As altas temperaturas levaram centenas de pessoas a morte nos Estados Unidos e no Canadá, onde os termometros chegaram perto dos 50º C. Já o Brasil enfrentou recentemente uma onda de frio e pelo menos nove moradores de rua perderam a vida em São Paulo na madrugada do último dia 30, considerada a noite mais fria dos últimos cinco anos na cidade.
Naquela data, a capital paulista chegou a 6º C, temperatura que pode ser suportável para alguns, mas fatal para outros. O professor titular de biologia estrutural e funcional da Unicamp (Universidade Estadual de Campinas), Everardo Carneiro, explica que, independentemente do tempo (frio ou calor), as consequências dependem de três fatores: fonte de energia (temperatura), tempo de exposição e a resistência do organismo.
A temperatura ideal para que as enzimas do corpo humano funcionem adequadamente é entre 36 e 36,5º C — e, para que seja mantido esse patamar, é preciso haver trocas de calor entre o organismo e o meio externo. Isso significa que se lá fora estiver mais quente do que o nosso corpo, ganhamos calor do meio externo. Já se estiver mais frio, perdemos calor.
"Para tentar se livrar das complicações das temperaturas muito altas ou muito baixas, o organismo utiliza mecanismos naturais de defesa tais como transpiração, no caso do calor, e contração involuntária dos músculos, no caso do frio. Entretanto, se a temperatura for muito extrema, o tempo de exposição muito longo ou o corpo debilitado, os mecanismos de defensa não conseguem vencer essa fonte de energia. Nesses casos, a temperatura corpórea se equipara a do meio externo", afirma.
"Uma pessoa saudável e bem alimentada provavelmente poderia sobreviver a uma noite dormindo na rua sob um frio de 6º C. Já um morador de rua, que tem o organismo mais fragilizado, talvez não. O mesmo vale para idosos e crianças na primeira infância", diz.
Carneiro explica que, quando o corpo supera os 40º C ou fica abaixo dos 35º C, o estado da pessoa pode ser considerado crítico, uma vez que as enzimas já não conseguem mais funcionar. O indivíduo, então, tem múltipla falência de órgãos e, por fim, morre.
A morte, no entanto, não é o único risco que está em jogo. Uma pessoa exposta tanto a uma temperatura muito alta quanto muito baixa pode sofrer ainda lesões na pele, das mais brandas às mais graves.
No caso do calor, podem ocorrer queimaduras de 1º grau, que atingem as camadas mais superficiais da pele, até as de 4º grau, em casos extremos, que envolvem pele, músculo e osso. Já no caso do frio, podem surgir as chamadas geladuras, que congelam a pele e o tecido logo abaixo dela, podendo levar até mesmo à necrose do membro afetado.
Como se proteger?
O organismo tem mecanismos próprios para resistir ao frio e ao calor e manter a temperatura dentro do ideal. No caso do calor, esse controle da temeperatura corpórea ocorre por meio da transpiração e, no caso do frio, pela contração involuntária dos músculos. Há, no entanto, outras formas de se alcançar esse equilíbrio.
Se uma pessoa estiver na praia sob forte calor, por exemplo, vale ficar na sombra e dar um mergulho no mar de tempos em tempos — sobretudo quando a umidade do ar está alta, o que dificulta a transpiração. Por outro lado, se a umidade do ar estiver baixa, é importante tomar bastante água para repor o líquido perdido e prevenir insolações.
Já em um cenário de frio intenso, é fundamental se agasalhar ao máximo, para criar uma barreira de proteção entre a pele e a temperatura atmosférica. O professor ressalta que ao contrário do que muitos pensam, esta é também uma maneira válida de se proteger contra o calor extremo.
"É claro que ninguém vai cobrir o corpo para ir à praia no verão, mas esta é uma tática bastante utilizada, principalmente pelos nômades que percorrem longas distâncias no deserto. Mesmo sob temperaturas de 50º C, eles usam roupas grossas e pesadas, que criam uma barreira entre o calor externo e o calor do organismo. Desta forma, é possível manter a temperatura corpórea em torno de 36ºC", diz.
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