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29/07/2021 08:45
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Criança com hidrocefalia e paralisia cerebral faz balé após seis cirurgias

"Diagnóstico não é destino, não é porque o médico falou que a vida da minha filha vai ser só aquilo”, disse a mãe de Anne Gabriele
Após médico sugerir que mãe retirasse bebê, Anne apresenta bom desenvolvimento, apesar das limitações das doenças / Foto: Reprodução/Redes Sociais

 Após passar por seis cirurgias na cabeça e vencer uma meningite, uma criança de 2 anos e 6 meses com hidrocefalia e paralisia cerebral emocionou a família ao realizar sua primeira aula de balé. Mesmo com médicos alegando que a menina não andaria ou se desenvolveria fisicamente, a pequena Anne Gabriele Henrique Cunha, de Cubatão (SP), tem vencido diariamente as limitações causadas pelas doenças.

Em entrevista nesta quinta-feira (29), a mãe da criança, a psicóloga Daniele Henrique Cunha Baia, de 30 anos, explicou que teve um parto com diversas complicações, e ainda na gestação descobriu que a filha tinha hidrocefalia.

Daniele conta que, por se tratar de uma gravidez de risco, realizou exames no início da gestação, por isso, o médico que a acompanhava informou que não era necessário realizar mais exames referentes ao bebê. Porém, ao se consultar com outra médica, com 27 semanas, ela descobriu que Anne possuía hidrocefalia. Após o nascimento, a menina também foi diagnosticada com paralisia cerebral.

Ao descobrir a hidrocefalia, o médico que afirmou não serem necessários mais exames disse que não faria o parto da criança, por ser muito complicado. Segundo a mãe, ele ainda chegou a sugerir que ela retirasse a filha, que nasceria com diversos problemas.

“Ele disse que seria uma vida muito complicada, tanto para ela quanto para a família, mas eu falei que não ia tirar a minha filha, nunca faria isso. Ele me respondeu: 'gravidez é igual Mega-Sena, uns têm sorte, e outros não'”, conta.

Indignada com a situação, a família tentou encontrar um hospital na Baixada Santista, no litoral paulista, para fazer o parto. Porém, as unidades médicas afirmavam que não possuíam os equipamentos ou profissionais necessários para o parto e a cirurgia que a criança precisaria após o nascimento.

Desta forma, com uma liminar da Justiça, a família foi encaminhada a um hospital na capital paulista, onde o parto foi realizado. Após nascer, Anne precisou ficar internada três meses e meio na Unidade de Terapia Intensiva (UTI), e passou por cinco cirurgias na cabeça, sendo que uma ocorreu dois dias após o nascimento.

A mãe ainda conta que, para passar pelo primeiro procedimento, ela teria que nascer com pelo menos 3 kg. No parto, ela foi pesada com 2,9 kg, e o médico conseguiu realizar a cirurgia. Após a quinta cirurgia, a criança foi diagnosticada com meningite e, segundo Daniele, os médicos tinham poucas expectativas de vida, diante de todos os procedimentos cirúrgicos que a criança já havia realizado.

Porém, ela conseguiu se recuperar sem sequelas graves, e recebeu alta hospitalar após passar por mais um procedimento, quando a cabeça, que era maior que os demais membros dela, diminuiu. “Eu creio que é tudo permissão de Deus. Se ela não tivesse contraído a meningite, não teriam feito a última cirurgia, e a cabeça não teria diminuído assim”, esclarece.

Sonho

A psicóloga explica que sempre teve o sonho de ter uma menina, e quando descobriu que sua filha possuía hidrocefalia e paralisia cerebral, decidiu que se dedicaria para que os sonhos dela fossem realizados, independentemente das limitações das doenças.

Como tratamento para as doenças, a criança é acompanhada por fisioterapeutas e faz hidroterapia. Porém, em junho, a mãe decidiu procurar escolas de balé que oferecessem aulas para crianças especiais.

Em uma delas, a professora aceitou dar uma aula para a criança, e no fim, contou a Daniele que, além de professora de balé, era fisioterapeuta. “A professora é maravilhosa, admiro muito as profissionais da academia, porque elas realmente se dedicam, têm paciência e uma visão diferenciada”, conta.

Anne já participou de cinco aulas, sendo uma por semana, e em pouco tempo a família já pode perceber uma evolução no quadro da criança. “Ela está conseguindo andar sozinha com o andador, e está mais desinibida. Antes, ela caía no chão e ficava com medo. Com os alongamentos, ela tem se desenvolvido mais fisicamente”, relata.

A psicóloga observou, ainda, que várias coisas que a criança não conseguia fazer antes agora está conseguindo, apresentando mais confiança. Além disso, no início das aulas, ela era assistida em uma sala separada, por chorar na presença de outras crianças. Porém, no quinto encontro com a professora, outras duas crianças também participaram da atividade.

“Os médicos falaram uma coisa, mas Deus tinha outra história para a minha filha. Às vezes, o preconceito vem dos próprios pais, que não aceitam o que seus filhos têm, ficam envergonhados. Quero incentivar outras mães que possuem filhos especiais”, afirma.

As aulas de balé continuam e, aos poucos, Anne, que enfrentou cirurgias, meningite e as limitações de duas doenças, se desenvolve e supera as expectativas da família, trocando a cama, onde os médicos acreditaram que ela passaria a maior parte do tempo, pelo estúdio de dança.

Preconceito

A moradora de Cubatão conta que as outras crianças e as professoras não apresentaram qualquer preconceito contra a menina, e que não se importa com olhares maldosos de outras pessoas. Daniele explica que a filha continua realizando tratamentos para minimizar as limitações das doenças, e que as doenças não são genéticas, mas foram desenvolvidas pelo bebê.

Apesar de o balé ser um sonho da mãe, caso Anne queira abandonar a dança quando crescer, a decisão será respeitada. “Se quando ela crescer ela disser que não quer continuar, ela vai poder sair. Mas, eu vou estar sempre tentando realizar os sonhos da minha filha. Diagnóstico não é destino, não é porque o médico falou que a vida da minha filha vai ser só aquilo”, conclui.

Ferramenta

A professora de balé e fisioterapeuta Camila Gouveia, responsável pela academia onde Anne está realizando as aulas, acredita que a dança ofereça diversos benefícios ao desenvolvimento da criança.

De acordo com a professora, o local já havia recebido crianças autistas, mas na condição de Anne foi a primeira vez, e a experiência tem sido boa para todos os envolvidos.

“O fato de ela conviver com outras crianças ajuda a estimular a fazer os movimentos, se espelhando nas outras crianças. Desde a primeira até a última aula, ela demonstrou um desenvolvimento muito rápido”, explica.

Junto à professora Raissa Accorci, ela tem acompanhado de perto a evolução da menina. Conforme explica Camila, a formação em Fisioterapia a ajudou a enxergar as capacidades que a criança tem de participar das aulas. A professora conta que a dança tem sido uma importante aliada para o desenvolvimento de Anne.

“A dança, para mim, tem o poder de deixar as pessoas mais felizes, e de mudar vidas. Acredito que ela possa ser usada como ferramenta para que as pessoas consigam superar seus limites. A turma recebeu ela de uma forma muito bonita, as crianças apoiam e incluem ela", diz.

Fonte: G1

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