Após 35 dias de angústia, o grupo de 32 brasileiros que aguardavam a liberação para cruzarem a fronteira entre a Faixa de Gaza e o Egito, finalmente, vai pegar o avião no Cairo para retornar ao Brasil. Eles embarcam, hoje, ao meio-dia no horário local, chegando aqui por volta da meia-noite (horário de Brasília).
O ministro das Relações Exteriores, Mauro Vieira, informou que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva deve recebê-los. À tarde, o chanceler se reúne com Lula para acertarem a programação.
Ontem, depois de celebrar o fim da Operação Voltando em Paz, Vieira anunciou aos jornalistas que o governo brasileiro intensificará os esforços junto ao Conselho de Segurança das Nações Unidas na busca de soluções para o confronto no Oriente Médio.
"A situação desses brasileiros está momentaneamente resolvida, mas a situação do conflito é gravíssima. O presidente Lula continua muito envolvido na solução da questão. Sua intenção é voltar a tratar disso no Conselho de Segurança das Nações Unidas a partir desta semana, para que se possa encontrar uma forma de suspensão dessas hostilidades e a criação de uma pausa humanitária que possa levar ao alívio da população civil palestina em Gaza", afirmou o chanceler.
O Brasil assumiu a Presidência rotativa do Conselho de Segurança da Organização das Nações Unidas (ONU) em outubro, coincidindo com o primeiro ataque do grupo extremista Hamas a Israel, ao que o primeiro-ministro Benjamin Netanyahu reagiu com bombardeios, cujo fim parece distante.
"O presidente Lula tem falado constantemente com muitos chefes de Estado, com o secretário-geral da ONU, enfim, todos os atores importantes envolvidos", disse Mauro Vieira. Segundo os dados do Itamaraty, desde o início da crise, Lula manteve diálogos por telefone com autoridades dos Emirados Árabes Unidos, de Israel, da Palestina, do Egito, da França, da Rússia, da Turquia, do Irã, do Catar, do Conselho Europeu, da Espanha e da Índia.
POLITIZAÇÃO
Apesar da gravidade da situação, o processo de repatriação do grupo de brasileiros virou pecuinha política após um encontro, na quarta-feira passada, entre o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) e o embaixador de Israel no Brasil, Daniel Zonshine. Enquanto bolsonaristas passaram a dizer que foi graças à intercessão do ex-presidente que a autoridade na Faixa de Gaza liberou a passagem de brasileiros, os petistas pediram a expulsão do embaixador do Brasil.
"Todos os esforços pela libertação dos brasileiros, todos, desde o início, foram feitos pelo governo do presidente Lula, por instrução dele e acompanhamento diário", disse Vieira. Ele contou que foi o interlocutor com as autoridades dos países envolvidos. "Foi isso que resultou na conclusão exitosa entre todos os países envolvidos. Isso é o que eu posso dizer. Isso é o que existe. Além disso, é desinformação", afirmou o chanceler, após provocado por jornalistas. Perguntado ainda sobre a atitude do embaixador israelense, Vieira respondeu: "Não conheço". Na sexta-feira, o chanceler já havia sido indagado sobre o incidente e afirmou não tratar com Zonshine. "Falo só com o chefe dele", disse, referindo-se ao ministro das Relações Exteriores de Israel, Eli Cohen.
De acordo com Vieira, o grupo de repatriados terá a assistência que precisarem ao chegar ao Brasil. Segundo o chanceler, os ministérios da Justiça e do Desenvolvimento Social e Combate à Fome vão adotar medidas para facilitar a permanência deles no país. Aqueles que tiverem famílias, serão encaminhados a seus familiares, e os demais receberão outro tipo de assistência.
Na lista original constavam 34 nomes, mas uma mulher e sua filha decidiram, na última hora, permanecer em Gaza. Das 32 pessoas há 22 brasileiros, sete palestinos que possuem Registro Nacional Migratório (RNM) e três palestinos que são familiares próximos. Ao todo, são 17 crianças, nove mulheres e seis homens.
"Na chegada ao Brasil, haverá todo um esquema de recepção e, depois, as famílias poderão ser encaminhadas a familiares que já existam ou outras famílias de origem palestina que possam receber os que chegarão. Mas eles também poderão ficar hospedados em abrigos do governo", contou.
Para os palestinos que acompanham os brasileiros, segundo o ministro, o governo vai facilitar o processo de regularização da permanência no Brasil, como refugiados, providenciando a emissão de identidade, permissão de trabalho e acesso ao Sistema Único de Saúde (SUS).
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