mesmo com aglomeração. Mas a intenção era mesmo socializar um com o outro e se conhecer”, destaca.
Beijo no terceiro encontro x próximos passos
Ricardo e Ana Flávia estão prestes a completar três meses de namoro
O beijo só rolou no terceiro encontro. Questionado se a demora foi por causa da pandemia ou da timidez, Ricardo diz que os dois fatores influenciaram. “A pandemia pesou, seria o ato mais arriscado. Mas como passou uma semana e meia desde o primeiro encontro e ninguém tinha sintomas, ficamos mais tranquilos”, afirma.
Sempre que tem folga do trabalho, Ricardo vai de carro até Balneário Camboriú encontrar Ana Flávia. O casal começou a namorar no dia 30 de novembro e agora . “Ela já conheceu minha mãe. Estamos pensando em ir encontrar a família dela, mas a avó tem comorbidades, então é arriscado”, pondera.
A pandemia serviu como um agente catalisador no relacionamento de Natasha e Ricardo, o segundo encontro dos dois já foi na casa dela. “Desde aquele dia [na praia], a gente passou a se ver com frequência e se encontrar na minha casa. Quando ele chegava aqui, lavava bem as mãos e fazia o teste [de diagnóstico para a covid] por causa do trabalho”, conta. “No nosso primeiro cinema, a gente já estava há 4 meses juntos”, lembra.
Nathasha mora com os pais, que foram receptivos com Ricardo desde o início da relação, apesar do contexto atípico. “A gente acabou ficando mais junto em casa, conversando coisas mais íntimas, que não seriam citadas em um bar com música alta. A pandemia nos aproximou muito”.
A proximidade foi tanta que o casal já resolveu morar junto. Ele está de malas prontas para o Rio de Janeiro. “A gente já está com praticamente tudo comprado. Fizemos um chá de cozinha online para receber a contribuição dos amigos”, diz a escritora.
Ela ainda conta que logo no começo da quarentena terminou um relacionamento, e a expectativa era permanecer solteira por muito tempo. “Eu não esperava [começar outro namoro]. Achei que fosse uma coisa muito surreal”, confessa.
Risco de contágio pelo coronavírus
O infectologista Carlos Lazar, professor da disciplina de moléstias infecciosas na PUC-SP (Pontifícia Universidade Católica de São Paulo), afirma que sempre haverá o risco de pegar coronavírus ao conhecer pessoas novas. No caso dos solteiros, o ideal seria esperar a pandemia ser controlada para dar o próximo passo. “É muito difícil estabelecer qual o grau de risco, mas esse não é um momento bom para socializar. Quanto menos encontros, melhor”, aconselha.
O especialista ressalta que já ter tido covid-19 não garante segurança, pois há casos de reinfecção, além de novas cepas em circulação. O fato de não apresentar sintomas, também não significa que a pessoa esteja livre do vírus, já que existe o período pré-sintomático da covid-19 e casos assintomáticos. O contágio deve ser evitado com máscara de proteção, higienização constante e privação do contato físico.
Fonte: R7
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