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01/09/2021 10:24
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Racionamento popularizou gerador e apagou as luzes de Natal em 2001

Governo adotou plano que exigia redução de 20% para a maior parte dos consumidores sob risco de corte de energia
Hidrelétricas perderam peso na produção nacional / Foto: DIVULGAÇÃO/CTGBR

 Há 20 anos, a falta de chuvas no país e um sistema ainda mais dependente das hidrelétricas do que o atual levou o governo do presidente Fernando Henrique Cardoso (PSDB) a adotar medidas radicais para reduzir o consumo de energia.

Foram nove meses de racionamento, de maio de 2001 a fevereiro de 2002, que fizeram aumentar a venda de geradores de energia individuais em até dez vezes, segundo reportagens da época, e deixaram cidades de todo o país às escuras, com o corte de um terço da iluminação pública.

As pessoas compravam geradores com receio de ocorrerem novos apagões, como o de 1999, que deixou dez estados do país sem energia por algumas horas, recorda o economista e professor de direito ambiental Alessandro Azzoni. "Eu fui um deles", conta.

Um dos efeitos dos cortes na prática foi que nos últimos meses de 2001 não se viram luzes de Natal em praças e ruas dos municípios do país, muito menos na decoração de casas, lojas e shopping centers. Todos tinham que economizar, das casas aos serviços, das lojas às indústrias.

Azzoni explica que no racionamento imposto no fim do governo FHC os consumidores se viram obrigados, sob pena de cortes no fornecimento de energia, a gastar 20% menos do que vinham consumindo.

Pela regra estabecida pelo governo federal, quem consumia, pela média de meses anteriores, até 100 quilowatts/hora (um terço dos lares) não era obrigado a economizar, mas também não podia gastar mais. Para os que estavam na faixa entre 101 kw/h e 200 kwh, a redução era obrigatória e quem não a atingisse ficava sem luz por três dias na primeira infração, e seis dias se houvesse reincidência.

Os consumidores que gastavam mais de 200 kw/h por mês também tinham que reduzir em 20% o uso e ainda pagavam 50% a mais na conta em toda a energia que passasse dessa marca. Quem superava 500 kw/h tinha a sobretaxa de 200%.

Toda atividade que utilizava aparelhos elétricos e iluminação foi repensada, lembra o economista. Assim, as mudanças foram bem além da redução nos enfeites de Natal do fim de 2001. Jogos de futebol à noite foram cancelados, assim como shows, festas e exposições que exigiam luz artificial.

Pelo decreto de 15 de maio de 2001, o governo federal estabeleceu ainda que os órgãos públicos federais não poderiam trabalhar à noite e deveriam reduzir em 15% a 25% o consumo de eletricididade.

Ficavam de fora da regra "serviços essenciais de atendimento médico hospitalar, segurança pública, pesquisa e produção de medicamentos". Instituições de ensino federais também não precisaram economizar, assim como "atividades permanentes de fiscalização e controle, especialmente, as aduaneiras e sanitárias".

"Essa paralisação de eventos e da produção de modo geral é uma lembrança amarga para o país neste momento, afinal é neste momento que tentamos reaquecer as atividades econômicas afetadas pela pandemia de covid-19", comenta Azzoni.

Cenário melhorou, mas ainda é pouco

O economista diz que nesses 20 anos a situação melhorou e temos menos chance de um novo racionamento mesmo se as chuvas não encherem os reservatórios.

"Em 2001, a nossa dependência das hidrelétricas era muito alta: 85,6% de tudo o que gerávamos vinha delas. Quando ocorreu o desabastecimento naquele ano, o país passou a estimular o uso das usinas térmicas e de outras fontes, como biomassa, nuclear, solar e eólica."

Hoje, 65,2% da eletricidade nacional vêm das hidrelétricas, diz Azzoni. Ele lembra também que as lâmpadas LED e aparelhos mais modernos gastam menos energia e essa substituição foi benéfica para o país.

"Estamos longe de um cenário ideal, precisamos estimular novas fontes e enfatizar a necessidade de mudanças de comportamento da sociedade, mas as condições de hoje são certamente melhores do que as de 2001."

O especialista faz ainda um alerta. "Não podemos pensar nessas crises sem falar em preservação dos recursos hídricos. É indiscutível que cuidar do meio ambiente evita problemas como este que estamos enfrentando hoje. Isso se faz com políticas públicas, mas também cabe à população fazer sua parte. Os brasileiros usam a energia de forma muito inconsequente, mantêm aparelhos antigos e dispendiosos e deixam luzes acesas sem necessidade."

O ministro das Minas e Energia, Bento Albuquerque, tem dito reiteradamente que tudo está sendo feito para evitar um racionamento como o que ocorreu há 20 anos, mas reforça o apelo à população.

"É fundamental que, além dos setores do comércio, de serviços e da indústria, a sociedade brasileira participe desse esforço, evitando desperdícios no consumo. Com isso, conseguiremos minimizar os impactos no dia a dia da população. O uso consciente e responsável de água e energia reduzirá consideravelmente a pressão sobre o sistema elétrico, diminuindo também o custo da energia gerada", disse Albuquerque.

Fonte: R7

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