A pandemia está afetando a vida das pessoas de diversas maneiras, na rotina do trabalho, nos estudos, nas relações pessoais e, segundo uma pesquisa de uma cientista brasileira, no sonho das pessoas.
A neurocientista Natália Bezerra Mota, pós-doutoranda no Instituto do Cérebro da Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN), realizou o estudo “Sonhos durante a pandemia de Covid-19: a avaliação computacional de relatos de sonhos revela sofrimento mental relacionado ao medo de contágio”, com a supervisão de Sidarta Ribeiro, da UFRN, e Mauro Copelli, da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE).
Em 2019, a cientista desenvolveu um aplicativo para coletar sonhos de maneira remota, com o objetivo de fazer o acompanhamento de pessoas que não tivessem o acesso a redes de apoio de saúde mental. Com a chegada da quarentena como medida de isolamento social para conter o contágio do novo coronavírus, ela entendeu que os mesmos voluntários que participaram da primeira fase de testes do app poderiam também auxiliar nessa nova pesquisa relacionada ao novo momento.
A pesquisa
No período entre março e abril de 2020 foram analisados 239 relatos de sonhos no total. "Através disso, nós conseguimos quantificar a proporção de palavras com conteúdo emocional. Então a gente fez a busca por palavras identificadas como ligadas a sentimentos como raiva e tristeza”, afirma Natália.
“Outro processo adotado foi o da similaridade semântica. Nós fizemos um mapa de palavras ditas nos sonhos, onde cada uma delas é localizada de acordo com um tema geral específico, como contaminação, limpeza, morte e vida”, destaca. Com isso, a neurocientista conseguiu verificar como o medo de contrair uma doença infecciosa impactou os sonhos dos participantes.
Após essa primeira análise, foram comparados os sonhos do primeiro mês da pandemia, com os coletados em 2019. “Os resultados nos mostraram que os sonhos do período da pandemia tiveram maior conteúdo de raiva, tristeza e também maior similaridade semântica com o termo contaminação”, afirma a cientista.
Com essas observações foi possível notar também que alguns voluntários que apresentaram relatos de sinais de sofrimento em relação ao isolamento social, tendo mais dificuldade de manter as relações sociais.
A neurocientista conta que também percebeu que seus sonhos passaram a ter uma ligação com a pandemia quando um profissional que trabalhava no mesmo laboratório que ela teve covid-19. “No sonho, estava olhando da janela do apartamento onde eu morava e vi um acidente de um ônibus escolar. Muitas pessoas começaram a gritar, mas eu não conseguia ajudar porque já estava trancada em casa.”
A pós-doutoranda afirma que o próximo passo é desenvolver um estudo com um recorte de tempo maior, e com mais relatos de voluntários. Essa nova fase já está sendo dissolvida por ela, em colaboração com grupos de psicanalistas da UFMG, da USP e da UFRJ, que estão coletando sonhos pelo Brasil na pandemia.
Fonte: R7
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