Correr, jogar futebol, ou brincar com os cachorros são atividades simples, mas que significam muito para o educador físico Jorge Ricardo Queiroz de Andrade, de 57 anos, que vive no bairro Graciliano Ramos, em Maceió. Ele foi o primeiro transplantado fígado em território alagoano, após ser vítima de cirrose, em decorrência de uma hepatite. O transplante foi realizado no dia 13 de maio do ano passado, na Santa Casa de Maceió, credenciada pelo Ministério da Saúde (MS) para realizar este tipo de procedimento, conforme a Portaria Federal N°313, expedida em 7 de abril de 2020.
“Comecei a batalha para salvar meu fígado em 2010, fiquei interno no Hospital de Doenças Tropicais (HDT) e, em 2014, me transferiram para o Hospital Universitário (HU). De lá o ano passado não consegui recuperar meu fígado, tomei vários medicamentos e não consegui matar o vírus da Hepatite B. O vírus destruiu meu fígado, adquiri uma ascite bem grave, ascite refratária, que deixou minha barriga cheia de água e daí não tinha mais como manter o fígado”, relembrou.
Em 2019, Jorge Andrade precisou ficar longe da família para entrar na fila do transplante no Estado de Pernambuco, pois Alagoas não realizava transplante de fígado. “Fui transferido para cidade de Recife, onde entrei para fila de transplante da cidade, mas não chegou nenhum fígado compatível, pois os que chegaram estavam com Covid-19. Por isso, um tempo depois, me transferiram para a lista de espera de João Pessoa, na Paraíba, mas também não chegou o fígado. Em 2020, ligaram para mim avisando que aqui em Maceió iria começar a fazer transplante e quando foi em janeiro de 2021 me transferiram para cá. Fui a primeira pessoa na lista de espera de Alagoas e cinco meses depois tive uma doadora.”, contou.
Emocionado, ele destaca que ainda está aprendendo a conviver com o novo órgão e continua fazendo acompanhamento médico. Segundo ele, os planos para o futuro é voltar a ter uma vida ativa nos esportes e poder correr na praia como antes da doença. “Estou vivendo um dia de cada vez. Conhecendo aos poucos meu novo fígado, sei que ainda preciso ficar 100% para voltar a correr, jogar futebol e dar aula na área de esporte no geral. Mas, para honra e glória de Deus, que colocou a mão no doutor Oscar e, em todo pessoal que participou do transplante, hoje, eu estou aqui, estou novo, com o fígado novo! Estou cuidando muito bem dele, estou renovando a saúde, para voltar a correr na praia, pois, por enquanto, estou só caminhando, mas minha vida está normal”, ressaltou Jorge Andrade.
O procedimento cirúrgico foi coordenado pelo médico Oscar Ferro, que atuou com os médicos Aldo Barros, Claudemiro Neto, Flávio Falcão, Danilo Amaral, Felipe Augusto Porto, Leonardo Wanderley e Cira Queiroz, além da equipe da Unidade de Terapia Intensiva (UTI) e de Enfermagem. O paciente recebeu o órgão de uma enfermeira que tinha 43 anos e foi vítima de um Acidente Vascular Cerebral Hemorrágico (AVCH).
Credenciamento – A cirurgia obtida por Jorge Andrade ocorreu depois que um trabalho árduo, onde técnicos da Central de Transplantes, órgão vinculado à Secretaria de Estado da Saúde (Sesau), conseguiram credenciar Alagoas para realizar transplantes de fígado. Daniela Ramos, coordenadora da Central de Transplantes de Alagoas, relembrou a realização do primeiro transplante de fígado e garante que o ato foi um marco para o Estado.
“Foi um ganho muito grande no Estado de Alagoas, uma união de esforços, pois agora temos uma equipe capacitada para fazer o transplante pelo Sistema Único de Saúde (SUS) no Estado. Antes da equipe médica de transplante de fígado ser credenciada, os pacientes precisavam ir a outro Estado, geralmente para Pernambuco, porque é próximo a Alagoas, para serem atendidos pelos médicos e serem escritos na lista de espera da cidade. E quando acontecia a doação, eles já tinham que está lá ou ir às pressas, porque o fígado é um órgão que tem pouco tempo de isquemia fora do corpo”, destacou.
Ainda de acordo com a coordenadora, para acontecer o credenciamento de Alagoas para transplantar fígado, o Ministério da Saúde exigiu uma lista de todos que fazem parte da equipe de transplante e também do hospital que iria ser credenciado para realização do procedimento. “A Central de Transplante solicitou da equipe médica e do hospital todos os documentos que comprovem a experiência no procedimento. Consolidamos tudo, fizemos uma declaração que estamos aceitando essa equipe e enviamos para CIB [Comissão Intergestores Bipartite] para que avaliasse se há necessidade desse transplante no Estado. Com o aval da CIB, nós encaminhamos toda essa documentação para o Ministério da Saúde (MS) que, após a avaliação, autorizou por meio de portaria que o Estado tivesse uma equipe e um hospital credenciado para realizar o transplante”, pontuou.
Critérios para Doação – Atualmente, para ser doador, não é necessário deixar nenhum documento por escrito. Mas Daniela Ramos ressalta a importância da conscientização das famílias sobre a vontade do doador de órgãos. “Importante que as famílias se conscientizem em relação a se declarar doadoras de órgãos, porque hoje a legislação brasileira só é válida, na verdade, se a família autorizar no momento da morte encefálica. Então, não adianta deixar nada escrito, porque somente com a autorização da família é que pode ser realizada a doação”, explicou.
Dados – A doação de órgãos pode salvar muitas vidas. De acordo com dados da Central de Transplante de Alagoas, atualmente, há seis pessoas na fila de espera aguardando por um transplante de fígado, 380 por um de córnea, 67 por um de rim e três por um de coração. Do ano de 2021 a abril deste ano, foram feitos seis transplantes de fígado, 82 de córnea e dois de rim.
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