Morreu, neste sábado (28/1), a ativista Vanuzia Leite Lopes, conhecida como Vana Lopes. Trata-se da primeira vítima a denunciar Roger Abdelmassih, então famoso médico especialista em reprodução humana. Ela tinha 62 anos e enfrentava um câncer de mama em estágio avançado.
A informação foi confirmada por Maria do Carmo Santos, presidente do grupo Vítimas Unidas, iniciativa fundada por Vana Lopes junto a outras vítimas do médico, após a repercussão do caso em 2008. A líder do grupo publicou uma nota na página do Facebook da colega.
“Ela, que tanto fez por centenas de vítimas de crimes hediondos no Brasil, descobriu um câncer de mama há quatro anos e enfrentava bravamente esta doença terrível. Em toda sua trajetória, Vana lutou para punir seu abusador, o ex-médico Roger Abdelmassih, e trabalhou para que outros criminosos hediondos também fossem condenados por seus atos”, disse Maria do Carmo.
Ela também destacou a luta de Vana pelo projeto de Lei do Estatuto da Vítima (PL 3890/20). Ela considera que o projeto pode “humanizar, educar e evitar a revitimização” de pessoas vulneradas em seus direitos.
Vana deixa o marido, uma filha, uma neta e uma bisneta. Os detalhes sobre o velório e enterro serão divulgados posteriormente.
O crime contra Vana Lopes ocorreu nos anos 90. A história da ativista resultou em um livro chamado Bem-vindo ao Inferno, publicado em 2015. No relato, ela aponta a existência de diversas irregularidades, como o ‘sumiço’ de um Boletim de Ocorrência dentro de uma delegacia.
Vana Lopes também atuou como articuladora das vítimas, reunindo diversos relatos e documentos que ajudaram as autoridades a elucidar o caso. Ao todo, foram identificados 48 estupros e 37 mulheres como vítimas.
Após relatos de Vana Lopes, Abdelmassih foi preso em 2014
O ex-médico chegou a ser preso entre agosto e dezembro de 2009, mas obteve no Supremo Tribunal Federal (STF) o direito de responder o processo em liberdade. Foi condenado em 2010 pela Justiça à pena de 278 anos de reclusão pela prática de dezenas de crimes contra a dignidade sexual.
A pena foi reduzida a 181 anos, 11 meses e 12 dias de prisão. “A felicidade maior de mantê-lo na cadeia ameniza a dor da redução da pena”, disse Vana Lopes, na ocasião.
Roger Abdelmassih, porém, foi preso em 2014. Na ocasião, ele estava em Assunção, no Paraguai. Em maio de 2021, o ex-médico, aos 78 anos, conseguiu o direito à prisão domiciliar. A decisão, porém, foi revogada pela Justiça de São Paulo. Ele está preso em Tremembé, no interior paulista.
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