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10/09/2022 14:51
Educação

Alagoas se mantém no topo do ranking de analfabetismo no País

De acordo com dados do IBGE, 17,1% da população com 14 anos ou mais não sabe ler nem escrever
Alagoas se mantém no topo do ranking de analfabetismo no País / Foto: Reprodução
Redação com Gazetaweb

Enquanto o governo do Estado fala todos os dias sobre o que não vai parar, esconde que não parou com um grave problema social: o analfabetismo. De acordo com os dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (PNAD) divulgada pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE/ 2019), Alagoas continua liderando o ranking nacional do analfabetismo do País com 17,1% das pessoas que não sabem ler nem escrever.

Isso representa 337 mil alagoanos de 14 anos ou mais incapazes de evoluir educacional, profissional e salarialmente no mercado de trabalho. Isso quando têm a sorte de conseguirem um emprego de carteira assinada. Em geral trabalham no mercado informal, vivem de bicos ou se somam aos desalentados que nem estudam e nem trabalham.

No Brasil, o número de pessoas de 15 anos ou mais analfabetas é de 6,6% ou 11 milhões de pessoas. Essa faixa etária em Alagoas tem 16% e permanece ruim até os mais velhos, já que 18 anos ou mais somam 16%, 25 anos ou mais 20,1%, 40 anos ou mais 28,6% e 60 anos ou mais 41,1%.

POLÍTICA

Para a especialista em educação, Adriana Cavalcante, parte do problema pode ser explicada pela falta de políticas públicas específicas na área municipal, estadual em desarmonia com a política federal.

“Algumas ações têm sido feitas mas podem ser ampliadas, com acesso à escola e permanência, além da qualidade e oferta da educação, formação dos professores (mestrado e doutorado). Políticas municipal e estadual alinhadas com o governo federal”, explicou Adriana.

A pesquisa nacional revela ainda que as mulheres lideram o índice dos analfabetos no Estado. Dos 337 mil tabulados, 177 mil são mulheres e 160 mil homens. Conforme explicou a especialista, entre os fatores que ajudam a explicar essa situação estão o fato de já virem de famílias pobres que as colocaram para trabalhar muito cedo. Em geral, na agricultura ou em casas de família como domésticas. “São mulheres que são mães e que se tornaram mães muito cedo e tiveram que trabalhar também num período ainda de idade escolar”, completou a doutora em educação.

Em recente reportagem, uma repórter encontrou mulheres que confirmaram esse drama vivido ainda muito cedo. Seja porque trabalharam ainda na infância, mas também porque formaram família muito cedo e tiveram que cuidar dos filhos. O círculo vicioso se completa com o fato de não terem formação e não conseguem se capacitar porque sequer possuem condições de ler ou escrever qualquer conteúdo.

São pessoas como a dona de casa Sebastiana dos Santos, de 54 anos, que confessa na reportagem que sequer consegue sair de casa por não saber ler o roteiro dos coletivos. Nessa condição vive dia a pós dia a realidade da casa, dos filhos vivendo com o pouco que consegue através do marido ou dos benefícios sociais.
“Não vou para canto nenhum porque não sei ler nem escrever. Se tudo voltasse para trás eu tava estudando. Só que agora não tenho paciência para estudar”, admitiu.

Assim como ela, a dona de casa Quitéria Martins dos Santos, de 46 anos, amarga até hoje as consequências de quem começou a trabalhar cedo como doméstica, em casa de família na capital, ganhando pouco, sem tempo para quase nada. O resultado é que, agora, após os 40 anos não tem nenhum alternativa porque não consegue aprender uma nova atividade.

“Na minha época quando estudava só tinha duas oportunidades: estudar e passar necessidade ou trabalhar. E casa de família antigamente era para dormir, só com uma folga por mês. Agente não é bem-visto na sociedade. Não tem muita oportunidade de trabalho, porque geralmente só faz curso quem sabe ler”, admitiu Quitéria.

Entre as mulheres mais jovens há situações como a de Alycia Anne Nogueira, de 22 anos, que até aprendeu a ler e escrever, porém, por ter engravidado deixou os estudos e não tem nenhuma formação. Deste modo, além da realidade doméstica não consegue se enquadrar no perfil de nenhuma vaga para o mercado de trabalho até agora. “Fui cabeça dura. Estudei aí parei porque engravidei. Voltei com 18 anos aí engravidei de novo e parei novamente”, disse Alycia.

Outro detalhe importante que une essas mulheres é que são oriundas de famílias do interior do Estado que, ao fugirem da miséria no campo, exploradas e sem condições de avançarem economicamente vivem com outras centenas de famílias uma realidade de vulnerabilidade social na capital. Morando em áreas periféricas, às vezes em habitações subnormais, em áreas sem saneamento básico, cercadas por violência e ilhadas na desesperança.

A ruptura surge com iniciativas de uma ONG que atua na Favela dos Eucaliptos no Tabuleiro. Com o esforço e apoio de técnicos da educação conseguem manter crianças dentro da escola, além de alguns jovens e adultos. Para isso, buscam doações de livros, cadernos, sapatos e roupas para ajudar nas condições de permanência. A ação é uma semente de pouco alcance, já que a massa de excluídos da educação precisa mesmo é de ação oficial.

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