O mês de abril mal começou e já trouxe um importante avanço para o ramo da medicina, sobretudo no combate ao câncer. Isso porque na última quinta-feira (1), um estudo de Harvard mostrou que vacinas projetadas para combater o melanoma (a forma mais letal de câncer de pele) mantêm seus efeitos no sistema imunológico anos após a injeção.
Para chegar a essa conclusão, os cientistas examinaram oito indivíduos que tiveram seu melanoma removido cirurgicamente, mas ainda enfrentavam alto risco de recorrência.
Todos os participantes receberam a vacina experimental chamada NeoVax, e os resultados foram promissores: os pesquisadores descobriram uma resposta imune induzida pela vacina em todos os pacientes que pode “persistir por anos”.
A vacina faz com que o sistema imunológico crie células T antitumorais que são específicas de acordo com cada tumor e paciente. As células T são um tipo importante de glóbulo branco que ajuda o sistema imunológico a desenvolver imunidades duradouras contra doenças inflamatórias e autoimunes.
O trabalho envolveu pesquisadores do Dana-Farber Cancer Institute, do Brigham and Women's Hospital e do Broad Institute of MIT e da Universidade de Harvard. Para a revista da universidade, The Harvard Gazette, um dos líderes do estudo, Patrick Ott, professor de medicina de Harvard e diretor clínico do Melanoma Disease Center do Dana-Farber, mencionou que a personalização permite chegar a novos antígenos para tumores específicos.
"Na oncologia, quando encontramos uma mutação e, em seguida, usamos uma terapia direcionada, muitas vezes dizemos que é uma abordagem personalizada. Algumas das mutações que encontramos são compartilhadas por grupos de pacientes, mas essas são, na verdade, a exceção. Neoantígenos pessoais, vistos apenas no tumor daquele paciente individual, são muito mais comuns", explicou o professor. "Portanto, essas vacinas são feitas sob medida para cada paciente, com base no tumor de cada paciente. Cada vacina individual é diferente, não é um medicamento disponível no mercado", esclareceu.
O estudo vem para acompanhar o trabalho inicial publicado há quatro anos na revista científica Nature, onde, pela primeira vez, os pesquisadores testaram esse conceito de vacina personalizada em pacientes com câncer. "Os pacientes tratados no estudo tinham melanoma de alto risco, o que significa que eles tiveram seu melanoma removido cirurgicamente e ficaram livres do tumor. Em seguida, eles receberam as vacinas para evitar uma recorrência. Mostramos segurança, viabilidade e respostas imunes robustas naquele estudo inicial", contou o pesquisador.
No estudo em questão, a equipe teve dois pacientes com respostas completas. A ideia do estudo atual foi acompanhar esses pacientes. "Queríamos saber se as respostas imunológicas contra os neoantígenos vacinais que vimos inicialmente ainda estavam presentes. E encontramos respostas, vimos a durabilidade dessas respostas das células T, o que foi muito gratificante", completou o professor.
Para Ott, com ferramentas de alta resolução para dissecar as respostas imunes específicas da vacina, foi possível encontrar mudanças muito parecidas com o esperado após a vacinação: semanas após o tratamento, os genes que são importantes para matar as células tumorais foram regulados positivamente. Eventualmente, após vários meses, eles assumiram um tipo de célula T de memória.
O pesquisador ainda estimou que não deve levar tanto tempo até que os pacientes comecem a usar a vacina. "Pode-se dizer que é um campo em expansão, onde já existem estudos em andamento. Será dentro de poucos anos. Certamente há desafios que precisam ser superados, principalmente reduzindo o tempo e o custo de fabricação, mas também identificando a plataforma de vacina mais adequada para essa abordagem personalizada", afirmou.
"Dada a relativa facilidade de fabricação e a versatilidade dos ácidos nucleicos, pode muito bem ser uma vacina de RNA ou DNA. Além disso, precisamos aprender como combinar melhor a vacina com intervenções imunológicas adicionais", finalizou Ott.
Fonte: Canaltech, Nature, Harvard Gazette
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