Atualizada às 08h56
No próximo dia 14 de maio o empresário alagoano José Hipólito Correia Costa, de 61 anos, vai comemorar três meses de um transplante de pulmão inédito no país que lhe devolveu a vida, após ter tido o órgão destruído pela Covid-19 com uma fibrose irreversível.
Natural de Taquarana, Hipólito mora em Arapiraca, a segunda maior cidade de Alagoas. Na Capital do Agreste ele já teve um supermercado e hoje é dono de uma distribuidora de sucesso.
O empresário espera ter alta em breve, após completar quase sete meses de internação hospitalar. Mas de acordo com a mãe de Hipólito ele só deve voltar de São Paulo - onde foi feito o transplante - no final do ano.
Nesse tempo de internção o empresário passou 88 dias ligado à Ecmo (Membrana de Oxigenação Extracorpórea), uma espécie de pulmão artificial que oxigena o sangue fora do corpo, substituindo temporariamente o órgão comprometido de maneira severa.
O transplante foi feito no Hospital Israelita Albert Einstein, em São Paulo, e é o segundo realizado com paciente que teve Covid na instituição. O primeiro doente, porém, não sobreviveu. No mundo, foram documentados cerca de 50 procedimentos desde o início da pandemia.
"Se não tivesse ocorrido o transplante, certamente o paciente já teria morrido", explicou o cirurgião torácico Marcos Samano, coordenador de transplante pulmonar do Einstein e professor da USP.
A cirurgia demorou dez horas e envolveu sete profissionais e a situação inusual de ter um paciente conectado a duas Ecmos simultâneas: aquela à qual ele já estava ligado antes e outra usada durante o transplante.
"Para a alegria geral, os dois equipamentos foram desconectados logo após o procedimento", afirmou Samano.
Superação
A história de superação do empresário arapiraquense José Hipólito da Costa, após problemas de saúde devido a complicações com a Covid-19, será contada neste domingo (2) no jornal Folha de São Paulo e no programa Fantástico da Rede Globo.
Recuperação
A recuperação foi trabalhosa. Além da perda muscular sofrida durante o longo período na UTI após o transplante, ele teve complicação neurológica e convulsões com rebaixamento do nível de consciência, devido ao uso das medicações imunossupressoras. "Foi o ponto de maior preocupação, mas, depois de alguns dias, ele se recuperou bem", diz o médico.
Quando tudo começou
Costa foi internado com sintomas da Covid em 18 de outubro em um hospital privado de Maceió. Três dias depois, precisou ser intubado. "A primeira semana foi terrível. Ele melhorava um pouquinho, depois piorava", conta a filha Alice, 32.
A família, então, decidiu transferi-lo em uma UTI aérea para o Einstein. Chegou com quase 85% dos pulmões comprometidos. "A gente pensou: agora podemos dar uma relaxada. Estamos num hospital que é referência nacional e o caso dele nem é o mais grave. Mas o vírus continuou agindo e foi piorando", diz o filho Artur, 30.
Com o passar dos dias, Costa contraiu uma infecção bacteriana e, com os pulmões mais comprometidos, precisou ser colocado na Ecmo. "O médico nos falou que, a cada três pessoas que entram na Ecmo, uma não sai com vida. As pernas ficaram moles. Mas se o Bruno Bravin [intensivista que se tornou médico do empresário] estava falando, a gente confiava completamente."
Com quase três meses ligado ao pulmão artificial, o empresário acabou protagonizando outro feito inédito. Até então, nenhum outro paciente do Einstein tinha ficado tanto tempo no equipamento. "Houve momentos em que a gente ficou sem esperança", lembra Alice.
Com a possibilidade de transplante, Costa foi sendo acordado da sedação e submetido a fisioterapia ainda ligado à Ecmo, enquanto a família e a equipe médica aguardavam aprovação do procedimento.
"Ou ele transplantava ou ele morria. Muito tempo na Ecmo traz outros problemas. Ele tava muito 'invadido', com muitos tubos, muito risco de bactérias, teve hemorragia na perna", diz a filha.
Luz no fim do túnel
No dia 14 de fevereiro, às 3h, veio notícia de que havia um órgão compatível no interior paulista. A família contratou uma empresa de táxi aéreo para buscar o órgão.
"O doutor Bruno perguntou de novo: 'chegou a hora, o pulmão apareceu. Vamos?'. Ele respondeu: 'Agora! Tô pronto'." O doador do pulmão foi um jovem de 34 anos.
Para a mulher de Costa, Ana, de 57anos , a notícia do transplante foi redentora. "Foi quando eu tive a certeza da resposta de todas as nossas orações. Senti a presença de Deus. Nossa gratidão eterna ao doador e seus familiares."
O que ele diz
Costa não quis dar entrevista, mas concordou em gravar um depoimento para o site Folha de São Paulo. Ele diz que, assim que tiver alta, quer voltar a andar na orla de Maceió. "Quero caminhar na Ponta Verde, Pajuçara, Jatiúca, que é o que eu adoro na vida. E quero voltar a fazer o Caminho de Santiago ainda este ano."
Para ele, as caminhadas são formas de autoconhecimento. "Dá uma paz interna, eu converso comigo mesmo." Questionado sobre o qual o melhor momento nos sete meses de internação, não titubeou: "Será a minha alta".
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