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08/10/2022 11:31
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Forte explosão danifica ponte na Crimeia e corta rota de suprimentos russa

Rússia identificou motorista do caminhão-bomba que supostamente causou detonação
A explosão derrubou duas das quatro pistas rodoviárias da Ponte do Estreito de Kerch, que liga a Crimeia à Rússia / Foto: AFP
Redação com O Globo

 Uma explosão neste sábado derrubou parcialmente a ponte que liga a Península da Crimeia ao território continental da Rússia e paralisou o tráfego entre os dois lados, deixando três mortos. Sem acusar diretamente a Ucrânia, a Rússia afirmou já ter ter identificado o motorista do caminhão-bomba que supostamente causou a detonação, e o porta-voz do Kremlin disse que o presidente russo, Vladimir Putin, ordenou a criação de uma comissão para esclarecer os fatos.

Com 19,2 quilômetros de extensão, a Ponte do Estreito de Kerch é vital para o envio de suprimentos russos para a guerra na Ucrânia. A extensão total dos danos ainda não é conhecida.
"De acordo com dados preliminares, três pessoas morreram, provavelmente passageiros de um veículo que estava perto do caminhão quando explodiu", disse o Comitê de Investigação da Rússia em comunicado. "Os corpos de duas vítimas, um homem e uma mulher, já foram retirados da água."

O órgão, responsável pelas principais investigações criminais na Rússia, também disse ter identificado o caminhão-bomba e seu proprietário, suspeito de estar por trás da explosão. Ele seria morador da região de Krasnodar, no Sul da Rússia. "Foi aberta uma investigação em seu local de residência. A rota do caminhão e os documentos relevantes estão sendo estudados", acrescentaram os investigadores.

Segundo o Comitê Nacional Antiterrorismo de Moscou, a explosão incendiou sete tanques de combustível que estavam sendo puxados por locomotivas e derrubou duas das quatro pistas para carros da gigantesca estrutura rodoviária e ferroviária, inaugurada por Putin pessoalmente em 2018. Segundo o Comitê, o arco da ponte, sobre o Estreito de Kerch, não foi afetado.

Sem citar diretamente a Rússia, Mykhailo Podolak, chefe de gabinete do presidente ucraniano, publicou uma imagem do local em chamas após o incidente e chamou de “o começo”. Vários funcionários ucranianos fizeram comentários irônicos sobre a explosão. “Crimeia, a ponte, o começo. Tudo o que é ilegal deve ser destruído, tudo que é roubado deve ser devolvido à Ucrânia, tudo o que é ocupado pela Rússia deve ser expulso”, escreveu Podolyak no Twitter.

O Serviço de Segurança da Ucrânia (SBU, na sigla em ucraniano) divulgou uma mensagem no Twitter parafraseando versos do poeta Taras Shevchenko. “Amanhece, a ponte está queimando lindamente. Um rouxinol na Crimeia encontra o SBU", diz a mensagem.

Desde o início da guerra, no final de fevereiro, várias ações de sabotagem na Crimeia foram atribuídas à Ucrânia, incluindo uma explosão numa base aérea russa que teria matado 60 pessoas, no início de agosto.

O Ministério do Exterior da Rússia disse que a reação da Ucrânia à explosão evidencia a "natureza terrorista" de Kiev. "A reação do regime à destruição da infraestrutura civil mostra sua natureza terrorista", afirmou no Telegram a porta-voz do ministério, Maria Zajarova.

O chefe da Assembleia da Crimeia, o parlamento regional instalado pela Rússia na região, por sua vez, foi rápido em denunciar o que aconteceu como um golpe de "vândalos ucranianos". Sergei Aksyonov também pediu aos moradores da Crimeia que permanecessem "calmos", e tentou acabar com temores de escassez de alimentos e combustível.

A Península da Crimeia, sede da Frota do Mar Negro russa, foi cedida à Ucrânia nos anos 1950, no período soviético, e anexada à Rússia por Putin em 2014, depois da queda de um governo pró-Moscou em Kiev. Putin inaugurou a Ponte do Estreito de Kerch em 2018, quatro anos depois. A ponte é essencial para o transporte de pessoas e mercadorias, e agora também para abastecer as tropas russas enviadas à Ucrânia.

A Rússia ainda controla estradas que ligam seu território ao Sul da Ucrânia, sem passar pela Crimeia, mas elas estão mais vulneráveis à artilharia ucraniana.

Imagens publicadas nas redes sociais neste sábado mostram a ponte consumida por chamas e com as duas pistas derrubadas. O incêndio obrigou todo o tráfego a parar. Balsas foram habilitadas para facilitar a travessia, segundo agências russas.

No Leste da Ucrânia, uma série de explosões também abalou a cidade de Kharkiv, tomada por Moscou no início da guerra e alvo de uma contraofensiva ucraniana. De acordo com o prefeito de Kharkiv, Ihor Terekhov, mísseis caíram no centro da cidade provocando incêndios em um centro médico e em um prédio não residencial. Ainda não há informações sobre feridos.

Nos últimos dias, a Ucrânia vem tentando reconquistar território na região de Kharkiv, mas também no Sul, perto de Kherson, capital da província homônima e sob controle russo. Se Kiev estiver por trás da explosão na Crimeia, seria um sério revés para Moscou, pois é uma infraestrutura crítica e está longe da linha de frente.

Desde o início de setembro, a Rússia vem acumulando derrotas militares na Ucrânia, embora mantenha o controle de cerca de 15% do território do país vizinho, equivalentes a cerca de 120 mil km². Na sexta-feira, o presidente ucraniano, Volodymyr Zelensky, anunciou que seu Exército reconquistou quase 2.500 km² de território ocupado pelas forças russas. Em meados de setembro, Zelensky já havia anunciado que suas tropas haviam recapturado 6 mil km² de forças russas.

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