18/04/2023 15:05:54
Mundo
Esposa de atacante ex-CSA pede ajuda para que ele consiga deixar o Sudão
Confrontos entre paramilitares e forças do governo já deixaram mais de 200 pessoas mortas e cerca de 1.800 feridos no país africano
ReproduçãoPaulo Sérgio atacante formado no Flamengo e que jogou no CSA
Redação com G1

"É só barulho de bomba, explosão e tiro o tempo inteiro. Estamos com medo". Esse é o relato de desespero de Blanca Bullos, esposa do jogador brasileiro Paulo Sérgio, que está no Sudão, onde confrontos entre paramilitares e forças do governo já deixaram mais de 200 pessoas mortas e cerca de 1.800 feridos.

Paulo Sérgio é um dos nove jogadores brasileiros que jogam no Sudão e tentam deixar o país africano. Com passagens pelo Flamengo, Juventude, CSA, Ponte Preta e Operário (PR), ele defende atualmente o Al-Merreikh.

Blanca é de Barra Mansa (RJ) e está no Brasil com a filha do casal, de seis anos. Ela mantém contato com o marido pela internet, que está instável, e pede para que o Itamaraty "tome uma atitude" para resgatar os brasileiros que estão no Sudão.

"A gente vem aqui fazer esse apelo em nome de toda a família do meu marido, da nossa família, da mãe do meu marido e do pai do meu marido. Que o Itamaraty tome uma atitude, que se tiver um cessar-fogo, que se puder mediar essa situação desses brasileiros nesse momento", pede Blanca.

Em nota enviada ao g1, o Ministério das Relações Exteriores disse que está em contato com os brasileiros que vivem no Sudão "de modo a prestar toda a assistência possível aos nacionais".

Disse ainda que "o governo brasileiro tem mantido coordenação com outros países que também têm cidadãos em território sudanês sobre ações coordenadas de assistência, a serem eventualmente implementadas a partir do momento em que as condições de segurança permitirem".

Conflito

O conflito entre paramilitares e forças do governo do Sudão teve início no sábado (15). Desde então, intensos combates tomaram as ruas de Cartum, capital do país.

Os confrontos começaram após uma ruptura entre o Exército e os paramilitares das Forças de Apoio Rápido (RSF). Em outubro de 2021, os dois grupos se juntaram para dar um golpe que tirou os civis do poder, mas agora romperam e brigam pelo controle do país.

Apesar de o Sudão ter um histórico de conflitos internos, a capital Cartum sempre foi poupada e vivia uma relativa paz. Desta vez, no entanto, Cartum é o centro dos enfrentamentos.

Nesta terça-feira (18), o número de mortos no conflito passou de 200, segundo o chefe da missão da ONU no país, Volker Perthes. Outras 1.800 pessoas ficaram feridas.

Pelo menos dois hospitais da capital tiveram de ser esvaziados após serem atingidos por foguetes e balas. Médicos alegam ter ficado sem bolsas de sangue e material para cuidar dos feridos.

Desde sábado, Cartum, de onde sobem colunas de fumaça, está envolta por um cheiro de pólvora. Os moradores estão entrincheirados em suas casas, a maioria sem água encanada ou eletricidade.

O Exército do Sudão e o grupo paramilitar anunciaram nesta terça-feira um cessar-fogo de 24 horas. Segundo o general do Exército Shams El Din Kabbashi, a pausa nos conflitos acontecerá a partir de 06h no horário local (01h no horário de Brasília) desta quarta-feira (19).

'Essa guerra não é nossa'

Em entrevista ao g1 Rio, jogadores brasileiros que estão no Sudão disseram que estão trancados no prédio onde moram por conta do conflito armado. Eles relatam uma rotina de medo e até de restrições alimentares por conta da comida que começa a faltar.

“Essa guerra não é nossa. E cada dia que passa é mais apreensão”, disse o jogador Paulo Sérgio.
O atleta tem 33 anos e é carioca. Os nove brasileiros do time são entre jogadores e comissão técnica. Segundo ele, são seis pessoas do Rio de Janeiro, uma do Paraná, uma de São Paulo e uma de Minas Gerais.

“A gente não sabe o que vem pela frente, qual é o desenrolar disso. A gente acorda, faz as refeições e passa o dia conversando. A comida começa a acabar. Estamos fracionando. A luz e a internet estão caindo. A gente tenta poupar os dados, mas o nosso medo é ficar incomunicável. A gente não sabe o que vai acontecer”, contou o jogador Paulo Sérgio.

O atacante estava disputando o Campeonato Paulista quando recebeu o convite para atuar pelo Al-Merreikh. Outros brasileiros também viram uma oportunidade em atuar no Sudão, já que o time iria disputar competições internacionais com bastante visibilidade.

“Como o nosso treinador havia trabalhado aqui, ele deu informações. Ele disse que, no momento, era um país tranquilo para viver. Mesmo com as dificuldades do passado. Ele nos tranquilizou, apostamos e fomos”, disse o jogador.

Paulo e os outros integrantes brasileiros do grupo chegaram ao clube em janeiro. Eles passaram por uma pré-temporada no Egito. Depois disso, jogaram na Argélia, Tunísia e Líbia, antes de voltar para o Sudão.

Em Cartum, jogaram duas partidas do campeonato local e ainda fizeram mais uma viagem, para a Arábia Saudita. Os problemas começaram a aparecer no retorno ao país, já neste mês.

“Ao retornar, aparentemente tudo estava tranquilo. Ninguém falava nada sobre guerra. Na sexta passada, eu fui para o hotel com a minha equipe para concentrar e descansar para o próximo jogo”, contou Paulo Sérgio.

A partida estava prevista para o sábado (15), mas não aconteceu, pois o conflito eclodiu no país.

“No sábado de manhã, eu acordei com um barulho muito grande de bombas e de tiros. Depois, eu me dei conta que o nosso hotel estava no foco de muitos tiros. Eu via caças passando. Eles tentavam derrubar drones. Foi realmente assustador. Não saímos do hotel”, relatou o atacante.

Pela janela, os jogadores viram trocas de tiros nas ruas próximas. O clima de tensão permaneceu também no domingo, pois não tinham como sair do hotel.

“Os jogadores sudaneses, os que falam inglês, recomendaram ficar lá por segurança”, disse.

Ruas desertas

Na segunda (17), por volta de meio-dia, os jogadores decidiram voltar para o prédio onde moram, em Cartum. Eles usaram um tuk-tuk na locomoção, um triciclo motorizado com cabine de transporte para passageiros. Segundo Paulo, as ruas estavam completamente desertas.

“Fizemos o trajeto de tuk-tuk. O condutor falava o trajeto inteiro no telefone, suspeito que para saber se poderia passar. No prédio, eu me sinto seguro pois todos os brasileiros estão juntos”, contou Paulo.

Mesmo no prédio onde vivem, a sensação de segurança é relativa. Um segurança é responsável pelos moradores, mas eles temem que algo mais grave aconteça.

“No nosso prédio tem um segurança com um fuzil AK47 na porta, mas, se algo mais forte acontecer, não tem como segurar”, explicou.

Paulo Sérgio nasceu na comunidade Tavares Bastos, no Catete, na Zona Sul do Rio de Janero. O que ele mais deseja é reencontrar a família.

“Nossos familiares estão tensos, angustiados. Eu tenho uma filha de 6 anos. A gente não tem informações”, finalizou Paulo Sérgio. 

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