O ministro da Justiça, Anderson Torres, disse que restos mortais foram encontrados no Amazonas pela Polícia Federal, nesta quarta-feira (15), na região onde o jornalista inglês Dom Phillips e o indigenista Bruno Araújo desapareceram em 5 de junho, na Terra Indígena do Vale do Javari.
Os "remanescentes humanos", como são chamados de forma técnica, foram encontrados no local onde estavam sendo feitas as escavações, segundo Torres. O material será submetido à perícia. Ainda nesta quarta, a Polícia Federal vai prestar esclarecimentos em uma coletiva de imprensa, marcada para às 20h30, no horário de Brasília.
Mais cedo, um dos pescadores detidos pela PF confessou ter matado, esquartejado e ateado fogo nos corpos do jornalista e do indigenista. Duas pessoas estão presas, Osoney da Costa e Amarildo dos Santos. Eles foram vistos por testemunhas perseguindo a lancha dos profissionais.
De acordo com informações obtidas pelo R7, um dos suspeitos informou o local em que os corpos foram incendiados e abandonados. Equipes da Polícia Federal foram até a região para confirmar a informação. A partir de agora, as diligências tentam entender as motivações e as circunstâncias das mortes.
O desaparecimento do repórter e do indigenista, que é servidor da Fundação Nacional do Índio (Funai) repercutiram no Brasil e no exterior. Ambos estavam realizando pesquisas e entrevistas na região para a produção de um livro e de reportagens sobre invasões nas áreas indígenas. O Vale do Javari é uma localidade com atuação intensa de narcotraficantes, garimpeiros ilegais e madeireiros que tentam expulsar povos tradicionais da região.
O servidor da Funai, que estava licenciado de suas funções na fundação, era alvo de ameaças constantes por parte de garimpeiros e madeireiros na região. Segundo a União das Organizações Indígenas do Vale do Javari (Univaja), Bruno foi intimidado dias antes da viagem. As buscas foram coordenadas pela Policia Federal com o auxílio de outras forças de segurança.
Região de conflitos
A Terra Indígena Vale do Javari, onde Bruno Araújo Pereira e Dom Phillips desapareceram, é palco de conflitos que envolvem garimpo, extração de madeira, pesca ilegal e narcotraficantes. Eles faziam o trajeto entre a comunidade ribeirinha São Rafael e a cidade de Atalaia do Norte, a 1.135 quilômetros de Manaus.
Com 8,5 milhões de hectares, a terra indígena fica localizada no extremo oeste do Amazonas, na fronteira com o Peru, e abriga ao menos 14 grupos isolados — a maior população indígena não contatada do mundo. A área é a segunda maior terra indígena do país — atrás apenas da Yanomami, com 9,4 milhões de hectares — e tem acesso restrito, feito apenas por avião ou barco, já que a região não tem eixos rodoviários nem ferroviários próximos.
No entanto, o local em que o jornalista e o indigenista desapareceram costuma ser movimentado. A distância da comunidade ribeirinha São Rafael, onde a dupla foi vista pela última vez, até a cidade de Atalaia do Norte, onde fica o posto da Funai, pode ser percorrida em duas horas de viagem de barco.
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