Criminosos envolvidos no desaparecimento da advogada Anic de Almeida Peixoto Herdy, de 55 anos, enviaram cerca de R$ 3 milhões para o Paraguai para esconder os valores extorquidos da família dela e despistar a polícia. A informação foi confirmada à CBN pela delegada responsável pelo caso, Cristiana Onorato Miguel.
Anic desapareceu no dia 29 de fevereiro deste ano. Bandidos que teriam sequestrado a mulher chegaram a cobrar da família R$ 4,6 milhões pelo resgate. O valor foi pago, mas a vítima não foi entregue.
Carro de luxo, moto e eletrônicos e abertura de loja
A possibilidade de os bandidos ainda terem acesso ao dinheiro é o que dificulta que eles confessem o crime, segundo os investigadores. Segundo a delegada, além dos R$ 3 milhões enviados ao Paraguai, R$ 950 mil foram gastos na compra de eletrônicos para uma loja da família dos suspeitos. Outros mais de R$ 500 mil, em um carro de luxo e uma moto.
Quatro pessoas suspeitas de envolvimento no sumiço foram presas pela Polícia Civil. Uma delas é Lourival Correa Netto Fatiga, técnico de informática e amigo da família de Anic há cerca de três anos. Ele tinha acesso à rotina da casa onde a vítima e o marido moravam, em Teresópolis. Lourival é considerado o mentor do crime pelos investigadores.
É na transação de compra de celulares e eletrônicos que a polícia encontra uma das principais provas materiais para conectar Lourival ao sequestro. A delegada Cristina Onorato Miguel explica que o marido de Anic fez uma transferência para compra de R$ 950 mil em celulares, a pedido dos criminosos. Dois dias depois, Lourival abriu uma loja revendedora da Apple.
“Esse dinheiro já foi mandado para Paraguai, para Foz do Iguaçu. Ele pulverizou esses valores. O que a polícia conseguiu localizar foi a Dodge Ram, comprada com o valor de R$ 500 mil em espécie e uma moto. Ele abriu um estabelecimento comercial em Teresópolis de revenda da Apple, e essa loja foi aberta dois dias depois do pagamento do resgate. E o que a gente sabe é que um dos valores que a vítima, o senhor Benjamin, passou como se tivesse adquirindo os dólares para o pagamento do resgate, foi diretamente para a conta de um revendedor de celulares. Ele comprou R$ 950 mil em celulares para colocar na loja para vender”, destacou a delegada.
Outras provas importantes são a localização de Lourival no dia do sequestro e no dia do pagamento do resgate. Pelo rastreio de antenas de celulares e por imagens de câmeras de segurança, a polícia constatou que o carro de Lourival estava perto do shopping onde Anic foi vista pela última vez. Além disso, o homem não estava onde diz quando supostamente levou o dinheiro aos bandidos.
“A gente monitorou os passos dele com o carro, para ver por onde que ele andava. E no dia do desaparecimento da Anic, ele diz que estava em Teresópolis. Só que analisando as antenas e monitorando o veículo dele, a gente viu que ele foi exatamente para o shopping na hora que a Anic desapareceu, e ela entrou no veículo dele nesse dia. Esse foi o último dia que ela foi vista. Além disso, a o que ele fala é que os sequestradores, conversando com ele por mensagens, determinaram que ele fosse até o Terreirão depositar o dinheiro numa lata de lixo. Só que, pelas antenas, neste dia, nesta hora que ele alega que estava pagando o resgate, ele estava exatamente numa concessionária, na Barra, comprando veículos, que já estavam sendo negociados desde janeiro”, explica.
A principal suspeita da polícia, neste momento, é de que Anic tenha sido assassinada e que o corpo dela foi escondido pelo grupo criminoso. A defesa da família, no entanto, afirma que os parentes mantêm viva a esperança de encontrar a mulher com vida.
Para a delegada Cristiana Onorato Miguel, o crime já está elucidado, com a responsabilização das pessoas que já foram presas. As únicas dúvidas, neste momento, são as localizações de Anic e do dinheiro pago pela família aos sequestradores.
Lourival e outras três pessoas estão presas preventivamente.
O que diz a defesa de Lourival Correa Netto Fatiga
O advogado Paulo Vinícius Tostes, que patrocina a defesa de Lourival Correa Netto Fatiga, esclarece que ainda não foi formalmente notificado da acusação contra seu cliente em processo que tramita sob segredo de Justiça.
A defesa esclarece que estará tomando conhecimento e analisará todos os elementos de acusação e se houve cumprimento às formalidades legais, e somente se manifestará perante o Judiciário eis que se vê impossibilitada de levantar questões importantes para o deslinde da causa, mas confia no estado democrático de direito e nas instituições para garantirem a lisura e imparcialidade essenciais ao julgamento.
Ademais, afirma que pelo que se acompanhou durante o procedimento investigatório foram fatos meramente especulativos e baseados em meras suposições, além de não terem percorrido todos os caminhos de investigações necessários à real elucidação do caso.
A defesa acredita que irá comprovar durante a instrução criminal que a acusação se deu de forma açodada e que os verdadeiros eventos não foram apurados, crendo na improcedência dos fatos atribuídos a seu cliente.
A CBN não conseguiu contato com os outros suspeitos e aguarda retorno para posicionamento.
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