Morreu na madrugada desta segunda-feira (17), no Rio de Janeiro, o pianista, acordeonista, arranjador, cantor e compositor João Donato. A informação foi confirmada pela família do músico.
“Hoje o céu dos compositores amanheceu mais feliz: João Donato foi para lá tocar suas lindas melodias”, anunciaram as redes sociais dele. “Agora, sua alegria e seus acordes permanecem eternos por todo o universo.”
O velório será nesta terça-feira (18) no Theatro Municipal, em horário a confirmar. O corpo será cremado na sequência no Memorial do Carmo.
O multi-instrumentista morreu em decorrência de uma série de problemas de saúde. Recentemente, ele teve uma infecção nos pulmões e foi internado com pneumonia na Casa de Saúde São José. Estava intubado desde a semana retrasada.
João Donato tinha 74 anos de carreira, marcada pela criatividade e pelas misturas de vários gêneros musicais. Ele não parou de trabalhar nem durante a pandemia da Covid-19, quando participou do lançamento digital do álbum “Jazz is Dead”, em parceria com músicos de Los Angeles.
Do Acre para o mundo
João Donato de Oliveira Neto nasceu em 1934 em Rio Branco, no Acre. A família é marcada pela aptidão artística: a irmã mais velha, Eneyda, estudava piano. Já o irmão caçula, Lysias Ênio, tinha paixão pela poesia e veio a compor as letras de composições do artista.
A inovação pôde ser vista desde cedo. Na infância, ele costumava brincar de música com flautinhas de bambu e panelas. Depois, recebeu de presente um acordeom de oito baixos e, mais tarde, um instrumento maior.
Em 1945, mudou-se para o Rio de Janeiro com a família. Na cidade, começou a tocar em festas do colégio onde estudava. Em uma delas, conheceu o grupo Namorados da Lua e fez amizade com Lúcio Alves, Nanai e Chicão.
Quatro anos depois, já atuava em jam-sessions realizadas na casa de Dick Farney e no Sinatra-Farney Fan Club, do qual era membro.
Iniciou sua carreira profissional em 1949, como integrante do grupo Altamiro Carrilho e Seu Regional. Dois anos depois, começou a estudar piano.
Em 1953, formou seu próprio grupo, Donato e Seu Conjunto, e fez parte do grupo Os Namorados. No ano seguinte, formou o Trio Donato.
Em 1956, mudou-se para São Paulo, onde atuou como pianista do conjunto Os Copacabanas e na Orquestra de Luís Cesar e gravou o primeiro LP: “Chá dançante”, produzido por Tom Jobim.
Em 1958, voltou para o Rio de Janeiro e passou a dedicar-se ao piano. Em 1959, viajou para o México com Nanai e Elizeth Cardoso. Em seguida, transferiu-se para os Estados Unidos, onde residiu durante três anos. Nesse país, atuou com Carl Tjader, Johnny Martinez, Tito Puente e Mongo Santa Maria. Donato também excursionou com João Gilberto pela Europa. Em 1962, voltou para o Brasil, casado com a atriz norte-americana Patricia del Sasser.
Em 1963, retornou aos Estados Unidos, onde viveu por mais dez anos.
Parcerias
João Donato atuou com artistas como Astrud Gilberto, Dorival Caymmi, Tom Jobim, Eumir Deodato, Stan Kenton, Nelson Riddle, Herbie Mann e Wes Montgomery. Suas músicas “Amazonas”, na gravação de Chris Montez, e “A rã” e “Caranguejo”, ambas gravadas por Sérgio Mendes, fizeram muito sucesso.
Como arranjador, destacam-se entre seus trabalhos os CDs “O homem de Aquarius”, de Tom Jobim, e “Minha saudade”, de Lisa Ono, além de discos de Fagner, Gal Costa e Martinho da Vila.
Prêmios
Em 2000, foi contemplado com o Prêmio Shell de Música pelo conjunto da obra e participou do Free Jazz Festival (RJ), obtendo sucesso de público e crítica.
Em 2003, ganhou o Prêmio APCA (Associação Paulista dos Críticos de Arte).
Em 2004, foi contemplado com o Prêmio Tim pelo disco “Emílio Santiago encontra João Donato”.
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