Nos pés, um tênis rasgado. Nas costas, uma mochila com o anúncio: "sou cuidador de idosos e preciso trabalhar". Enquanto espera uma oportunidade melhor, Samuel Pires ganha a vida fazendo entregas em cima de uma bicicleta velha, com o assento remendado e uma série de gambiarras para amarrar as rodas e a corrente. A bicicleta já foi motorizada, mas o motor não funciona mais e ele tem que pedalar - quando dá.
— Às vezes, ela quebra e eu completo o caminho a pé. Quando chega em casa, eu faço outro remendo.
Nesta quarta-feira (24) Pires completa 30 anos. Durante um terço de sua vida, ele foi garçom. Perdeu o emprego no ano passado em função da pandemia de covid-19. A primeira opção foi fazer um curso de cuidador de idosos, mas não conseguiu vaga na área.
Para sobreviver e sustentar a família - esposa e três filhos - ele fez um apelo em redes sociais e ganhou a bicicleta na qual trabalha e começou a fazer entregas. Antes, a renda chegava a R$ 2.200 por mês. Hoje, ele ganha R$ 150 por semana, suficiente apenas para levar comida para casa.
— Meu aluguel está atrasado, mas ou eu como ou pago o aluguel.
O jovem mora em Vespasiano, na região metropolitana de Belo Horizonte, e faz as entregas na Savassi, movimentada área da região Centro-Sul da capital mineira. São duas horas e meia pedalando para vencer os trinta quilômetros que separam a casa dele do local de trabalho. O expediente é na hora do almoço, de 11h às 14h. Na volta, mais duas horas e meia pedalando para chegar em casa.
De acordo com a Associação Brasileira de Bares e Restaurantes em Minas Gerais (Abrasel), o setor fechou 30 mil vagas desde o início da pandemia só em Belo Horizonte. No dia do seu aniversário, o que Pires mais deseja é sair desta estatística, conseguir um emprego e retomar a vida que tinha antes.
— Dava para viver bem. De repente, mudou tudo.
Fonte: R7
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