O 15º Distrito Policial de São Paulo está investigando um prejuízo já calculado de R$ 18 milhões nas contas de Dudu, do Palmeiras. A acusação aponta possível envolvimento de funcionários de um banco, de um cartório em São Paulo e do ex-assessor e padrinho de casamento do atacante, Thiago Donda.
Os advogados de Dudu registraram um boletim de ocorrência e pediram a instauração de inquérito para investigar os fatos que podem envolver Thiago Donda, ex-braço-direito do camisa 7.
Segundo a denúncia, a quantia foi movimentada sem a anuência do jogador ao longo dos últimos anos, a partir de transações com assinaturas falsas na conta em que ele recebia os direitos de imagem do Verdão. Esta fatia pode corresponder a até 40% do salário de um atleta no Brasil.
Thiago era assessor de Dudu e com o tempo começou a ter acesso às finanças do atacante e movimentar as contas, sem anuência dele, mas autorizado por funcionários do banco.
Os advogados de Dudu entendem que houve uma série de fraudes:
Transferências e pagamentos de valores para conta de terceiros utilizando fichas internas com assinatura falsas;
Compensações de cheques com assinaturas falsas;
Débitos nas contas bancárias de produtos ofertados pela entidade bancária sem contratação e conhecimento das vítima;
Operações de empréstimos mediante oferta de produtos;
Venda de Títulos de Capitalização sem autorização da vítima;
Transferências de valores para conta de terceiros com autorizações preenchidas pelo gerente sem anuência do correntista e transferências de veículos sem anuência;
Falsificações de assinatura;
Baixas de aplicações financeiras e resgates de ativos financeiros sem conhecimento da vítima;
Utilização de PIX e TED não autorizadas.
Ainda que Thiago Donda seja citado como possível responsável, há o entendimento da acusação de que o ex-assessor não atuou sozinho e teve anuência de funcionários no Bradesco e também do 19º Cartório de Registro Civil de São Paulo, onde eram reconhecidas as assinaturas falsas.
A Polícia aguarda o recebimento de documentos do banco para avançar na apuração e fazer os chamados para esclarecimentos de possíveis envolvidos.
Estão sendo avaliados crimes de estelionato, falsificação de documento público, falsidade ideológica e associação criminosa.
Como o caso começou?
Dudu descobriu em agosto de 2023, após uma reunião com seu contador, que a “Dudu Sete Agenciamento de Imagens Esportivas”, empresa na qual recebe os direitos de imagem, não pagava impostos desde 2018.
Já havia até um acordo com o governo para quitar o débito, além de execuções ajuizadas desde 2022, tudo sem conhecimento do camisa 7.
Os advogados do atacante do Palmeiras entendem que Thiago Donda poderia estar usando o valor que deveria ser para pagar os impostos da empresa aberta do jogador.
O contador disse que não havia relatado nada a Dudu até então por ordem de Thiago Donda e que chegou a recomendar ao então braço-direito do jogador que entrasse em contato com um escritório de advocacia de sua confiança para regularizar a situação.
Dudu questionou a informação, pois na conta em que recebia os direitos de imagem do Palmeiras já eram reservados os valores para pagamento de impostos e só depois o valor líquido iria para a conta de pessoa física do atacante.
O contrato com o contador foi encerrado por Dudu não ter sido informado ao longo dos anos deste problema. O jogador buscou um advogado para pedir o comprovante de pagamento de impostos no banco.
Dudu recebeu a confirmação de que os impostos não vinham sendo pagos, além de terem ocorrido seguidas transferências para Thiago Donda com fichas que deveriam ter autorização do jogador. Ele alega que não tinha conhecimento de nenhuma delas.
Perícia avaliou documentos e cheques
Após perícia contratada, ficou constatado que as assinaturas de Dudu usadas em cheques e fichas internas do banco eram falsas.
O cálculo preliminar apresentado pelos advogados do atleta indica que mais de R$ 14 milhões foram transferidos desta forma para Thiago e sua empresa, a BWF assessoria e agenciamento.
O laudo grafotécnico avaliou os seguintes documentos que constatou terem assinaturas falsas:
Uma procuração que a empresa de Dudu deu a um escritório de advocacia para tratar da dívida de impostos na conta de pessoa jurídica do atleta;
Transferências de dois veículos;
Nove cheques usados em 2023, com valores entre R$ 27 mil e R$ 1 milhão;
Documentos internos de movimentação de conta no Bradesco, incluindo Cédula de Crédito Bancário.
A perita declarou que todas as assinaturas "foram feitas por um único e mesmo punho escritor". O atacante diz que não sabia da existência da procuração, nem das transferências dos veículos, nem dos documentos de banco e não havia pedido os cheques.
Enquanto ocorriam as transações que Dudu não reconhece, o banco debitou valores referentes a títulos de capitalização, consórcios e outros produtos dos quais o jogador não tinha contratado.
Foram autorizados resgates antecipados, e entende-se pela acusação para favorecer Thiago, a BWF, o então gerente da conta e o banco por consequência.
Relação de amizade de mais de dez anos
Dudu conheceu Thiago Donda, então parte de uma empresa de agenciamento de atletas, quando ainda estava no Cruzeiro, em 2010, mas a relação ficou mais próxima a partir de sua chegada ao Palmeiras, em 2015.
No primeiro ano de Verdão, ele prestava serviços no dia a dia para o camisa 7, e o contato foi crescendo com o passar do tempo.
Viraram amigos, Thiago se tornou assessor e homem de confiança do palmeirense, a ponto de conviver com a família do atleta no dia a dia e em viagens. Ele é padrinho de casamento do jogador.
Na última renovação de Dudu com o Verdão, o ex-assessor esteve na Academia de Futebol junto do atleta para a assinatura do novo contrato.
No pedido de abertura de inquérito, a acusação diz ter indícios de que o Donda abriu em 2021 a Nido Clínica de Estética Avançada e Medicina Esportiva com quantias retiradas das contas do jogador do Palmeiras sem seu consentimento.
Depois de ter a reunião com o contador em que descobriu o problema referente às dívidas de impostos, Dudu questionou Thiago em troca de mensagens pelo WhatsApp e recebeu a resposta de que o empresário iria pagar a dívida:
– Segura isso, por favor. Estou pedindo como irmão, de coração mesmo. ME DESCULPA. Se falar qualquer coisa com alguém aí acabou para mim. Não consigo fazer mais nada e nem pagar.
Nos dias seguintes a esta conversa, Dudu teve acesso aos extratos bancários que constataram seguidas transações bancárias e por consequência um desfalque milionário.
Após isso, Thiago Donda e Dudu cortaram relações, não se seguem mais nas redes sociais, nem possuem mais fotos publicadas juntos.
Qual o valor da dívida até agora
Dudu e sua equipe contrataram uma empresa de auditoria para levantar o valor total do desfalque. O cálculo não está fechado, mas já chega a uma quantia parcial de R$ 18 milhões:
Transferências para Thiago e a BWF com assinaturas falsas: R$ 14 milhões;
Juros, encargos e multas por impostos atrasados: R$ 2,1 milhões;
Cédulas de crédito bancário com assinatura falsa: R$ 1,45 milhão;
Transferências de veículos com assinatura falsa: R$ 562 mil;
Prejuízo parcial: R$ 18 milhões.
O que dizem os envolvidos
Thiago Donda foi procurado pelo ge e declarou que não vai se manifestar no momento, pois está levantando informações para prestar os devidos esclarecimentos às autoridades competentes.
O Bradesco comunicou que "está atendendo todas as solicitações da polícia e tratando o assunto diretamente com o cliente e seu representante".
O cartório respondeu: "conforme nossa orientação jurídica, não podemos comentar quaisquer procedimentos em curso. Reiteramos nosso compromisso e colaboração com as autoridades públicas na investigação de quaisquer casos que envolvam a serventia extrajudicial".
E a assessoria de imprensa de Dudu, procurada, informou que "o caso está sendo conduzido pela equipe jurídica do atleta, liderada por Adriana Cury e Cid Vieira. Os advogados já tomaram as medidas cabíveis junto às autoridades e confiam no trabalho da Justiça".
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