17/10/2023 08:07:03
Mundo
Com poucas horas de energia, hospitais em Gaza podem colapsar
A ONU alertou que "milhares de pacientes" estarão em risco se as reservas de combustível - que, entre outras coisas, abastecem geradores de energia elétrica - acabarem em todos os hospitais de Gaza nas próximas horas
Reuters
Redação com G1

A Organização das Nações Unidas (ONU) alertou que "milhares de pacientes" estarão em risco se as reservas de combustível - que, entre outras coisas, abastecem geradores de energia elétrica - acabarem em todos os hospitais de Gaza nas próximas horas.

Quase metade dos feridos que chegam aos hospitais em Gaza são crianças, algumas das quais são os únicos sobreviventes das suas famílias, disse um médico ao programa Today da BBC.

Ghassan Abu-Sittah, um cirurgião que normalmente trabalha no Reino Unido, chegou a Gaza na segunda-feira passada (9/10) e permaneceu na região norte, trabalhando num hospital local.

No domingo, ele disse que duas meninas, de quatro e cinco anos, foram trazidas com queimaduras e ferimentos na cabeça.

"Elas foram as únicas retirados da casa da família como sobreviventes. Todos os dias temos casos como estes”, disse Abu-Sittah, explicando que a maioria das pessoas permanece na zona de evacuação.

"Tornar-se refugiados é uma parte tão importante da identidade dos palestinos que as pessoas simplesmente não querem passar por isso novamente", disse ele, acrescentando que áreas consideradas seguras foram bombardeadas com a mesma ferocidade que outras.

Khan Younis à beira do colapso
Os recursos escassos estão se esgotando rapidamente em Khan Younis, relata o repórter da BBC Rushdi Abu Alouf direto da cidade que recebe milhares de palestinos em fuga da região norte da Faixa de Gaza.

"Khan Younis é uma cidade que já estava exausta. A onda [de refugiados] veio muito forte e as coisas estão começando a colapsar", escreve Alouf.

O principal hospital da cidade, já com poucos itens essenciais, não só acolhe doentes e feridos do norte, como tornou-se um local de refúgio, relata o correspondente.

Refugiados apinham-se nos corredores, enquanto os médicos cuidam dos recém-chegados feridos pelas bombas israelenses. O barulho das muitas vozes falando ao mesmo tempo enche o ar.

"Não se pode culpar as pessoas por virem para cá. Os hospitais estão entre os locais mais seguros para se estar em tempos de guerra, protegidos pelo direito internacional", reflete o repórter.

"De certa forma, essas pessoas talvez sejam as sortudas, pelo menos por enquanto."

Os médicos não têm quase nada para dar ao fluxo de novas vítimas – a água é racionada a 300 ml por dia por paciente. Os refugiados não recebem nada.

Água acabando em Gaza
A água está "acabando" em Gaza, disse Jason Lee, da organização não governamental Save the Children à BBC, de Ramallah, na Cisjordânia.

A agência da ONU para os refugiados palestinos, UNRWA, disse nesta segunda-feira que as 6.000 pessoas deslocadas em sua base logística de Rafah estavam reduzidas a um litro de água por pessoa por dia.

Também publicou nas redes sociais que um quarto de milhão de pessoas se mudaram para os seus abrigos nas últimas 24 horas – a maioria delas em escolas onde "a água potável acabou".

O escritório da ONU para coordenação de assuntos humanitários (OCHA) informou que a última central de dessalinização de água do mar em funcionamento em Gaza foi fechada no domingo e que algumas pessoas estão recorrendo ao consumo de água salobra extraída de poços agrícolas.

Os principais fornecedores de água potável são agora fornecedores privados que operam pequenas usinas de dessalinização e purificação de água, que funcionam principalmente com energia solar, acrescentou a organização.

Uma menina palestina cuja família fugiu de sua casa em Gaza diz que "não consegue nem descrever a condição" em que eles estão vivendo.

Rahaf, que agora está em Khan Younis, disse: "Não há água potável. Não há água sequer para lavar nossos rostos. Não podemos mais suportar isso."

Ela descreveu ter visto sangue e corpos nas ruas e como tenta acalmar os irmãos quando ouvem explosões, dizendo-lhes que os sons são de uma "cerimônia de casamento", que elas são "normais".

Ela esperava ter algo para comer hoje, depois de seu pai ter esperado três horas ontem em uma padaria por pão, em meio à escassez de comida e água na região.

Ração de sardinhas e carne enlatada
Na cidade de Khan Younis, no sul de Gaza, Mohammad Ghalayini, um cidadão britânico que vive em Manchester, mas que regressou à sua cidade natal em Gaza no mês passado, busca se proteger dos bombardeios israelenses em um abrigo.

A escassez de combustível em Gaza impede os civis de utilizarem bombas domésticas para terem acesso à água, diz ele. As bombas municipais foram desligadas na semana passada, quando Israel cortou o fornecimento de combustível, energia, água e outros bens após os ataques do Hamas.

O abastecimento de água potável está sendo distribuído "muito esporadicamente", relata ele à BBC.

Ghalayini diz ter ouvido de pessoas abrigadas em escolas da ONU, das quais existem milhares, que lhe disseram que suas rações alimentares consistem em "uma lata de sardinha e uma lata de carne enlatada, sem pão... as pessoas estão realmente em dificuldades".

14 funcionários da ONU mortos
Uma porta-voz da UNRWA disse nesta segunda-feira que 14 funcionários da ONU, principalmente professores, foram mortos e o número aumenta à medida que os ataques aéreos israelenses continuam quase ininterruptamente.

Juliette Touma afirma que o restante dos seus 13 mil funcionários estão desesperados, exaustos e aterrorizados com o que as próximas horas, e o dia seguinte, trará.

Eles compartilham que não conseguem nem mesmo garantir aos filhos que tudo ficará bem. Os suprimentos estão se esgotando rapidamente e os escritórios das Nações Unidas no sul de Gaza estão reduzidos a um litro de água por dia.

Touma está preocupado com doenças transmitidas pela água porque as pessoas em Gaza estão recorrendo a beber de fontes de água suja, como poços.

Ela também disse que relatos de que caminhões-tanque de combustível cruzaram para Gaza eram falsos. A UNRWA estava transferindo o estoque existente, mas limitado, de combustível do interior da fronteira de Gaza para prestadores de serviços de saúde na cidade de Gaza.

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