A flexibilização da quarentena e a reabertura econômica aumentam a demanda por transporte público e, consequentemente, o risco de transmissão do novo coronavírus, que causa a covid-19. Dentre os fatores mais preocupantes, está a impossibilidade de manter o distanciamento mínimo de um metro recomendado pela OMS (Organização Mundial da Saúde) para prevenir o contágio.
"Tudo aquilo que vai contra a nossa recomendação aumenta a chance de contágio. O transporte não permite o distanciamento de um a dois metros. Se não permite uma boa ventilação, também é um problema. Quanto maior a troca de ar, mais seguro é o ambiente", afirma a infectologista Ingrid Cotta da BP - A Beneficência Portuguesa de São Paulo.
Em entrevista ao R7, a infectologista da Unicamp e consultora da SBI (Sociedade Brasileira de Infectologia) Raquel Stucchi afirmou que em todos os lugares a possibilidade de contágio depende de três aspectos básicos: número de pessoas presentes, tempo de permanência no local e existência ou ausência de ventilação.
Ingrid observa que o uso de máscara e de álcool em gel para higienizar as mãos são medidas que diminuem o risco. No entanto, há situações que exigem atenção.
"Me preocupa quando eu penso naqueles ônibus fretados, porque eles são hermeticamente fechados e as pessoas ficam de uma a duas horas ali. Eu já tratei de uma paciente que, provavelmente, pegou [o vírus] assim", lembra.
No começo deste mês, a reabertura do comércio não essencial em Belo Horizonte (MG) gerou filas e aglomerações nos pontos de ônibus, que circularam lotados e enfrentaram egarrafamentos nas principais vias da cidade.
Dados de uma pesquisa feita em junho pela Rede de Pesquisa Solidária mostraram que medidas adotadas por Estados e municípios em relação ao transporte público com o objetivo de frear a pandemia acabaram expondo ainda mais as populações periféricas de grandes metrópoles - como São Paulo, Rio de Janeiro e Curtiba - ao risco de pegar coronavírus.
O levantamento aponta que, na capital paulista, o número de passageiros que utilizam linhas da região central da cidade caiu 68% e quantidade de ônibus circulando nessas linhas diminuiu 61,3%. Em contrapartida, na região leste a queda de passageiros foi menor: 63,6% e a oferta de ônibus caiu 61,6%
"A pequena folga criada pela redução da oferta de ônibus sendo menor do que a redução da demanda de passageiros é maior no centro do que na periferia. Como resultado, nas regiões mais afastadas, a lotação dos ônibus se mantém muito próxima dos já altos níveis observados antes da pandemia, o que contribui para a disseminação do vírus e aumenta as desigualdades entre as regiões e populações", aponta trecho da nota técnica que reúne as conclusões dos pesquisadores.
O estudo, coordenado por Mariana Giannotti, pesquisadora do CEM (Centro de Estudos da Metrópole (CEM) e professora da Poli-USP (Escola Politécnica da Universidade de São Paulo), mostrou ainda que as mudanças no sistema de transporte aumentaram em até 80% a frequência nas estações de metrô e trem localizadas nas regiões periféricas das cidades de São Paulo e Rio de Janeiro.
No contexto de flexibilização da quarentena em São Paulo, o aumento na quantidade de passageiros não foi acompanhado pela ampliação da frota de ônibus.
Em 18 de junho, foram transportadas 1,3 milhão de pessoas em 11.779 ônibus. Dois meses depois, em 19 de agosto, o número de passageiros havia subido para 1,7 milhão ao passo que a quantidade de ônibus caiu para 11.001. Já a média de lentidão no trânsito quase duplicou nesse intervalo: foi de 24 km para 46 km. Os dados são da CET (Companhia de Engenharia de Tráfego), que produz um boletim diário de mobilidade e transportes diante da pandemia de covid-19.
Nesse cenário, as recomendações para evitar o contágio pelo novo coronavírus seguem as mesmas. "Sempre levar álcool em gel e passar depois de tocar em superfícies, usar a máscara e dar preferência a lugares com ventilação", aconselha Ingrid. "A responsabilidade é de quem faz a gestão e de quem utiliza [o transporte]", acrescenta.
Fonte: R7
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