Criado na zona rural de Roteiro, o garoto prodígio Marcos Vinícius dos Santos, de 13 anos, não imaginava o que estava por vir. Acostumado com uma rotina cheia de diversão, de repente acordou sem vontade de sair, de comer, de brincar. Na mesma hora, seus pais perceberam que algo estava errado e, com isso, vieram episódios de febre, vômitos e as buscas por um diagnóstico.
“Foi do nada, eu nem lembro direito, é como se eu tivesse tido um branco, não sei explicar. Meu pai contou que me levou para muitos médicos na cidade, lembro que tomei soro, mas não adiantava”, recordou Vinícius, que foi complementado por seu pai, Moisés José dos Santos. “Levei-o para consultas a médicos particulares, um deles o encaminhou para o Hospital [Escola] Helvio Auto, mas depois transferiram para o HGE [Hospital Geral do Estado]”, recorda.
O garoto chegou ao HGE no último dia nove de janeiro e relatou que estava com o rosto todo inchado, não sentia dores, mas, estava angustiado por ver sua mãe, Ana Valéria dos Santos, preocupada e chorosa. Sem entender o que estava acontecendo, por vezes decidiu fechar os olhos, orar e dormir.
“Nunca tinha ficado internado em um hospital, isso me amedrontava também. Só que, eu acho que perceberam isso em mim, pois todo mundo que chegava para falar comigo me trazia alegria. Tinham momentos que eu me desanimava, mas alguém chegava e me animava. Eu orava, pedia a Deus para que tudo passasse e acho que Ele me atendeu”, disse o menor com emoção.
Enquanto todos se mobilizavam em orações, a equipe da Pediatria do HGE buscava as respostas. Como faz com todos os pacientes, a médica-pediatra Ana Carolina Ruela reuniu todo o corpo clínico, que também inclui os residentes e demais profissionais da saúde, para estudar o caso. O diagnóstico não foi imediato, isso porque, se trata de uma doença rara, não frequente na faixa etária de Vinícius.
“Ele teve paracoccidioidomicose, que é uma infecção fúngica rara, típica da zona rural, caracterizada por febre prolongada, aumentos dos linfonodos, lesões na mucosa oral e alterações de baço, fígado e hemograma. O diagnóstico é fechado após estudos clínicos, por meio da análise de exames, como a cultura e a histopatologia. Seu agente, o fungo Paracoccidioides brasiliensis, pode ser encontrado no solo como mofo, com a infecção ocorrendo em razão da inalação de conídios [esporos produzidos pela forma miceloide dos fungos]”, explicou a pediatra.
Voltou a sorrir – Com o tratamento iniciado no HGE, em pouco tempo o sorriso voltou no rosto desse menino prodígio. A alegria foi tanta, que esta semana, no aniversário de sua médica, ele chegou na sala dos médicos tocando violino, como forma de agradecimento. A iniciativa pegou muitos de surpresa, principalmente aqueles que não conheciam o talento de Vinícius e sua fé.
“Ah, eu gosto de me divertir, mas também gosto de sair em missão com os meus amigos da Congregação Cristã Brasil. Acho que é o que sinto mais falta, pois eu participo da orquestra e já viajei até para Capela e Campo Alegre. Quando tinha 10 anos, eu pedi a minha vó para tocar violino, porque eu vi uma pessoa tocando e achei bonito. Então, a minha vó me deu de presente e um irmão lá da Igreja se dispôs a me ensinar”, esclareceu o jovem músico.
Alta médica – Nesta sexta-feira (12), Vinícius dos Santos recebeu alta médica e as orientações para seguir com o tratamento com uma médica infectologista pediátrica. Mas antes de ir embora, fez questão de tocar seu instrumento preferido para a equipe que cuidou de sua saúde. Com muita gratidão e emoção, médicos e enfermeiros aplaudiram o garoto, surpreendidos com o seguinte pedido.
“Ainda não sei bem o que serei quando crescer, mas quero me formar na faculdade, como minha mãe, arrumar um emprego, formar minha família e construir a minha casa. Por agora, eu estou doido para voltar para minha Igreja, ver minha irmã, mas, quando essa pandemia, acabar eu quero voltar para tocar aqui no Dia das Crianças”, adiantou o nada pequeno roteirense.
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