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03/05/2024 14:07
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Ucraniana de 98 anos caminha 10 km para escapar de invasão russa a sua cidade

Lidiia Lominovksa se perdeu dos familiares ainda no início do percurso
Lidiia Lominovska, de 98 anos, que fugiu de sua casa no vilarejo de Ocheretyne, invadido por tropas russas, a pé / Foto: Genya SAVILOV / AFP
Redação com O Globo

Com uma bengala improvisada e chinelos, Lidiia Lominovksa, de 98 anos, caminhou sozinha por 10 km para fugir das tropas russas que avançaram contra e tomaram sua cidade natal, Ocheretyne, no leste da Ucrânia, antes de ser resgatada por policiais ucranianos. A região, que tinha cerca de 3 mil habitantes antes da guerra, fica cerca de 12 km ao norte de Avdiivka — epicentro dos combates mais ferozes do conflito — e foi intensamente bombardeada nos últimos dias.

 

— Caminhei e caminhei... sofri muito — lembrou a idosa, que se perdeu dos seus familiares ainda no início do caminho devido aos ataques. — Apenas Deus sabe quem bombardeou. Não vi ninguém, apenas escutei que algo havia sido disparado. Não sei onde foi, nem quem foi.

Sem os familiares, Lominovksa seguiu então para o oeste, avançando por uma pequena estrada que levava a Pokrovsk, a 30km de sua cidade natal. Para dar firmeza ao seu caminhar, um pedaço de madeira foi utilizado como bengala, e algumas pausas foram feitas ao longo do percurso.

— Uma vez perdi o equilíbrio e caí na grama. Dormi e depois continuei andando — contou à rede BBC.

Foram horas caminhando sob o som de disparos.

— Caminhava e não havia ninguém. Apenas ouvi disparos. Pensei que iriam me acertar enquanto arrastava os pés — desabafou.

No caminho, cruzou com uma cidade quase em ruínas, e pôde ver corpos de soldados abandonados no chão, embora "ao menos estivesse coberto". A Rússia vem avançando para o oeste na região de Donetsk desde a captura, em fevereiro, de Avdiivka. Nos últimos dias, os combates se intensificaram na vizinha Ocheretyne, parte da qual está supostamente sob controle russo. Moscou também capturou outros vilarejos na região.

— Quase tudo estava em chamas. Hoje, ouvi dizer que [os russos] controlam a metade [da cidade]. Não sei o que acontece. A incendiaram. Queimaram muitas casas — contou.

 

'Não vou repetir isso'

Após um tempo, Lominovksa encontrou dois soldados ucranianos em um veículo, que a ajudaram. Os militares perguntaram sua idade e para onde estava indo, no que a idosa prontamente respondeu:

— Tão longe quanto puder, logo cairei no pasto e passarei a noite lá — disse, lembrando que os militares ofereceram dois sanduíches, embora restasse poucas forças até mesmo para comer. 

Os soldados então chamaram alguns policiais. Eles a levaram a Pokrovsk, onde descansou um pouco antes de se reunir com sua neta Svitlana, que celebrou o reencontro com a avó. Lominovksa prometeu:

 

— Não vou repetir isso — disse, sob anuência da neta.

Avanço russo

Segundo Pavlo Diachenko, porta-voz do corpo armado na região, a senhora "percorreu uma distância de cerca de 10 quilômetros". Ainda de acordo com Diachenko, Ocheretyne está destruída e a idosa foi uma das últimas pessoas a deixar a cidade.

— Ainda há algumas pessoas, mas não sabemos quantas, nem se estão vivas ou mortas — explicou.

O Exército ucraniano, que fracassou em sua grande contraofensiva lançada no verão passado, enfrenta o incessante impulso russo desde a tomada de Avdiivka em fevereiro — uma das principais vitórias simbólicas de Moscou. Na quinta-feira, outra localidade no leste, a região de Berdichi, foi reivindicada pela Rússia.

 

O comandante-chefe das forças armadas ucranianas, Oleksandr Syrsky, reconheceu no domingo que a situação no front "piorou" e que as tropas russas, superiores em soldados e munições, registraram "avanços táticos" em diversas regiões.

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