Alzheimer, dor crônica, ansiedade, depressão. As doenças variam, mas 35 pessoas no Ceará encontraram uma solução em comum: o cultivo de cannabis para uso medicinal. O grupo possui habeas corpus (autorização judicial) para plantar em casa e conseguir tratar as patologias. O número foi levantado pela Rede Reforma e Sativoteca — iniciativas nacionais do movimento antiproibicionista da maconha.
Médicos que recomendam o uso terapêutico da maconha, contudo, geralmente só recorrem à alternativa quando outros tratamentos não surtem o efeito esperado para a melhora dos pacientes.
As autorizações judiciais se dividem entre dez municípios, da Região Metropolitana de Fortaleza ao interior do estado. Uma das autorizadas é, inclusive, presidente da Associação Medicinal do Ceará (AMECE). A fisioterapeuta Ana Carla Bastos conseguiu o habeas corpus em 2020, para tratar da saúde mental.
“Eu trato depressão e ansiedade. Eu tenho uma peculiaridade porque, por conta da depressão, eu tenho pensamentos suicidas. Eu faço o uso [da cannabis] para não tomar alopáticos”, explicou. O tipo de remédio evitado por Ana Carla é caracterizado por produzir efeitos contrários aos da doença tratada.
“Eu consegui o HC em agosto de 2020, no meio da pandemia, porque eu tive uma crise grande de ansiedade, por questões financeiras. Foi quando eu descobri, dentro do processo terapêutico, que era o meu principal gatilho de ansiedade. Fiquei três dias sem dormir”, lembrou a fisioterapeuta.
Ana Carla explicou que, nos momentos de lockdown da pandemia de Covid-19, ela passou por momentos de crise financeira porque trabalhava como professora de pilates — atividade que teve de ser interrompida.
“Meu negócio fechou. Por conta da clínica ser um ambiente fechado, nem os cursos eu poderia dar. E tive de reduzir meus atendimentos, que eram três por hora, para apenas um. Isso ficou insustentável”, complementou.
Em junho de 2022, um projeto de lei que sugere o uso medicinal de maconha foi aprovado pelo Conselho de Estadual de Saúde do Ceará (Cesau). A entidade realizou, à época, uma reunião ordinária com representantes do movimento canábico no estado. Contudo, o projeto ainda não avançou no Executivo ou Legislativo estadual.
“Estamos tentando pressionar os deputados para que apresentem a proposta na Assembleia. E também estamos vendo uma forma de apresentar enquanto sociedade civil”, disse Italo Coelho, advogado ativista da luta antiproibicionista, e membro da Rede Reforma no Ceará. Ele explicou também que o projeto é fundamentado em quatro aspectos:
- Capacitação de profissionais de saúde sobre as terapias à base de cannabis
- Apoio às associações que acompanham os pacientes do estado
- Incentivo à pesquisa, especialmente nas universidades, sobre os tratamentos
- Distribuição dos medicamentos a base de cannabis no SUS, sem necessidade de judicialização
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