Circula nas rodas de conversa de alagoanos a ideia de que ser infectado com a variante ômicron aumentaria a proteção contra cepas mais graves da Covid-19, entre pessoas vacinadas. A informação é falsa. Além de não haver comprovação científica para isso, os especialistas reforçam que a vacina e o uso de máscara permanecem sendo os melhores meios de proteção.
A ideia parte de informações que são compartilhadas nas redes sociais e interpretadas de forma equivocada. “A ômicron é leve, então é bom pegar logo para ficar mais protegido e se livrar da pandemia”, alega quem já tomou a vacina e defende a ideia de não usar mais a máscara para se infectar propositalmente.
O pensamento está equivocado e é enganoso. O infectologista Fernando Maia lembra que não há evidência científica de que ser infectado pela variante ômicron depois de vacinado seja uma garantia de maior proteção.
“Existem estudos mostrando que quem já teve Covid-19 e depois toma a vacina, faz com que o imunizante tenha um efeito muito maior. A França, inclusive, chegou a recomendar apenas uma dose para quem foi infectado, mas depois voltou atrás porque viu que não era suficiente. Não há evidência que o contrário, primeiro vacina e depois infecção, daria uma superproteção”, explica o médico.
Um estudo da Universidade Oregon health & Science, nos EUA, publicado na revista Science Immunology, avaliou que a combinação da vacinação e infecção natural é capaz de criar uma "superimunidade" contra Covid-19. No entanto, a pesquisa analisou a resposta imunológica de apenas 104 pessoas e foi realizada antes do surgimento da variante ômicron.
“A maioria dos estudos disponíveis é feita em laboratório. Eles apontam um sentido, mas não são categóricos. Para responder essas questões, é preciso realizar estudos de mundo real, que não são simples de serem feitos. Mas são eles que vão comprovar se, na prática, esse aumento da resposta imunológica se traduz em menos infecções, por exemplo. Ainda tem muita coisa sem resposta, mas é uma construção de conhecimento”, afirma o infectologista Renato Kfouri, diretor da Sociedade Brasileira de Imunizações (SBIm).
O médico cientista Drauzio Varella alerta que não faz sentido e que é um risco querer ser contaminado com a ideia de que se livrará da pandemia. Entre os dez motivos para não pegar a variante ômicron listados no site, ele afirma que apesar da ômicron ser associada a formas menos graves da Covid-19, não é possível prever a evolução em cada caso.
“Mesmo sem internação, não existe garantia de que será uma tarde no parque. Exposta à variante Ômicron, a pessoa poderá transmiti-la, ainda que esteja assintomática, e se tornará um perigo ambulante para os que tiverem sistema imunológico frágil. Além disso, não há segurança de que, ao se expor, você será infectado pela ômicron, poderá ser uma variante mais agressiva, como a Delta que continua por aqui. E quanto maior o número de infectados, maior a probabilidade de surgirem novas variantes”, alerta o médico. Inclusive, nesta segunda-feira (7), um caso da subvariante BA.2 da ômicron foi confirmado em São Paulo.
O Brasil vive um novo aumento de mortes por Covid-19. Foram 431 óbitos registrados entre domingo (6) e segunda-feira (7). São 20 dias seguidos com tendência de alta e, entre os estados, apenas o Amapá registra instabilidade. As internações também voltam a subir. Em Alagoas, dos 530 leitos criados para atender os casos graves de Covid-19 e de Síndrome Respiratória Aguda Grave (SRAG), 324 estavam ocupados nesta segunda-feira (7), ou seja 61%, e a maioria são pacientes que não foram vacinados.
É por causa desta situação que o infectologista Fernando Maia ressalta o perigo de alguém descartar a máscara e pegar a Covid-19 por querer uma maior imunidade. “Nunca existiu essa recomendação”, dispara. A atitude coloca em risco a própria vida e as dos demais. O médico reafirma que os cuidados básicos de prevenção devem continuar, principalmente tomar a vacina e usar máscara, o que evita novos casos, o aumento de internações e consequentemente até morte.
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