20/05/2020 09:30:48
Mundo
Europa se prepara para reinício econômico após pandemia do coronavírus
Plano lançado por Alemanha e França visa ajudar os países mais atingidos pelo coronavírus a reabrir suas economias após semanas de isolamento
Focke Strangmann / EFE - EPAAlemães assistem a jogo do campeonato local em restaurante reaberto esta semana
Redação com R7

O recuo da pandemia do novo coronavírus em diversos países, especialmente na Europa, tem permitido a reabertura do lazer e do turismo pouco antes da chegada do verão ao hemisfério norte, enquanto os diversos governos estudam planos de médio e longo prazo para reduzir os impactos da crise econômica causada pela parada na atividade econômica durante o confinamento.

Com esse objetivo, autoridades da França e da Alemanha anunciaram, na segunda-feira (18), sua proposta de implementar um fundo de 500 bilhões de euros (cerca de R$ 3,1 trilhões) para auxiliar os países mais castigados pela pandemia.

A Itália abre suas praias

Na Itália, o primeiro país do mundo a declarar o confinamento obrigatório em todo o seu território por conta do coronavírus, as cidades voltam esta semana à vida, após dez semanas de quarentena, 226 mil pessoas contaminadas e mais de 32 mil mortes.

Lojas, restaurantes, hotéis, barbearias, museus e até praias puderam reabrir, mas sempre com medids de segurança e com cartazes para que as pessoas se alternem para entrar, para que elas usem as máscaras e lavem sempre as mãos.

Em Bérgamo, uma das cidades mais atingidas pela pandemia, o aeroporto foi reaberto. Uma medida simbólica, já que muitos moradores se contaminaram após viajar para Milão para assistir um jogo da Champions League em março.

Em 3 de junho, a Itália vai reabrir as fronteiras com os demais países da União Europeia, sem que as pessoas que entrarem tenham que passar por uma quarentena, e permitirá as viagens internas entre as difetentes regiões.

Alemanha retira recomendação contra viagens

A Alemanha já enxerga a possibilidade de viagens de verão para o exterior a partir de 15 de junho. Mesmo assim, afirma o ministro das Relações Exteriores, Heiko Maas, "está claro que não podemos contar com uma volta rápida ao que era o habitual", já que tudo depende das restrições que podem ser mantidas por outros países e da evolução da pandemia.

Maas fez essa delcaração após participar de uma videoconferência com colegas de dez países: Espanha, Itália, Portugal, Croácia, Malta, Grécia, Áustria, Bulgária, Eslovênia e Chipre. Também anunciou uma reunião para daqui a 15 dias, onde eles discutirão a evolução da reabertura e medidas concretas para seguir.

Ele ressaltou que em muitos lugares da Europa a evolução é positiva, mas dentro de cada um dos países há situações "bem diferentes". Como exemplo, mencionou os casos de Barcelona e Madri, que tiveram altos níveis de contágio durante semanas e ainda estão sob fortes restrições, e o das ilhas Baleares, uma região menos atingida pelo coronavírus, onde a reabertura está mais avançada.

Macron diz que haverá temporada turística

O presidente da França, Emmanuel Macron, declarou que "haverá uma temporada turística na Europa" e terá de ser com o vírus, mas que será feito "o máximo possível para que, no continente, as coisas correm bem" pela saúde dos turistas e do setor.

Neste sentido, manifestou dúvidas sobre a quarentena decretada na Espanha para viajantes vindos do exterior e disse que não sabe se essa é "a medida mais eficaz e realista" do ponto de vista sanitário.

"A Espanha decidiu impor medidas de controle e regulação, nós agiremos de forma recíproca, nada além disso", disse Macron em uma coletiva de imprensa conjunto com a chanceler alemã, Angela Merkel.

Ele lembrou que, até 15 de junho, as fronteiras permanecerão fechadas para pessoas vindas de fora da Europa e que, a partir dessa data, será a evolução da pandemia que vai determinar a reabertura ou a manutenção da restrição de entrada.

Com relação à movimentação de cidadãos dentro do chamado espaço Schengen — formado pelos países-membro da União Europeia — Macron defendeu "não reduzir as liberdades" e "manter as mesmas regras para todos", mas disse que seu país aplicará a reciprocidade caso algum outro governo tome medidas unilaterais, como é o caso da Espanha.

500 bilhões para a reconstrução

Além das medidas para salvar o verão, o presidente francês e a chanceler alemã anunciaram que vão propor a criação de um fundo europeu de 500 bilhões de euros (cerca de R$ 3,1 trilhões) para a reconstrução, a serem destinados aos países mais castigados pela pandemia.

Merkel anunciou a proposta como uma iniciativa conjunta do eixo franco-alemão, após o fim da reunião por videoconferência com o presidente da França. Ela também assegurou que esta é uma resposta a curto prazo e que haverá outra para enfrentar as consequências em um período maior de tempo.

Ela reconheceu que há países da União Europeia que foram mais afetados do que outros e que, por isso, as circunstâncias atuais "colocam em perido a unidade" da UE.

O objetivo, segundo ela, é que o bloco europeu saia da crise atual mais "forte e unido" e acrescentou que o fundo proposto nesta segunda é uma quantia inicial para compensar as consequências da pandemia em um primeiro momento, mas que o alcance deverá ser maior.

A Comissão Europeia (CE) deu imadiatamente as "boas-vindas" ao plano franco-alemão que. Segundo a presidenta do organismo, Ursula von der Leyen, a iniciativa "reconhece o alcance e o tamanho do desafio econômico".

Para ela, a iniciativa "vai de encontro" ao plano de recuperação que está sendo elaborado pela CE e que deve ser apresentado no próximo dia 27. A estratégia europeia para a revitalização econômica deverá se basear em três pilares.

O primeiro são as medidas "imediatas" tomadas para permitir que os países apoiem suas economias, como um relaxamento das normas sobre ajudas estatais e a suspensão temporária das regras do bloco sobre o controle do déficit e da dívida públicos, assim como o apoio do Banco Central Europeu (BCE) e do Banco Europeu de Investimentos (BEI).

No segundo pilar estão as medidas que os ministros da Economia dos países do grupo tomaram em conjunto, que prevêem 540 bilhões de euros (cerca de R$ 3,37 trilhões) em empréstimos para apoiar as empresas por meio de um programa do BEI, os países por meio da linha de crédito do Mecanismo Europeu de Estabilidade e os trabalhadores com o programa SURE, que serve para custear postos de trabalho de empresas que não estão em funcionamento.

Por fim, no terceiro pacote de medidas aparecem a nova proposta de despesas europeias para o período de 2021 a 2027 e o instrumento de recuperação que será lançado por Bruxelas em 27 de maio.

O presidente do Conselho Europeu, o belga Charles Michel, afirmou que a futura política do bloco será essencial e que "relançar e transformar nossas economias, afetadas pela pandemia de covid-19, será chave".

A Espanha prepara seu plano para a economia

A necessidade de aproveitar a reativação da economia para transformá-la é o que inspirou também o plano anunciado pela ministra da Espanha para a Transição Ecológica, Teresa Ribera, Trata-se de uma estratégia para fomentar a economia circular de forma a situar as emissões de gases do inverno abaixo dos 10 milhões de toneladas e absorver parte do desemprego causado pela pandemia.

Um plano, disse a ministra, que vai exigir investimentos para a Espanha de mais de 2 bilhões de euros (cerca de R$ 12,5 bilhões) e vai propiciar a criação de postos de trabalho "que não requerem um nível elevado de especialização" e que, uma vez implementado, "poderia contribuir a absorver rapidamente parte do desemprego gerado pela crise" do coronavírus.

O risco de contágio não desapareceu

Enquanto isso, a Organização Mundial de Saúde (OMS), lembrou que não haverá risco zero no período pós-confinamento e que a maioria da população mundial segue suscetível a contrair o novo coronavírus (SARS CoV-2).

"A OMS respalda plenamente o desejo dos países de voltar a se colocarem de pé, de colocar mãos à obra. E justamente porque queremos a recuperação mundial o mais rápido possível, pedimos aos países que sejam cautelosos", declarou o diretor-geral da OMS, Tedros Adhanom Ghebreyesus.

Tedros inaugurou na segunda a assembleia anual da entidade, que já é considerada histórica pelo contexto da pandemia em que está sendo realizada e que precisou ser feita de forma virtual e encurtada: apenas dois dias com uma agenda centrada no coronavírus.

O responsável pela OMS revelou que os resultados dos exames serológicos que estão sendo realizados em dezenas de países indicam que apenas 10% de suas populações têm anticorpos para o vírus (a taxa sobre para 20% nas regiões específicas onde o coronavírus circulou com mais intensidade).

O número global de casos de covid-19 chegou aos 4,6 milhões e a América, a região mais afetada, superou a barreira dos 2 milhões de infectados, segundo os últimos números divulgados pela OMS. Os mortos em todo o planeta já passaram de 311 mil.

Depois do continente americano, a Europa é a segunda região mais afetada do mundo, com 1,89 milhão de casos, enquanto em terceiro lugar vem o Oriente Médio, com 338 mil contágios.

Os gráficos de casos diários mostram que o coronavírus só está claramente em queda na Europa, na Oceania e no leste da Ásia e continua se expandindo no resto do planeta, também no sul da Ásia e na África, apesar de nessas regiões os números absolutos ainda serem relativamente baixos.

As estatísticas da OMS colocam como os países com maior número de casos os EUA, a Rússia, o Brasil e o Reino Unido.

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