A França iniciou nesta quarta-feira (8) o julgamento de um dos ataques terroristas mais violentos em seu território, seis anos após uma noite de horror em Paris em novembro de 2015 que terminou com 130 mortos e um agressor vivo.
Às 13h17 (8h17 de Brasília), o tribunal abriu o megaprocesso no imponente Palácio da Justiça de Paris e que deve ter a duração de nove meses, com quase 1.800 partes civis e 20 réus, seis deles julgados à revelia.
O franco-marroquino Salah Abdeslam, presente na sala, é o principal acusado pelos massacres perpetrados no dia 13 de novembro de 2015 no Stade de France, norte de Paris, nos cafés da zona leste da capital e na casa de espetáculos Bataclan.
Suas primeiras palavras no tribunal foram a profissão de fé islâmica e garantindo, quando questionado sobre sua profissão, que deixou tudo para se tornar "um combatente do Estado Islâmico", a organização terrorista que assumiu a responsabilidade pelos ataques.
Usando máscara, o único membro vivo dos comandos que atacaram Paris sentou-se no banco dos réus, cercado por vários membros das forças de segurança.
O esquema de segurança também foi reforçado fora do tribunal, em razão do risco de uma ameaça terrorista, de acordo com o porta-voz do governo, Gabriel Attal.
Em 2020, durante o julgamento do ataque à revista satírica Charlie Hebdo, novos atentados atingiram a França.
O "julgamento do século", nas palavras da imprensa francesa, "é um salto para o desconhecido", considera Arthur Dénouveaux, sobrevivente do Bataclan e presidente da associação de vítimas 'Life for Paris'.
"Sem dúvida será o julgamento mais longo da história", disse à AFP Christian Saint-Palais, advogado de um dos réus. E todos as atenções estarão voltadas a Abdeslam.
"Julgamento excepcional"
Este homem de 31 anos, que no passado cometeu crimes menores antes de se converter ao jihadismo, é o único agressor com vida, o "décimo homem", e o julgamento deve esclarecer seu papel exato.
"Em primeiro lugar, quero dizer que não há outro Deus além de Alá e que Maomé é seu profeta", disse, quando solicitado a se identificar.
"Agora, julguem-me, façam o que quiser de mim", "Não tenho medo de vocês (...) coloco minha confiança em Alá e isso é tudo, não tenho nada a acrescentar", declarou.
"Vamos garantir que este julgamento excepcional não se torne um julgamento de exceção", advertiram seus advogados. Doze dos 20 réus enfrentam a possibilidade de prisão perpétua pelo massacre que começou pouco depois das 21h15 em Saint-Denis.
Naquele momento, um homem-bomba detonou seus explosivos perto do Stade de France, onde acontecia um jogo amistoso entre França e Alemanha, com milhares de torcedores nas arquibancadas, incluindo o então presidente François Hollande.
Outros dois terroristas continuaram a ação, matando um motorista de ônibus. Abdeslam também deveria ter atacado, mas acabou fugindo para a Bélgica porque, segundo os investigadores, seu cinto de explosivos estava com defeito.
Então, no centro de Paris, dois comandos de três homens dispararam contra as pessoas que estavam em bares e restaurantes e no Bataclan, onde as forças de segurança lançaram um assalto depois da meia-noite.
O balanço do pior ataque em Paris desde a Segunda Guerra Mundial foi de 130 mortos e mais de 350 feridos, em um momento em que uma coalizão internacional lutava contra o EI na Síria e no Iraque e milhares de sírios tentavam chegar à Europa fugindo da guerra.
Quatro anos de investigação permitiram reconstituir grande parte da logística dos ataques e do percurso que os comandos tomaram: por uma rota migratória da Síria até os seus esconderijos alugados na Bélgica e perto de Paris.
Os investigadores descobriram uma célula terrorista muito maior e também responsável pelos atentados que deixaram 32 mortos em 22 de março de 2016 no metrô e no aeroporto de Bruxelas, outro ataque violento do período na Europa.
"Até que eu morra"
"Os sobreviventes dos ataques de 13 de novembro têm uma necessidade urgente de explicação sobre o que aconteceu, o que sofreram", disse a prefeita de Paris, Anne Hidalgo, ao jornal Le Parisien, para quem este julgamento os ajudará em "seu processo de reconstrução".
Para François Molins, ex-procurador de Paris, é necessário construir "uma memória coletiva que reafirme os valores da humanidade e da dignidade" e permitir que "as famílias das vítimas compreendam o que aconteceu", disse à rádio RTL.
"A dor que tenho não vai ser reparada pela sentença proferida pelo tribunal. Sentirei dor até morrer e a falta de Juan Alberto terei até morrer", assegurou à AFP Cristina Garrido, cujo filho foi assassinado no Bataclan.
O primeiro momento importante do julgamento terá início no final de setembro com os depoimentos dos sobreviventes e familiares das vítimas, durante cinco semanas, e suas associações já alertaram para a emotividade.
O interrogatório dos acusados - seis dos quais são julgados à revelia - acontecerá em 2022 e a principal questão será se Abdeslam vai abandonar o silêncio que tomou desde sua prisão na Bélgica em 2016, além de suas referências ao Islã.
Fonte: R7 com AFP
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