Respirar, ficar de pé, andar, comer e falar são ações facilmente executadas por um corpo saudável. Os pacientes graves internados nas UTIs da Santa Casa de Maceió com covid-19 podem precisar fortalecer ou até reaprender algumas, ou todas, estas funções. Eles contam com o auxílio multidisciplinar de reabilitação do hospital, que oferece a assistência da Terapia Ocupacional, Fisioterapia e Fonoaudiologia.
De forma individualizada, cada paciente recebe estímulos para ter de volta suas funcionalidades: respirar sem a ajuda dos aparelhos, comer sem auxílio e saber controlar a respiração para não broncoaspirar a comida, o que pode causar uma pneumonia e prolongar ainda mais o tempo de internação.
Regulamentada em 1969, a Terapia Ocupacional ganhou visibilidade dentro do âmbito hospitalar na pandemia. A especialidade trabalha o desempenho ocupacional, ou seja, o fazer humano. Planeja, adapta e desenvolve atividades voltadas para maior autonomia e independência do paciente. Algumas técnicas são utilizadas como o treino das atividades de vida diária, prática exclusiva do terapeuta ocupacional de acordo com o artigo 313/06 do Conselho Regional de Fisioterapia e Terapia Ocupacional (Crefito). O uso de técnicas de posicionamento para prevenção de deformidades e feridas, valoração funcional, avaliação cognitiva em processo de extubação, uso de tecnologia assistiva e adaptações nas execuções das atividades de vida diária também fazem parte da rotina dos profissionais da área.
“Nesta segunda onda da covid-19, o perfil é de paciente jovens, com menos comorbidades, e, possivelmente, maiores chances de sobrevida. Ele apresenta ruptura do seu desempenho ocupacional, ou seja, por consequência da doença, o seu “fazer diário” tem um déficit nas práticas de suas atividades de vida diária (alimentação, vestir-se, banho, higiene pessoal, entre outras). A intervenção clínica da terapia ocupacional potencializa a autonomia do paciente, o que pode resultar em alta precoce”, explicou o terapeuta ocupacional Tarcísio Dionísio, que atua exclusivamente nas UTIs da Santa Casa de Maceió.
INTENSIVISTA – A fisioterapia foi outra especialidade que antes da pandemia era superficialmente conhecida pela sociedade. As referências à profissão eram massagens ou exercícios para recuperar o movimento de mãos e pernas, por exemplo, mas se viu como uma das protagonistas no tratamento de pacientes de covid-19.
“Temos especializações em diversas áreas da medicina, como neurologia, ortopedia, ginecologia e a respiratória, que ganhou muita evidência com a pandemia. Com os casos graves, o fisioterapeuta intensivista faz um trabalho durante todo o período de hospitalização, e, possivelmente, terá que manter o acompanhamento após a alta hospitalar. Um paciente grave, idoso e sedado, por exemplo, chega a perder mais de 50% da sua massa muscular. Muitos pacientes irão sair extremamente debilidades precisando não apenas de reabilitação respiratória, mas também de condicionamento muscular. Há uma estimativa de que 30% dos pacientes têm necessidade de acompanhamento da fisioterapia pós-alta”, disse a fisioterapeuta Fabrícia Jannine Torres Araújo, coordenadora do Núcleo de Reabilitação da SCMM.
DISFAGIA – No ambiente hospitalar, a fonoaudiologia trata a disfagia, que são as alterações de deglutição que dificultam ou impossibilitam a ingestão oral segura, eficaz e confortável de saliva, líquidos e/ou alimentos de qualquer consistência.
“A Santa Casa de Maceió é o único hospital em Alagoas que tem uma equipe própria de fonoaudiólogos, o que possibilita que paciente seja cuidado de forma mais completa. Depois que o paciente é extubado (retirado do aparelho de suporte a respiração) há uma alteração da sensibilidade na laringe, e isso vai repercutir na deglutição. Nosso protocolo diz que qualquer paciente em suporte ventilatório tem que ser acompanhado pela fonoaudiologia para liberação da dieta”, disse fonoaudióloga Claudiégina Machado, responsável técnica da equipe de Fonoaudiologia do hospital.
A equipe de fonoaudiólogos do hospital trabalha com pacientes com risco de aspiração durante a alimentação e faz o gerenciamento de cada etapa. O objetivo é que o paciente passe da via de alimentação alternativa para se alimentar por boca e sem riscos.
“Lembro de uma paciente da geriatria que passou muito tempo na UTI. Ela chegou a ser entubada, fez traqueostomia, estava hiper secressiva e sonolenta. Não conseguia fonar, mas saiu do hospital andando, falando, comendo e bebendo tudo sem precisar de supervisão. Quando ela conseguiu comer pão com requeijão, ela chorou muito. Para quem está saudável pode parecer algo simples, mas para ela foi um ganho enorme”, disse a Claudiégina.
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