É se deparando com um problema que a ciência procura a solução. Um trabalho de pesquisadores da Ufal, em parceria com a Polícia Federal e a Perícia Oficial do Estado de Alagoas, propõe a aplicação de métodos inovadores baseados em polímeros condutores para revelação de impressões digitais latentes em superfícies metálicas de interesse policial, como lâminas de faca, cartuchos de munição, moedas e chaves, por exemplo.
As impressões digitais invisíveis a olho nu são vestígios importantes deixados em cenas de crimes, mas a sua revelação a partir de técnicas convencionais, como aplicação de pós ou de vapores de cianoacrilato, ainda apresenta limitações, principalmente em superfícies molhadas ou amostras envelhecidas. Para otimizar a eficiência do processo de revelação de impressões digitais latentes presentes em superfícies metálicas, o perito criminal da Polícia Federal, Alexandro Mangueira Lima de Assis, desenvolveu a tese de doutorado intitulada Avaliação sobre dupla prova forense a partir de análise genética de impressões digitais reveladas pela eletrodeposição de polipirrol, sob orientação da professora Adriana Ribeiro, do Instituto de Química e Biotecnologia (IQB) da Ufal.
“Os resultados obtidos foram muito promissores para aplicação prática na rotina pericial, abrindo novas perspectivas em relação à parceria junto à Polícia Federal (PF) e à Perícia Oficial do Estado de Alagoas, inclusive com a participação de outros peritos e alunos de graduação, mestrado e doutorado no desenvolvimento do trabalho, o que culminou na criação do Laboratório de Eletroquímica, Polímeros e Ciências Forenses da Ufal”, destacou Adriana.
De acordo com a tese de doutorado defendida pelo perito criminal Alexandro de Assis, “as impressões digitais reveladas foram fotografadas e analisadas com softwares e protocolos forenses, classificando-as de acordo com a qualidade das revelações. Os melhores resultados em aço inoxidável, tendo em vista o contraste entre a impressão digital e o metal, foram obtidos com aproveitamento de 90%. No caso dos estojos de munição, os melhores resultados foram observados com aproveitamento de 78%. Os filmes de Polipirrol (PPy), apresentaram estabilidade química, aderência e uniformidade na superfície metálica”. Além disso, uma das vantagens do método é a utilização de meio aquoso para a revelação das impressões digitais em substituição ao cianoacrilato, que é um material tóxico e pode trazer riscos ao operador.
A professora Adriana Ribeiro comemora os resultados inovadores. “Com o método proposto no doutorado do perito criminal Alexandro de Assis, nós conseguimos obter o que se chama de dupla prova forense, ou seja, é possível obter a imagem da impressão digital revelada e, além disso, recuperar o DNA presente nos resíduos desta impressão para poder associar um indivíduo a uma cena de crime a partir de um banco de dados”, destacou, reforçando a eficácia do método.
O início e as possibilidades de futuro
Durante seu pós-doutorado na Inglaterra, a professora Adriana Ribeiro conheceu o professor Robert Hillman (University of Leicester), pioneiro na proposta de utilizar polímeros condutores para revelação das impressões digitais latentes em superfícies metálicas, e iniciou uma colaboração científica para promover a otimização do método. Após o retorno à Ufal, com muitas ideias para desenvolver na área forense, convidou o perito para efetivar uma parceria entre a Ufal e a Polícia Federal, que resultou na tese de doutorado.
O trabalho envolveu pesquisadores e colaboradores de diversas áreas e outras Universidades como Leicester, Federal de Pernambuco (UFPE) e Estadual de Campinas (UEC), contando com uma patente depositada e oito artigos científicos publicados até o momento. Dentre as publicações, destaca-se um artigo que foi capa do Journal of Applied Polymer Science, conceituada publicação na área de polímeros, além de mais dois artigos publicados na Revista Perícia Federal, organizada pela Associação Nacional de Peritos Criminais Federais (APCF), e na Revista Brasileira de Ciências Policiais, publicação da Academia Nacional de Polícia da PF.
“A patente trata do processo de revelação de impressões digitais latentes usando um sistema de bicamada polimérica, composto por uma camada de polímero condutor seguida de uma camada de material fluorescente. Essa invenção permite a visualização destas impressões digitais mesmo em superfícies escuras, sob luz ultravioleta”, adiantou a professora Adriana Ribeiro, que ainda destaca: “O produto não visa à substituição de protocolos já estabelecidos. Trata-se de alternativas promissoras, que surgem para ampliar as possibilidades de revelação em situações que os métodos convencionais não atendem, como impressões digitais que foram deixadas em uma superfície por muito tempo ou em superfícies molhadas, por exemplo”.
Confira no portal de periódicos da Ufal a tese concluída por Alexandro de Assis, e vejam também os artigos completos publicados na Revista Perícia Criminal e na Revista Brasileira de Ciências Policiais.
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