07/04/2021 18:06:40
Saúde
É falso que cidades que usam tratamentos experimentais zeraram mortes por covid
Dados atualizados pelo Ministério da Saúde confirmam mortes nas localidades citadas
Reprodução
Redação com Agência Alagoas

 Circula no WhatsApp uma mensagem com a informação de que 52 cidades brasileiras não teriam registrado mortes por Covid-19 após adotar tratamento precoce com medicamentos off-label. O conteúdo é falso. Além da lista apresentar erros ortográficos e geográficos, dados mostram registros de mortes nos municípios. A Associação Médica Brasileira (AMB) declarou que a utilização do “Kit Covid” deve ser banida.

A mensagem é direcionada ao prefeito de Niterói, Axel Grael, uma tentativa de convencer de que o tratamento teria gerado bom resultado onde foi utilizado. “Já são 52 cidades com zero casos de morte por vírus chinês, graças a ivermectina e hidroxicloroquina no tratamento precoce. Axel Grael, queremos tratamento precoce nos postos de saúde!”, afirma o texto ao listar os municípios que teriam implantado o tratamento.

Não procede a informação de que os municípios não registraram mais mortes. A maioria registrou mortes em março e abril de 2021, os dados podem ser consultados no site Covid-19 no Brasil , atualizado pelo Ministério da Saúde. A tabela abaixo mostra a quantidade de casos de infectados e mortos por complicações da Covid-19 nas cidades citadas na lista falsa. Os dados estão disponíveis no site O Brasil em dados libertos que reúne 40 voluntários no trabalho de compilar diariamente os boletins epidemiológicos das 27 secretarias estaduais de Saúde.

Taxa de óbitos por Covid-19 nos municípios que supostamente adotaram tratamento precoce

Maior parte das cidades possui taxa de mortalidade superior à média nacional, que é de 159 óbitos por 100 mil habitantes. Toque nas colunas para ver os detalhes.

Não é a primeira mensagem que tenta passar o conteúdo falso. Vários municípios citados na lista também foram mencionados em outra mensagem intitulada como “as 16 cidades que zeraram as mortes por Covid-19 após tratamento precoce”, já desmentida pelo portal G1 . A reportagem mostrou que algumas delas até chegaram a reduzir o número de pacientes hospitalizados no começo do ano, como foi o caso de Búzios, mas a própria Secretaria Municipal de Saúde disse que não realiza tratamento precoce e sim diagnóstico precoce.

As informações têm as mesmas características das inúmeras mensagens falsas que circulam em redes sociais. O texto compartilhado sobre a lista dos municípios, por exemplo, tem um tom alarmista com uma solução, não apresenta fontes e o próprio WhastApp informa que é uma mensagem “encaminhada com frequência” para que o usuário realize uma pesquisa e verifique a veracidade das informações. A lista repete dois municípios e erra ao informar que o município paranaense de Tibagi está localizado em Santa Catarina.

Tratamento não tem eficácia comprovada

O tratamento precoce que a mensagem menciona, conhecido também como kit Covid, seria o uso de alguns remédios, como hidroxicloroquina, cloroquina, ivermectina e azitromicina. No entanto, o tratamento não tem eficácia comprovada e várias entidades já se posicionaram contra o uso dos medicamentos. A Associação Médica Brasileira (AMB) declarou que a utilização dos medicamentos deve ser banida.

“Reafirmamos que, infelizmente, medicações como hidroxicloroquina/cloroquina, ivermectina, nitazoxanida, azitromicina e colchicina, entre outras drogas, não possuem eficácia científica comprovada de benefício no tratamento ou prevenção da COVID-19, quer seja na prevenção, na fase inicial ou nas fases avançadas dessa doença, sendo que, portanto, a utilização desses fármacos deve ser banida”, diz a nota divulgada em março deste ano. Confira o pronunciamento completo aqui .

O Conselho Regional de Farmácia também já se pronunciou sobre o assunto e alertou sobre os riscos da automedicação ao citar o exemplo da ivermectina. “A ivermectina é um antiparasitário de baixo potencial de toxicidade desde que ele seja indicado e usado da forma correta, contudo, o que se tem observado é uso indiscriminado deste medicamento e o resultado tem sido hepatite medicamentosa em alguns pacientes”, explica o presidente do CRF/AL, Robert Nicácio. “A prevenção é seguir as medidas sanitárias de distanciamento social, de lavagem das mãos, de uso de álcool gel e de não aglomerar ”, acrescenta.

Alagoas Sem Fake

Com foco no combate à desinformação, a editoria Alagoas Sem Fake verifica, todos os dias, mensagens e conteúdos compartilhados, principalmente em redes sociais, sobre assuntos relacionados ao novo coronavírus em Alagoas. O cidadão poderá enviar mensagens, vídeos ou áudios a serem checados por meio do WhatsApp, no número: (82) 98161-5890. Clique aqui para enviar agora.

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