Autoridades palestinas acusaram Israel de disparar e matar dezenas de pessoas que aguardavam em filas na Faixa de Gaza para receber ajuda humanitária nesta quinta-feira. Segundo o Ministério da Saúde do enclave, ao menos 112 pessoas morreram e outras 760 ficaram feridas. Em comunicado, as Forças Armadas de Israel afirmaram que as mortes decorreram de uma confusão durante a entrega de ajuda, com os soldados tendo disparado para o ar e contra as pernas dos residentes que saqueavam os suprimentos humanitários, estimando que atingiram diretamente dez pessoas — não houve especificação se foram mortas ou feridas.
O Ministério das Relações Exteriores da Autoridade Nacional Palestina (ANP) disse que há “dezenas de mortos e centenas de feridos”. Em nota publicada nas redes sociais, o órgão condenou a ação, descrevendo-a como um “massacre hediondo”. Já o Egito classificou o caso como “um ataque desumano israelense” e pontuou que havia “civis palestinos desarmados”. “Nós consideramos atacar cidadãos pacíficos que correm para pegar parte da ajuda um crime vergonhoso e uma flagrante violação do direito internacional”, afirmou em comunicado.
De acordo as conclusões iniciais de uma investigação do Exército israelense, 30 caminhões de ajuda entraram em Gaza pela passagem de Kerem Shalom e, ao chegar ao entrocamento na Cidade de Gaza, "residentes cercaram os caminhões para saquear os suprimentos que eram entregues. Como resultado do empurra-empurra, pisoteamento e atropelamento pelos caminhões, dezenas de palestinos foram mortos e feridos".
Ainda segundo o comunicado, os caminhões continuaram se dirigindo para o norte da Faixa de Gaza e, ao chegar ao bairro de Rimal, surgiram relatos de que indivíduos armados dispararam contra os veículos e os saquearam. Nesse momento, diz o Exército de Israel, algumas pessoas na multidão começaram a se aproximar de uma unidade das Forças Armadas de Israel na área, o que fez os soldados fazerem disparos de alerta para o ar antes de atirar para atingir as pernas daqueles que continuavam avançando em sua direção.
À Reuters, uma fonte israelense afirmou previamente ao comunicado que as tropas de Israel abriram fogo contra “várias pessoas” que cercaram o comboio porque se sentiram ameaçadas.
Testemunhas relataram à AFP que viram milhares de pessoas correndo na direção dos caminhões de ajuda humanitária que se aproximavam. Uma pessoa afirmou que os veículos com as doações chegaram “muito perto de alguns tanques do Exército israelense que estavam na área, e milhares de pessoas simplesmente avançaram sobre os caminhões”. Nesse momento, afirmou, “os soldados dispararam contra a multidão”. O Escritório das Nações Unidas para a Coordenação de Assuntos Humanitários (OCHA) disse que estava “a par dos relatórios”.
Negociações sobre cessar-fogo
O grupo terrorista Hamas afirmou que o episódio poderia levar ao fracasso das negociações sobre um novo cessar-fogo temporário para a região. Uma nova proposta tem sido debatida entre as autoridades israelenses, cataris, americanas e egípcias. Segundo o acordo, o Hamas deve libertar 40 reféns, incluindo mulheres, crianças e jovens menores de 19 anos, além de pessoas com mais de 50 anos e doentes. Já Israel libertaria cerca de 400 prisioneiros palestinos e não os prenderia mais. A proposta ainda permitiria que hospitais e padarias em Gaza fossem reparados e que 500 caminhões de ajuda humanitária entrassem no enclave por dia.
“As negociações conduzidas pela liderança do movimento não são um processo aberto à custa do sangue do nosso povo”, disse o grupo em referência às mortes desta quinta-feira, afirmando que Israel seria o responsável por qualquer fracasso nas tratativas.
Após quase cinco meses de guerra entre Israel e Hamas, as Nações Unidas estimam que 2,2 milhões de pessoas, a grande maioria da população, estejam ameaçadas pela fome em Gaza, especialmente no norte, onde destruição, combates e saques tornam quase impossível o transporte de ajuda humanitária. Também nesta quinta-feira, o Ministério da Saúde de Gaza anunciou que mais de 30 mil pessoas morreram como consequência das operações israelenses no enclave desde o início da guerra, em 7 de outubro.
Segundo a Agência das Nações Unidas para os Refugiados Palestinos (UNRWA, na sigla em inglês), quase 2,3 mil caminhões de ajuda entraram na Faixa de Gaza em fevereiro, com uma média de 82 veículos por dia. O número é 50% menor que em janeiro, e, antes do conflito atual, quando as necessidades da população eram menos urgentes, cerca de 500 caminhões com doações entravam no enclave todos os dias.
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