11/11/2022 13:45:43
Justiça
Eleitores cobram pagamento por ter votado em deputado estadual de Pernambuco
Imagens em que pessoas cobram um candidato chamado Francismar deram origem à operação da Polícia Federal
Reprodução/WhatsAppAdesivo de campanha de Francismar Pontes (PSB) em vídeo investigado em operação sobre compra de votos
Redação com G1

 Um vídeo que circula nas redes sociais, com eleitores relatando suposta compra de votos, foi o que deu início à operação da Polícia Federal (PF), deflagrada nesta sexta (11).

A reportagem teve acesso às imagens e confirmou com fontes policiais. Nelas, várias pessoas reclamam de ter votado em um candidato chamado Francismar, mas não ter recebido o combinado em troca.

O único com esse nome que concorreu nestas eleições foi o deputado estadual Francismar Pontes (PSB), reeleito no pleito deste ano. A reportagem tentou, mas não conseguiu contato com o deputado até a última atualização desta reportagem.

A operação Dois Unidos investiga o crime de corrupção eleitoral. Foram expedidos dois mandados de busca e apreensão nos bairros do Parnamirim e Jaqueira, na Zona Norte do Recife, mas a polícia, nas diligências, também fez buscas em outro local. O nome da operação faz referência ao bairro em que ocorreram os fatos.

O vídeo, gravado por uma mulher, mostra dezenas de pessoas na rua, no que seria o dia 2 de outubro, primeiro turno das eleições. A mulher e várias outras pessoas fazem reclamações sobre o não recebimento de dinheiro.

"Está todo mundo aqui na casa de Tiago, querendo receber o dinheiro, e nada. [...] Todo ano, quando tem eleição, a gente vem e não recebe. Todo ano é isso. Recebem cinco e mil não recebem. Agora, todo mundo que está aqui, votou. Todo mundo aqui com o papelzinho. Aí a gente quer o quê? Nossos direitos. Se foram atrás da gente para botar o nome na lista foi para quê? Para receber", afirma, enquanto mostra comprovantes de votação.

Também é possível ver adesivos com o nome e o número de Francismar Pontes, que recebeu 66.621 votos nas eleições deste ano e foi reconduzido ao cargo. Ele é médico e já exerceu seis mandatos parlamentares, sendo quatro como vereador do Recife. Elegeu-se deputado pela primeira vez em 2010 e foi reeleito em 2014 e 2018.

No vídeo, a mulher diz também que vai à clínica que pertence ao deputado. "Bora todo mundo se juntar para ir à clínica de Francismar, ou na casa dele", declara.

O delegado Belmiro Araújo, responsável pelas investigações, disse que dois dos mandados foram cumpridos na casa do candidato e na casa do suspeito de "aliciar" os eleitores. Um terceiro local foi identificado ao longo da ação, e também foi alvo de buscas.

"A gente está no início da investigação, a gente basicamente descobriu os primeiros envolvidos relacionados a esse vídeo e a localidade. Então, cumprimos buscas na residência do candidato, na residência do aliciador, e a gente vai analisar o material apreendido e buscar novas provas em campo", afirmou o delegado.

Belmiro Araújo também disse que, em tese, os eleitores que venderam o voto também podem ser responsabilizados. Mas a prioridade é identificar os responsáveis pela compra, que se aproveitam da situação econômica dos eleitores.

"Em tese, a corrupção eleitoral envolve tanto quem compra quanto quem vende o voto. Mas na realidade, a conjuntura atual, de hipossuficiência dos eleitores, de vulnerabilidade desses eleitores, na prática, é muito difícil que eles sejam apenados ou responsabilizados pela conduta. O que importa ao sistema persecutório e a toda a população é o candidato, que se aproveita dessa vulnerabilidade e busca comprar seu voto para se perpetuar no poder", declarou.

O g1 entrou em contato com o PSB e com a Assembleia Legislativa de Pernambuco (Alepe), mas não obteve resposta até a última atualização desta reportagem.

Operação Dois Unidos

Foram realizadas diligências preliminares e a PF identificou a localidade, assim como o suposto coordenador da campanha e o respectivo candidato. Os mandados foram expedidos pela 9ª Zona Eleitoral de Pernambuco.

"A investigação busca obter novos elementos de prova, e objetiva confirmar o modus operandi dos investigados, bem como identificar outros envolvidos", afirmou a PF, por meio de nota.

Os investigados respondem pelo crime de corrupção eleitoral, cuja pena pode alcançar quatro anos e multa, além de outros ilícitos eleitorais.

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